Correio de Carajás

Queimadas e negócios

As operações militares em várias regiões da Amazônia – como as que ocorrem em São Félix do Xingu, Altamira e Novo Progresso, onde se concentram focos de incêndio e desmatamento – desencadearam troca de acusações entre produtores que defendem a política de enfrentamento e os que condenam tais práticas. Para esses últimos, negócios como venda de gado e soja no mercado internacional sofrerão grandes prejuízos.

Burrice e maldade

Um desses produtores rurais, em conversa com a coluna, chamou de “grande burrice” a ideia de tocar fogo na floresta para mandar recados ao governo Bolsonaro, forçando-o a afrouxar a fiscalização do Ibama e a liberar as atividades garimpeiras, além do desmatamento. Segundo o pecuarista, o resultado disso é que as Forças Armadas estão na região, reprimindo os crimes ambientais. Uma prova, diz ele, de que “o feitiço virou contra o feiticeiro”

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Justo e pecador

O exemplo do que ocorre em Novo Progresso, onde um jornalista, Adécio Piran, está jurado de morte por criticar as queimadas, não conseguiu inibir denúncias de radialistas e jornalistas de outras partes da Amazônia. A imprensa não comprometida com os criminosos tem ajudado, com suas informações públicas, as forças militares a localizar focos de incêndios e áreas griladas utilizadas no desmatamento. É o fato positivo em meio a tantas verdades e muitas mentiras espalhadas pelo mundo sobre a região.

General sem redoma

Perguntado por um repórter do “Estadão” sobre a exploração de áreas indígenas na Amazônia, o general Eduardo Villas Bôas, assessor do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do Palácio do Planalto, foi taxativo: “o pressuposto de que colocar uma redoma nas comunidades indígenas vai proporcionar a preservação da cultura delas não é verdade, porque os índios sentem que lhes é negada a possibilidade de evoluir”.

Política errada

Quando atuou como comandante Militar da Amazônia, Villas Bôas diz nunca ter ido a uma aldeia indígena sem receber dos índios uma lista com pedidos de energia elétrica, internet, posto de saúde, escola e realização de atividades econômicas que lhes dê sustentação. “O problema é que a política indigenista que vinha sendo aplicada incentivava os índios a ingressar em atividades ilícitas para ter uma oportunidade de evolução”, sustenta o general.

Visão de resultado

Mais adiante, reforçando ser favorável à legalização de atividades econômicas em terras indígenas, o general explicou que falta “pragmatismo, uma visão de resultado”. E defendeu que se legalizem o manejo florestal e a atividade mineral e agrícola, proporcionando ao índio oportunidade de sustento e evolução. Falou ainda que há exemplos de aldeias que tiveram sucesso com atividades agrícolas. Sobre as ONGs, disse que os índios ficaram entre os discursos delas e o fato de não conseguirem trabalhar, evoluir e ter suas necessidades atendidas.

Chumbo em Roma

Os bispos ligados à CNBB, por sua vez, estão nos calcanhares do governo Bolsonaro e devem se reunir por estes dias em Roma. Sinal de que virá  chumbo grosso sobre a questão amazônica. O pessoal da Comissão Pastoral da Terra (CPT), por exemplo, talvez ressuscite a defesa da reforma agrária, questão que anda em baixa faz tempo.

__________________________BASTIDORES_________________________

* A situação da reserva Apterewa, há tempos um barril de pólvora no sul paraense, tem tudo para virar notícia na grande mídia nacional, mais uma vez.

* Os índios paracanãs andam cansados dos invasores que ocupam suas terras. A extração ilegal de madeira “já passou dos limites”, segundo um cacique.

* Pequenos produtores e agricultores que vivem há anos na área da reserva alegam ter seus direitos e avisam que reagirão à força a qualquer tentativa de retirá-los do local.

* Compradores de gado e soja da Europa decidiram fazer pressão sobre o Brasil, dizendo que não comprarão produtos oriundos de queimadas e desmatamento na Amazônia.

* Onde estavam esses compradores antes de a Amazônia perder 25% de suas florestas? Não compravam nada, nem madeira?