Correio de Carajás

Sobre a “fraqueza” e as dores

Vivemos num tempo de eventos estranhos.

Aprendemos que o fracasso é proibido. Só a vitória é permitida; perder é para os fracos.

E a fraqueza? Fraqueza não é uma opção para os vencedores.

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Somos ensinados na escola, em casa, na igreja, na rua, a ser fortes.

Demonstrar sentimentos ou mesmo se conectar às dores do outro são fraquezas que podem nos desviar desse caminho.

Quando algum adulto chora, é visto como fraco. Mas será mesmo?

E o que é fraqueza, afinal?

Quem ganha todas?

Chorar e expor as cicatrizes da alma transforma qualquer um em alvo dos que se julgam fortes.

Desde cedo, aprendemos que homem não chora! Pelo visto, nem as mulheres devem também chorar!

A lágrima está interditada, proibida de cair, porque é sinal de fraqueza.

Ser translúcido virou um defeito, quando deveria ser uma qualidade.

A correria do dia a dia; a luta contra os boletos; a pressa por exibir nossa bela vida e amigos nas redes sociais; a vitória diária, estampada no sorriso de selfie… Tudo isso são símbolos de uma sociedade que empurra as dores pra debaixo do tapete.

Ninguém se importa com a dor do outro. As razões do outro são sempre as razões do outro.

Nem mesmo as nossas dores podem mais escorrer livres e salgadas pelo nosso rosto, porque o mundo moderno, capitalista, utilitário, não permite o privilégio de chorar sem ser rotulado de frágil.

Sim, estamos aprisionados no esquematismo da razão instrumental, onde nossos atos, nossos pensamentos e até nossas emoções precisam ter alguma utilidade prática; e nesse caso as lágrimas não servem para nada.

Mas eu proponho uma nova pedagogia, da força que emana de nossa sensibilidade; da capacidade de se deixar mostrar, de se conectar aos nossos próprios sentimentos; de aceitar que as derrotas existem e nem por isso somos fracos.

Nesse caso, as lágrimas podem ser vistas como um código de comunicação; nesse caso, as lágrimas podem servir para revelar nossa humanidade; nesse caso, as lágrimas podem servir pra mostrar que ninguém é perfeito; nesse caso, as lágrimas servem para tudo.