A saga do Terminal de Integração de passageiros pode finalmente ter um desfecho ainda em 2020, uma vez que as obras do local foram assumidas pela Prefeitura de Marabá, através de uma licitação que deve atuar na construção. Mas com mais de dois meses de verão, a estrutura nem começou a ser levantada, enquanto bem ao lado, um imenso supermercado começou as obras físicas há cerca de dois meses e já está bem adiantado.
A previsão da Prefeitura é que até o final de 2020, os usuários possam desfrutar da nova estrutura. Enquanto isso, cidadãos que dependem do transporte público, como Alzirene Reis, estão cansados da precariedade, e a principal reclamação é em relação ao tempo de espera. “Para qualquer lugar que você queira ir, precisa esperar no mínimo 30 minutos para pegar um ônibus. Além disso, no calor que faz aqui em Marabá, eu acho que deveriam colocar ônibus com ar-condicionado e uma frota maior”, queixa-se Alzirene, que esperava um ônibus para o Bairro Novo Horizonte, em um ponto da Marabá Pioneira na última quinta-feira.
Mas esses questionamentos típicos dos usuários, como Alzirene, estão previstos para serem resolvidos pela empresa Integração, que assume o serviço de transporte coletivo em Marabá, que antes era apenas de situação emergencial.
Leia mais:Em uma outra entrevista ao Portal Correio esta semana, o presidente do Conselho Municipal de Transportes de Marabá, Jair Guimarães, explicou que não houve empresas para concorrer com a Integração, que apresentou tarifa de R$ 3,74, com meia-passagem de R$ 1,87. Mas, essa tarifa só será aplicada quando a empresa começar a operar com 25% da frota com ar-condicionado.
No início do verão, as obras de terraplanagem do Terminal – entre a Folha 26 e a Folha 27 – foram concluídas em uma primeira etapa, com uma empresa licitada especificamente para essa operação. Agora, a obra está ‘pausada’, aguardando uma próxima empresa que ficará responsável por erguer o Terminal, no que tange a parte civil.
Segundo o secretário municipal de Viação e Obras Públicas, Fábio Moreira, o processo licitatório está na fase de análise da proposta financeira. “Estamos verificando as propostas das empresas e observando se não há inconformidades com o solicitado no edital. Assim que homologada, a vencedora começará os trabalhos de construção civil do terminal”, explica Fábio.
O secretário da Sevop ainda reforça que o novo Terminal será muito diferente do provisório, construído pela antiga empresa que operava no transporte coletivo de Marabá.
“Esse novo Terminal de Integração está sendo construído pela Prefeitura, e contará com uma estrutura semelhante a de um Terminal Rodoviário, com boxes que servirão para dar assistência ao usuário. A localização dele também foi bem pensada, e verificamos que estando posicionado na Nova Marabá a logística para os ônibus ficará melhor. Até porque o terminal provisório serviu para estudarmos melhor como funcionaria esse sistema”, acrescenta Fábio.
Quando questionado sobre o prazo de entrega, que supõe-se ser em dezembro de 2020, Fábio foi bem claro que tudo depende do cumprimento do cronograma da obra.
“A Prefeitura depende muito da empresa que está licitada para a obra, pois internamente, na Sevop, temos nosso compromisso quanto aos prazos dados. Mas, às vezes nos deparamos com empresas licitadas que têm os seus problemas internos, técnicos e financeiros, que não conseguem sempre cumprir um cronograma. Portanto, estamos sujeitos aos imprevistos, mas tudo ocorrendo dentro dos conformes, podemos ter o novo terminal em dezembro, sim”, prevê Fábio.
SINTRARSUL RECLAMA
Em um contexto onde o processo parece estar andando, há um outro lado cobrando mais agilidade. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Sul e Sudeste do Pará (Sintrarsul), Geraldo Dean, relatou ao Portal Correio que na última sexta-feira (26), estava cobrando da Comissão de Desenvolvimento Urbano, Obras, Serviços Públicos e Transportes, a questão do contrato da empresa Integração.
“Precisamos ter conhecimento sobre como ficará a logística do transporte coletivo no município, principalmente para afinarmos essa questão junto aos trabalhadores que atuam no segmento. Sobre o terminal, nos informaram que estará pronto em dezembro”, disse Geraldo.
E a situação ainda permanece na mesma para os trabalhadores do transporte coletivo, pois segundo Geraldo, eles estão atuando junto à empresa Integração com pagamento de diárias. “Por ter sido chamada em caráter emergencial, a Integração contratou os motoristas e cobradores em esquema de diárias. Esperamos que com a permanência dessa empresa, os funcionários venham a ter suas carteiras assinadas”, espera Geraldo.
No entanto, talvez essa assinatura possa demorar e enquanto isso, diversos motoristas e cobradores ficam sem emprego, uma vez que a frota de ônibus foi reduzida devido à pandemia do novo coronavírus.
Com relação ao Terminal, o presidente da Sintrarsul avalia que “quando se trata de uma obra para atender a população, as coisas são mais demoradas e há muita burocracia”, diz Geraldo. “Eu acho que nossos gestores deveriam arregaçar mais as mangas para poder agilizar esses processos, e tratá-los com mais seriedade, pois é uma obra que vai atender a população. O povo está aguardando por isso há muito tempo, então vejo uma demora muito grande na construção desse terminal”, acrescenta Geraldo.
O QUE VEM POR AÍ?
Uma reunião com a empresa Integração, vencedora da licitação para atuar no transporte coletivo em Marabá, está prevista para acontecer em agosto, onde serão clareados todos os direitos e deveres da atuação dela no município.
Essa reunião será realizada no retorno das atividades legislativas municipais, pela Comissão de Desenvolvimento Urbano, Obras, Serviços Públicos e Transportes da Câmara Municipal de Marabá (CMM), presidida pelo vereador Nonato Dourado, que informou exclusivamente ao Portal Correio.
“Vamos acompanhar por meio dessa reunião o aporte da empresa Integração, de que forma ela prestará os serviços, se cumprirá com as determinações que estão no processo licitatório. Nessa reunião, participarão todos os atores e setores do transporte coletivo da cidade, onde vamos entender como será a atuação dela, e assim fiscalizá-la”, explica Nonato.
ENTENDA
Desde o fim de 2018, o Terminal de Integração era aguardado como uma solução para a logística do transporte coletivo de Marabá, que coleciona reclamações de seus usuários. Em novembro daquele ano, o secretário municipal de Planejamento, Karam El Hajjar, informou ao Portal Correio que as empresas que atuavam em Marabá, procuraram a Prefeitura para propor a construção do terminal, com investimento de R$ 1,2 milhão.
Pois bem, em fevereiro de 2019, o Projeto de Lei nº 44 começou a tramitar pela CMM sob os cuidados da análise da Comissão de Justiça, Legislação e Redação. Ele autorizava o Executivo Municipal a celebrar Termo de Concessão de uso de bem público de uso comum do povo em favor das empresas concessionárias Transportes Coletivos de Anápolis Ltda. (TCA) e Nasson Tur Turismo Ltda. – EPP, responsáveis por operar o transporte público até então.
Após esse episódio, o espaço foi concedido e as obras iniciaram. No dia 26 de maio, foi inaugurado o Terminal de Integração, de maneira provisória, que logo gerou uma série de críticas entre os usuários, que reclamavam principalmente do tempo de espera pelo ônibus, que acabou por aumentar.
Na manhã do dia 27 de maio de 2019, uma repórter do Portal Correio testou a rota para Morada Nova, e aprovou com algumas ressalvas a experiência. Demora de mais de uma hora para pegar um coletivo, ônibus lotado, e o calor devido ao horário (meio dia), estavam entre as vivências na rota relatadas pela repórter.
A história tomou um rumo inesperado quando, no dia 1º de julho de 2019, a Prefeitura de Marabá comunicou que rescindiria o contrato com as empresas TCA e Nasson Tur, que atuavam na cidade.
De acordo com o prefeito, na época, o serviço que as empresas prestavam não era de qualidade e o problema maior se concentrava em não honrar com salários dos colaboradores. Para o gestor, o caso chegou ao limite e tudo que a prefeitura podia fazer para ajudar já fez, inclusive reajuste da tarifa, dentro legalidade.
Com isso, o segundo semestre de 2019 foi marcado por greves de motoristas e cobradores que estavam há meses sem receber salários e vale alimentação. Nessa época, os veículos de comunicação do Grupo Correio fizeram vários registros de histórias de funcionários da empresa que passavam por necessidades, como aluguel atrasado, por exemplo.
A situação apertou quando as empresas TCA e Nasson Tur anunciaram sua saída definitiva e antecipada, com um pedido na Justiça de Goiânia pelo direito de se antecipar, já no dia 15 de fevereiro.
Em 30 de janeiro desse ano, a Prefeitura realizou uma audiência pública com a população para discutir a questão do transporte. Na reunião, também foi debatido sobre o Termo de Referência do Edital de Licitação para Concessão do Transporte Coletivo. A situação era de desespero, pois tudo estava acontecendo muito rápido.
No dia 14 de fevereiro, uma frota com 40 ônibus da empresa Integração chegou a Marabá, para assumir em caráter emergencial o transporte público. Mas até o dia 18 daquele mês, a atuação da empresa estava sendo paliativa, pois segundo Geraldo Dean, na época, faltavam nos ônibus catracas, cadeiras para cobradores e bilhetagem eletrônica.
Por último, no dia 5 de junho, o contrato permanente foi assinado com a empresa Integração, lhe dando o direito de operar em Marabá pelos próximos 20 anos, pois não houve empresas para concorrer a licitação. Uma informação foi adiantada: a empresa deve operar com bilhete eletrônico. (Zeus Bandeira)