Correio de Carajás

Doença inflamatória crônica dos intestinos

O que significa inflamação crônica no intestino? Doença inflamatória intestinal (DII) é um termo genérico usado para descrever distúrbios que envolvem inflamação crônica do trato digestivo.

      São doenças crônicas que inflamam os intestinos em intensidades variadas. As principais são Doença de Crohn, Retocolite Ulcerativa e Colites Indeterminadas. Os sintomas podem variar de acordo com a evolução da doença. Nas formas mais leves, a pessoa pode sentir dores abdominais e alteração do hábito intestinal como diarreia ou constipação.

      Entre as várias doenças inflamatórias que acometem o intestino humano existem duas, a retocolite ulcerativa e a doença de Crohn, de causa e cura ainda desconhecidas. Por não se saber o fator que desencadeia estas enfermidades, não se pode considerá-las curáveis. O que se consegue com o tratamento é se retirar o paciente da crise, estabilizar clinicamente o paciente, e oferecer qualidade de vida ao mesmo, porém permanece sujeito a recidivas.

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      Segundo Flávio Steinwurz, médico gastroenterologista da Associação Paulista de Medicina, a inflamação da mucosa do intestino se deve a uma defesa exagerada do organismo contra um agente agressor atingindo também sua mucosa. Somente se torna doença, quando essa defesa se torna anormal lesando o próprio intestino causando feridas ou inflamações persistentes.

      A retocolite e a doença de Crohn são caracterizadas por inflamações crônicas e exuberantes, que persistem períodos prolongados e, quando controladas, reaparecem em surtos recorrentes. A diferença entre elas está no grau de inflamação. Na retocolite ulcerativa, a inflamação é superficial, atinge a mucosa do intestino grosso exclusivamente. Na doença de Crohn, pode acometer qualquer parte do tubo digestivo, da boca ao ânus.

      Sangramento é o principal sintoma da retocolite ulcerativa. Os outros sintomas são cólicas, diarreia com sangue, muco e, eventualmente com pus. Por causa da diarreia, muitas vezes, o paciente deixa de se alimentar adequadamente, sempre que come tem vontade de evacuar, por isso perde peso por medo de se alimentar. A relação entre a alimentação e a necessidade urgente de ir ao banheiro é muito grande na retocolite ulcerativa.

      Os sintomas de todas as diarreias são similares. O que diferencia a diarreia da retocolite ulcerativa das outras é, principalmente, a cronicidade. Em geral, as diarreias infecciosas têm curso curto. Em três ou quatro dias, uma semana, estão controladas. A diarreia da retocolite é persistente. O indivíduo passa um mês com intestino solto, com presença de muco e sangue nas fezes e urgência para evacuar muito importante, inclusive durante a noite.

      As manifestações extraintestinais mais comuns da retocolite são dores nas articulações, mas podem ocorrer também manifestações dermatológicas, como o eritema nodoso (nódulos vermelhos principalmente nas pernas, mas às vezes nos braços, que são muito doloridos) e o pioderma gangrenoso, cuja principal característica é o aparecimento de feridas que começam brancas e depois vão ficando pretas, com infecção e pus, bastante dolorosas, que deixam cicatrizes e exigem tratamento enérgico.

      A retocolite pode provocar, ainda, alterações oculares como esclerites e uveítes e complicações no fígado, que felizmente são raras. O exame de sangue revela anemia, deficiência de ferro, ou ainda deficiência de albumina. Da mesma forma, ajudam os exames de hemossedimentação e Proteína C Reativa que se alteram muito nos processos inflamatórios. Atualmente, está sendo usado um marcador sorológico chamado ANCA, para auxiliar a estabelecer o diagnóstico diferencial, nos casos em que surja alguma dúvida.

      Basicamente, o diagnóstico é feito através do exame retossigmoidoscopico. Para sabermos a real extensão do processo inflamatório é obrigatório se recorrer à colonoscopia, exame mais completo. Prossegue na próxima edição de terça feira.

* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.