Correio de Carajás

Fui chamado de cringe e nem pude protestar

Entrei no grupo de Whatsapp da Redação do Portal Correio de Carajás (é o vermelhinho, não o verde) nesta terça-feira, dia 22 de junho, e vi figurinhas com duas fotos minhas e uma legenda me acusando de ser um tal de “cringe”. Não entendi a brincadeira e procurei logo com os responsáveis pela postagem o que era aquele neologismo.

O estagiário e social mídia ficaram quase dois minutos sorrindo de mim e parecia que eu era “barroco”, como diz meu amigo Wilsão. A palavra da moda esta semana é esse tal de “cringe”. Pra tudo que é lado ele está sendo comentado e tive até mesmo de responder a um Quiz para avaliar se sou ou não esse negócio aí.

Não fosse o bastante, ainda nas redes descobri que Cringe é uma gíria nova que significa algo como “vergonhosamente antiquado”, ou “ridiculamente velho”.

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Qual não foi meu espanto ao descobrir que simples o ato de pesquisar seu significado, ou tomar cerveja de litro, chamar fim de semana de FDS, assistir jornal ou pagar boletos são coisas que merecem ser assim chamadas, de Cringe. Vi millenials arrasados com essa realidade, e me arrasei mais ainda ao descobrir que sou de uma leva ainda anterior a estes, a Geração X. Doeu.

Estava ainda de ressaca de saber que minha crônica mais vista nos últimos meses era aquela que falava da nostalgia dos bairros Cabelo Seco e Amapá, provavelmente porque os velhinhos se sentiram representados naquele texto. E eu, surfando no passado em cada um dos outros textos.

Agora você, leitor, precisava ver a cara da galera da Redação quando descobriram o resultado do meu Quiz. A resposta assustou à Ana Mangas, ao próprio Zeus e a todos que estavam ali naquela hora: “            NÃO É CRINGE! Você é da geração Y”, diz. Esse era meu lugar na disputa entre a geração millenials x geração Z.

Depois, fui futricar as estatísticas no Hootsuit, e constatei: esses meninos são a maioria e gastam mais tempo nas redes. Não há como vencê-los. Será que eles estão certos? Aquelas leituras sobre Análise Preditiva e Futurismo já me mostravam que tudo deve ser pensado para as novas gerações. Estarei eu ultrapassado?

UMA ESPERANÇA: A CALÇADA

Aproveitei a calçada, onde vizinhos de máscaras se aboletavam respeitando uma distância razoável. A mais jovem talvez tenha uns 48 anos. Comentei, convicto de que trazia uma novidade, que um serial killer dava trabalho em ser encontrado em Goiás, quando recebi várias notícias que não sabia, dentre elas que Lázaro era macumbeiro, coisa do cão, usuário do livro de São Cipriano, e que, por isso, desaparecia aos olhos da polícia. Nessa hora o avô correu pra dentro de casa, e deixou de pegar a neta no braço pra ver o que dizia a TV a respeito do assassino a ser capturado.

Todo murcho, como se diz – aliás, desculpa, como se dizia aqui no Pará, lá pelos anos 80 -, duvidando de minha cultura, desconfiando se ainda tem gente parecida comigo, fui… pesquisar. Depois de algumas horas, vê bem: o que “aprendi” na calçada é fakenews, racismo religioso no estado puro, algo não exatamente punível pela nossa legislação, e que não parece ter clima pra diminuir nesse 2021.

A MALDADE DE LÁZARO

O cara é mau mesmo, esse Lázaro. O sistema deu colher de chá algumas vezes. Conseguiu regime semi-aberto em uma oportunidade, deixou de voltar à prisão numa saída de Páscoa, fugiu pelo teto numa terceira ocasião. Matou, estuprou e roubou várias vezes.

Um baiano desenganado pelo próprio pai, que diz que não tem mais jeito. Mateiro – alguém que conhece as malandragens da selva – e caçador. Da outra vez – sim, houve outra vez – só o acharam porque cansou. Talvez demore mais agora, porque o medo tirou os habitantes de suas casas, deixando-as livres e cheias de mantimentos.

Enquanto isso, o vovozinho da Geração X está aqui, a escrever para velhos.

 

 

* O autor é jornalista do CORREIO e escreve crônica na edição de quinta-feira