Correio de Carajás

Abscesso no fígado

O tema tem continuidade do abscesso hepático e do abscesso amebiano hepático. Ainda em relação ao abscesso hepático, a fosfatase alcalina está elevada em 80% dos casos, e as transaminases são anormais em 60% dos pacientes. São variáveis independentes de mau prognóstico para mortalidade, o choque séptico, a presença de múltiplos abscessos, a origem biliar, a anemia e a ureia elevada.

A ultrassonografia (US) e a tomografia computadorizada (TC) possuem sensibilidades de 94 e 99% para o diagnóstico de abscesso hepático e são, atualmente, os principais métodos utilizados. A ressonância magnética (RM) tem especificidade inferior a esses métodos de imagem. Na radiografia convencional, podem ser observados derrame pleural, elevação da cúpula diafragmática direita e infiltração ou consolidação de base pulmonar direita em 25 a 35% dos casos.

O manejo dos pacientes com abscesso hepático deve ser realizado preferencialmente em ambiente de unidade de terapia intensiva. Com a suspeita diagnóstica, antibióticos de amplo espectro devem ser administrados por via intravenosa e ajustados conforme os resultados das culturas do sangue e do abscesso.

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A drenagem percutânea, guiada por US com cateter, permanece como a opção terapêutica mais utilizada e é efetiva mesmo para múltiplos abscessos. Como alternativa, a punção com agulha e o esvaziamento de coleções pequenas podem ser considerados em casos de abscessos múltiplos. As taxas de sucesso variam de 85 a 100%, em séries recentes.

O sucesso técnico ocorre quando é possível colocar adequadamente o(s) cateter(es) dentro da cavidade do abscesso, permitindo a drenagem de líquido e a diminuição do tamanho do abscesso. Já o sucesso clínico é definido como melhora dos sintomas, diminuição da febre e da leucocitose e resolução da cavidade residual. Alguns autores recomendam que o tratamento cirúrgico seja a primeira escolha nos abscessos maiores do que 5 cm.

Quando a drenagem cirúrgica é necessária, é importante revisar a TC e as relações do abscesso com as estruturas vasculares e biliares. No transoperatório, realiza-se a punção com agulha para confirmação da localização do abscesso e do local da drenagem, se não houver cateter posicionado. Nos casos em que há comunicação do abscesso com as vias biliares, a drenagem por CPRE pode ser importante para a resolução do quadro.

Em relação aos abscessos amebianos podemos informar o seguinte. Que são causados pela disseminação hematogênica da Entamoeba histolytica, após um quadro de disenteria. No Brasil, a doença é prevalente apenas na Região Norte do país. A lesão é geralmente solitária e predomina no lobo direito.

Os principais sintomas e sinais são febre com calafrios, dor abdominal e hepatomegalia, que ocorrem, caracteristicamente, algumas semanas após o quadro de disenteria. Outros sintomas frequentes são suor profuso, fraqueza e perda de peso.

O diagnóstico é realizado pela demonstração de trofozoítos aspirados no material coletado com o auxílio de US ou TC ou, então, por um teste imunológico como imunofluorescência indireta ou enzima imunoensaio.

Infecções bacterianas secundárias podem ocorrer, principalmente por Staphylococcus aureus. Ruptura, invasão de estruturas adjacentes e fístulas bronco pleurais e pericárdicas podem ocorrer em até 20% dos casos.

O tratamento é realizado com amebicidas como o metronidazol, administrado por 7 a 10 dias, que produz melhora drástica nos primeiros dias e taxas de cura superiores a 90%. Fármacos alternativos são o tinidazol, 2 g ao dia por 5 dias, o secnidazol e a cloroquina.

Após o tratamento, a descontaminação intestinal é mandatória e realizada com teclozana ou etofamida por 3 dias. Como alternativas, pode-se usar ornidazol ou nitazoxanida ou diloxanida por 10 dias. Já a hidroxicloroquina deve ser mantida por 20 dias.

A punção do abscesso pode acelerar a cura quando há persistência dos sintomas, nos abscessos volumosos, em grávidas ou nos pacientes com complicações pleuropulmonares. A cirurgia está indicada nos raros casos de peritonite após ruptura e abscessos subfrênicos.

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.     

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.