Correio de Carajás

Você confia?

Você confia? (1)

País da impunidade e das tragédias anunciadas, o Brasil é piada mundo afora por não decorar lições mínimas de civilidade e respeito às pessoas e ao meio ambiente. Os crimes praticados em Brumadinho devem servir de exemplo ao Pará. Aqui é o filão mineral da Vale e é daqui que ela mais enche os cofres de dinheiro, exportando ferro, cobre e níquel. Mas será que o povo pode confiar na segurança das barragens de Carajás? É melhor desconfiar.

Você confia? (2)

Leia mais:

O medo domina as 123 famílias que vivem e trabalham na Área de Proteção Ambiental (APA) do Gelado, a 60 km da cidade de Parauapebas, onde a Vale mantém seu projeto Salobo, de extração de cobre. Nessa área está uma das maiores barragens da Vale. Além das explosões diárias, para extração do cobre, os moradores reclamam da contaminação dos igarapés e da falta de água potável. A Vale diz que está tudo bem. O pessoal do ICMbio faz coro com a Vale. “É tudo mentira”, disse um morador à coluna.

Não garante nada

As famílias da APA do Gelado andam apreensivas. O sr. Gervásio Gomes, que vive e trabalha numa fazenda a 500 metros da barragem da Vale, se diz “muito preocupado” que aconteça uma tragédia no local. “Se não tiver uma providência, eu vou pegar minhas coisas e sair daqui, porque se eu estou apreensivo, a minha mulher está mais”, afirmou. A Vale, em novembro passado, instalou sirenes em pontos estratégicos. É para alertar os moradores em caso de emergência. O que fazer se isso vier a ocorrer?

Corra para lugar alto

Três meses atrás, a comunidade do Gelado participou de uma simulação sobre o que deveria fazer no caso do rompimento da barragem do Salobo. À falta de maiores opções para garantir vidas, a Vale disse aos moradores que se houvesse um acidente, o melhor que todos poderiam fazer era correr para um local alto e seguro. “Eu achei importante o que eles disseram, mas agora acabou, eu estou com medo. Nunca tive vontade de sair daqui, mas agora estou desesperada”, desabafou a agricultora Diosanta Vieira.

O vale de Carajás acordou

Não dá para esconder o temor de um grave acidente na região do Gelado. Quem vive próximo à barragem do Salobo sabe disso e não se ilude com promessas, como a agricultora Josely Cardos, para quem “é preciso retirar a comunidade da área”. Ela diz que esse é o pensamento da maioria das famílias. “É o que eu ouço do pessoal aqui, porque não tem como a gente prever se vai acontecer algo. O mais certo é tirar o pessoal daqui”, sustenta. A Vale, acusada de poluir as águas do Gelado, é obrigada a encarar a dura realidade. O vale de Carajás acordou.

______________________BASTIDORES_____________________

* A preocupação do governador Helder Barbalho com a situação das barragens paraenses, de Carajás, Barcarena, Juruti e Oriximiná, é oportuna. Ele já determinou algumas providências.

* Uma delas é a implantação de um sistema informatizado para cadastrar todas as barragens existentes no Estado. A ordem de Helder é de que esse sistema entre em operação nos próximos meses.

* O primeiro modulo, de barragens de acúmulo de rejeitos de mineração, e o segundo, de acumulação de água, estão em fase de testes para homologação.

* O secretário estadual de Meio Ambiente, Mauro Ó de Almeida, quer um quadro geral de todas as barragens, licenciadas ou não, no estado.

* Nos governos tucanos, nunca houve qualquer preocupação com as barragens das grandes mineradoras. Tudo caminhou no melhor dos mundos. O pesadelo dessa conta bateu na porta do novo governo.