Correio de Carajás

Úlcera péptica e distúrbios correlatos

Em continuação ao tema Úlcera Péptica e distúrbios correlatos. É possível curar a maioria das úlceras pépticas sem complicações. No entanto, em alguns casos, as úlceras pépticas podem desenvolver complicações de possível risco à vida, como sangramento (hemorragia), penetração, perfuração, obstrução (bloqueio) e câncer.

Na úlcera duodenal a dor epigástrica em queimação ocorre cerca de 90 min a 3 h após as refeições, na maioria das vezes noturna, que melhora após a alimentação. Já a Úlcera gástrica manifesta-se com dor epigástrica em queimação que piora com ou sem relação com o alimento.

Anorexia, aversão aos alimentos, perda de peso (em 40% dos casos). Há grande variação individual. Sintomas semelhantes podem ocorrer em pessoas sem úlcera péptica (dispepsia não ulcerosa), é menos responsiva à terapia padrão.

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Em relação às complicações ocorre sangramento, obstrução, penetração que causa pancreatite aguda, perfuração, refratariedade ao tratamento. No diagnóstico da úlcera duodenal pode se lançar mão da endoscopia digestiva alta (EDA) ou radiografia baritada do esôfago, estômago e duodeno (REED).

Na úlcera gástrica a EDA é preferível para excluir a possibilidade da úlcera ser maligna (citologia por escova, 2 a 6 biópsias da margem da úlcera). Características radiográficas sugestivas de doença maligna: úlcera dentro de uma massa, pregas interrompidas antes da margem da úlcera, úlcera gigante (> 2,5 a 3 cm).

Para identificação do H. pylori, utiliza-se a detecção de anticorpos séricos (exame barato, preferível quando a endoscopia não é necessária. Também o teste rápido da urease de biópsia antral (quando a endoscopia é necessária). O teste respiratório de ureia em geral é usado para confirmar a erradicação de H. pylori, se necessário. O teste do antígeno fecal é sensível, específico e barato.

Para o tratamento clínico da doença ulcerosa péptica.  Objetivos alívio da dor, cicatrização, prevenção das complicações e da recidiva. Para a UG, excluir a presença de doença maligna (acompanhamento endoscópio até ocorrer a cicatrização). A restrição dietética e desnecessária com os medicamentos mais recentes.

Os AINEs (antiinflamatorio não hormonais) e o tabagismo devem ser suspensos porque podem impedir a cicatrização. A erradicação do H. pylori reduz de maneira acentuada a taxa de recidiva da úlcera e está indicada para todos os pacientes com UD e UG associadas ao H. pylri.

A supressão ácida em geral é incluída no esquema. As taxas de reinfecção são menos de 1% ao ano. Os medicamentos padronizados (IBPs, bloqueadores do receptor H2, sucralfato, antiácidos) induzem à cicatrização em 80 a 90% das UD e em 60% das UG em 6 semanas; a cicatrização é mais rápida com omeprazol (40 mg/dia).

A cirurgia é utilizada para as complicações (sangramento persistente ou recorrente, obstrução, perfuração) ou, raras vezes, para os casos refratários ao tratamento (em primeiro lugar, rastrear o uso não revelado de AINEs e um possível gastrinoma).

Complicações da cirurgia (1) Alça aferente obstruida (Billroth II), (2) gastrite alcalina (por refluxo de bile), (3) síndrome de dumping (do rápido esvaziamento gástrico com desconforto abdominal mais sintomas vasomotores pós-prandiais), (4) diarreia pós-vago-tomia, (5) bezoar, (6) anemia (má absorção de ferro, B12, folato), (7) má absorção (mistura precária do conteúdo gástrico, dos sucos pancreáticos e da bile; supercrescimento bacteriano), (8) osteomalácia e osteoporose (má absorção de vitamina D e de cálcio), (9) carcinoma no segmento gástrico remanescente.

Abordagem ideal ao paciente na doença ulcerosa péptica é incerta. Os testes sorológicos para H. pylori e o tratamento, se presente, podem ser custo-efetivos. Outras opções incluem a terapêutica com medicamentos de supressão ácida e EDA apenas nos insucessos do tratamento ou EDA inicial em todos os casos.

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.     

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.