Correio de Carajás

Trauma Infantil

      Férias para as crianças e ao mesmo tempo a atenção no cuidado redobrado dos pais. Ao mesmo tempo em que nos vemos na obrigação de liberarmos as crianças para extravasarem suas energias, também deveremos ter em mente alguns cuidados como prevenção de acidentes.

      O trauma é a causa mais comum de mortes em crianças nos Estados Unidos. As quedas são as causas mais comuns de trauma e ocorre mais frequente em crianças com idade inferior a 14 anos. Atropelamento por veículos é segundo mecanismo mais comum de trauma.

      O trauma é acidental em 87 % dos casos, relacionados com esportes em 4 %, e, resultante de agressão em 5 %. O comprometimento de múltiplos órgãos é a regra e não a exceção, portanto todos os sistemas orgânicos devem ser considerados lesados até que se prove ao contrário. Tragicamente 20 a 40 % destas mortes poderiam ser evitadas.

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      A avaliação e o atendimento adequados das crianças com trauma requerem um conhecimento completo das características próprias do crescimento e desenvolvimento da criança. É sempre bom lembrar que os maus tratos infantis, causados por agressão e abuso infantil domiciliar são causas importantes de trauma na criança.

      A incidência de trauma fechado, em contrapartida ao trauma penetrante, mais alta na população pediátrica. As consequências do trauma penetrante são relativamente previsíveis, mas os mecanismos de trauma fechado apresentam maior potencial para lesões de múltiplos sistemas.

      O tamanho da criança a torna um alvo menor sobre o qual são aplicadas forças lineares do para-lama, do para-choque e das quedas. Devido a menor quantidade de gordura corporal, à maior elasticidade do tecido conjuntivo, e à grande proximidade dos diferentes órgãos, estas forças dispersam maior energia em todos os órgãos.

      O esqueleto da criança é menos capaz do que o do adulto de absorver as forças cinéticas aplicadas durante um evento traumático, e pode permitir distúrbios internos significativos com lesão externa aparentemente mínima. Em relação aos aspectos psicossociais, os desdobramentos do cuidado psicológico a uma criança traumatizada pode ser um grande desafio.

      Particularmente com a criança muito pequena o comportamento psicológico regressivo pode acontecer quando o estresse, a dor, ou a percepção de outras ameaças interferem no seu ambiente. Em resumo, a habilidade da criança de interagir com indivíduos desconhecidos, em ambiente estranho, é limitada e tornam a coleta de informações e a manipulação cooperativa muito difícil.

      Outro problema particular do paciente pediátrico traumatizado é o efeito que o trauma pode ter no crescimento e no desenvolvimento subsequente. Em torno de 60 % das crianças com trauma grave de múltiplos órgãos apresentam mudança de personalidade e 50 % ficam com sequelas sutis cognitivas ou físicas. O custo da correção destes problemas pode provocar um abalo importante e pode durar toda a vida.

      Lesões graves podem existir na presença de sinais externos mínimos. Um alto índice de suspeita e o bom senso clínico devem indicar o transporte rápido da criança para um hospital apropriado, a fim de se realizar uma avaliação mais completa. Como no adulto, as três causas comuns de morte imediata são a hipóxia, que é a diminuição do oxigênio circulante, a hemorragia maciça e o trauma crânio encefálico grave.

      Em relação à morte e invalidez, o resultado final do atendimento à criança traumatizada é determinado pela qualidade do atendimento oferecido nos primeiros momentos após o trauma. Durante os minutos críticos, um exame primário sistematizado é a melhor defesa contra a não identificação de uma lesão que pode ser fatal ou causar morbidade desnecessária.

* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.