Correio de Carajás

Robótica em cirurgia

Definido pelo Robotics Institute of America, em 1979, o robô é um manipulador reprogramável e multifuncional, projetado para mover materiais, peças, ferramentas ou dispositivos especializados por meio de vários movimentos programados para o desempenho de uma variedade de tarefas.

Os primeiros relatos do uso de sistemas robóticos em procedimentos cirúrgicos datam da década de 1980, e consistiam na utilização de robôs universais utilizados em outros ramos da indústria (como a automobilística), denominados PUMA (Programmable Universal Machine for Assembly), adaptados para a realização de biópsias estereotáxicas em pacientes neurocirúrgicos.

Utilizados posteriormente em cirurgias de quadril e de joelho, os robôs cirúrgicos primitivos eram uma adaptação de máquinas já utilizadas para outros fins e que podiam realizar tarefas com uma precisão bastante acurada neste tipo de procedimento, com limites ósseos precisos e estabilidade relativa (p. ex., sem variação com a movimentação respiratória).

Leia mais:

A evolução para o uso em cirurgia visceral não foi tão simples, tendo em vista os múltiplos empecilhos desses procedimentos, como variações anatômicas decorrentes da mecânica ventilatória e impossibilidade de estabelecer referências anatômicas seguras para sua utilização.

Dentro desse contexto, foi fundamental, na década de 1990, a participação do Exército Americano, que tinha como objetivo a realização de cirurgias remotas sem a presença do cirurgião no campo de batalha. Sem dúvida, a pesquisa militar nessa área foi fundamental, e permitiu o desenvolvimento do robô cirúrgico da maneira que se conhece hoje.

Mesmo mostrando-se extremamente dispendiosa para a tarefa de cirurgia à distância, os demais benefícios demonstrados com a utilização da cirurgia robótica para a realização de cirurgia visceral levaram ao desenvolvimento dessa tecnologia e à sua adoção em larga escala. O primeiro sistema funcional a ser utilizado comercialmente, em 1993, foi uma câmera cirúrgica estável, controlada por voz denominada AESOP (Automated Endoscopic System for Optimal Positioning), que se mostrou bastante valiosa em procedimentos mais longos, nos quais, por vezes, é difícil manter a concentração e o foco de toda a equipe cirúrgica.

O próximo passo no desenvolvimento de sistemas robóticos para serem utilizados em procedimentos cirúrgicos foi a adição de braços manipulados remotamente para realizar procedimentos minimamente invasivos similares aos laparoscópicos.

O conceito de telemanipulação à distância fica comprovado com a realização de um procedimento cirúrgico em 2001, com o paciente em Estrasburgo, na França, com o cirurgião controlando os instrumentos de um prédio em Nova Iorque, nos Estados Unidos.

No fim da década de 1990, a Computer Motion foi extinta após ser adquirida pela Intuitive Surgical, que, então, passa a ter todas as patentes sobre sistemas robóticos, motivo pelo qual ela é atualmente a única empresa produtora de robôs cirúrgicos em larga escala comercialmente disponíveis no mundo.

A Intuitive Surgical já desenvolvia tecnologia robótica desde 1997, mas é em 2006, com o da Vinci S, composto por quatro braços robóticos (um deles exclusivo para a câmera), que ocorre a disseminação dos sistemas pelo mundo. Em 2009, é lançado o sistema da Vinci Si, com o acréscimo de novas tecnologias como a imagem em altíssima resolução (full HD) e melhoras expressivas no console cirúrgico.

Este é o sistema atualmente disponível na maioria dos hospitais do mundo inteiro, que vem sendo gradativamente substituído pelo sistema da Vinci Xi. Que foi lançado nos Estados Unidos em 2014 e representa um avanço importante nos sistemas robóticos. Pois permite a utilização da câmera em qualquer um de seus quatro braços robóticos. Favorecendo determinados passos do procedimento cirúrgico, além de evolução nos sistemas de pinças e de novos dispositivos (seladores de vasos, grampeadores robóticos, entre outros).

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.