Correio de Carajás

Querer é poder, mas depende

Querer é poder, mas depende

Não há dúvida de que o Pará precisa de recursos para se desenvolver, melhorar a vida de seu povo e tocar obras importantes. Que estamos sentados sobre riquezas colossais, embora não saibamos tirar proveito disso, também é do conhecimento dos mais informados. O que falta, então, para uma tomada de atitude que faça do Pará o senhor de seu próprio destino? Essa pergunta se faz há pelo menos 50 anos. Ela martela a cabeça de técnicos e cientistas sociais.

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No dia 31 de julho de 1967, o geólogo Breno Augusto dos Santos, aos 27 anos de idade, fez um pouso ocasional em uma clareira da Serra de Carajás. E, a serviço de empresa norte-americana, fez a última descoberta romântica da geologia, a da maior província mineral do mundo. A população do Pará já havia entrado no clima de euforia – fustigada diariamente pela mídia, quando em 1984 o primeiro carregamento de minério de ferro saiu no trem da Vale rumo ao porto de Itaqui, no Maranhão.

Bilhões contra a miséria

Os mais otimistas não conseguiam conter o entusiasmo: “agora vai, ninguém segura o Pará”. Era o que mais se ouvia, principalmente nas rodas políticas e empresariais. O mínimo que se falava era sobre milhares e milhares de empregos, bons salários e um comércio pujante de serviços. A pobreza e miséria, o analfabetismo e as doenças seriam combatidos com os recursos oriundos das exportações. Ou seja, nos próximos 400 anos – tempo total da estimada exploração de ferro, cobre e níquel -, haveria progresso, desenvolvimento e prosperidade. Como somos bobos.

O carimbó dos tolos

O Japão, no começo, e a China, hoje, iriam garantir a nossa felicidade. Assim pensavam os tolos, dançando o carimbó da ingenuidade. Os jornais de Belém vendiam o peixe do exagero, mesmo sabendo que tudo o que escreviam e publicavam não correspondia à verdade dos fatos. O progresso e a prosperidade seriam para poucos. O subsolo paraense é da União, nossa eterna e malévola madrasta. Para ela, além de Vale, iriam os lucros dos bilhões de dólares da exportação mineral. E a nós caberia o ônus dos problemas ambientais e sociais. Um desenho lógico que não tivemos a capacidade de perceber.

Lei Kandir, a pernada

Para completar, o governo do Estado deixou de cobrar o ICMS da Vale e de todas as mineradoras que explodem suas dinamites – inclusive fora do sentido figurado – por aqui. Além de surdos, também perdemos a voz quando o golpe final desembarcou sob o nome de Lei Kandir. Chegamos, enfim, ao que já era esperado: o fundo do poço. O governo federal mandou que fôssemos pastar e nos enrola a cada ano, acenando com ridículas compensações pelo roubo que praticou. As mineradoras, cada vez mais ricas, atiram migalhas travestidas de “apoio cultural” para que paremos de reclamar. Que fase, a nossa..

Artistas ferram o Pará

Enquanto o leite derrama e choramos sobre ele – lamentando o sonho perdido da redenção econômica e felicidade geral -, é bom saber que no mundo dos espertos não há lugar para a vitimização. O protagonismo de resultados da Vale, por exemplo, fez cair de 400 anos para pouco mais de 40, o tempo de exaurimento da província de Carajás. Depois disso, a empresa irá cantar em outra freguesia mineral. Certamente ainda no Pará. Terra que, no passado, era onde os artistas se acabavam. Hoje, eles é que acabam com o Pará.

__________________BASTIDORES_______________________

* A China começa a diversificar suas atividades no estado. Além de comprar metade da produção de minério de ferro da Vale, ela já tem dois pés plantados nas áreas de energia e ferrovia.

* O Linhão de 2,5 mil quilômetros, que levará a energia da usina de Belo Monte até o Rio de janeiro, é da chinesa State Grid. O projeto envolve custos de R$ 8,7 bilhões e está a todo vapor.

* Já a ferrovia que trará a soja do Mato Grosso pela rodovia Cuiabá-Santarém até o porto de Miritituba, em Itaituba, também será construída por um consórcio chinês.

* Fala-se que eles também devem entrar na pecuária, no sul do Pará.