Correio de Carajás

Pensemos em nós

Pensemos em nós

Rico, ou, para dizer o mínimo, bilionário – apesar de sua população não se dar conta disso e preferir sobreviver de migalhas -, o Pará surge sempre, em momentos de crise, como a salvação do Brasil. Ora, antes de pensar em salvar quem nos maltrata, deveríamos refletir se não é chegada a hora de pensar principalmente em nós mesmos, exigindo respeito dos colonizadores entocados em Brasília.

Vai o filé mineral

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O advogado e ambientalista paraense Rodrigo Leitão, por exemplo, observa que o anuário do Simineral, mostra bem como vive o Pará, depois que suas riquezas saem nos trens da Vale rumo ao Maranhão e aos mercados internacionais. A exportação mineral representa 88% da balança comercial, com 12,514 bilhões de dólares, além de outros 1,2 bilhão de dólares de minérios com algum beneficiamento.

E ficam as ossadas

Com toda essa riqueza indo embora, a taxa de Compensação Financeira pela Exploração Mineral no Estado do Pará (CFEM) deixou no estado apenas R$ 1, 2 bilhões de reais, ou cerca de 300 milhões de dólares. Desse dinheiro, Parauapebas ficou com R$ 695 milhões; Canaã dos Carajás, R$ 320 milhões, e Marabá, R$ 120 milhões.

O ‘troco” e os danos

O que fica é tão pouco, diz Leitão, que não é por acaso as exportações serem quantificadas em dólares e, a CFEM, em reais, com certeza para diminuir o constrangimento e a humilhação da população paraense, dos nossos representantes políticos e do Estado do Pará como um todo. O “troco” que fica não paga a conta dos danos socioambientais provocados pelas mineradoras. E mais: os municípios que mais arrecadam a CFEM, não conseguem dar dignidade às suas populações.

Quase nada funciona

São inúmeras as denúncias de precariedade dos serviços públicos, como saúde, educação e saneamento. Os lucros da atividade são concentrados nas mãos das mineradoras. Já o ônus, esse é pago por cada um de nós paraenses. A população diretamente afetada pela atividade tem suas terras envenenadas, seus rios assassinados e seus pratos vazios. “Jogamos na miséria quem não precisava de dinheiro para comer, pois tinha o peixe no rio, a horta no quintal, o açaí e a farinha”, resume.

Isenções e outros babados

Por fim, todos os governadores que passaram desde 1996, ano da promulgação da famosa Lei Kandir, colocam a culpa nela por termos nossa riqueza mineral usurpada e a nossa riqueza natural devastada. Ficam alguns questionamentos: por qual motivo esses governadores dão isenções, renúncias e incentivos fiscais a essas mineradoras, aumentando o prejuízo do Estado? Quem comemora o fato de sermos reféns de um modelo econômico predatório, concentrador de renda e distribuidor de miséria?

Dívida e bloqueio

As prefeituras precisam prestar contas do dinheiro que recebem e quitar sua dívidas caso queriam pedir aumento de repasses à União Federal. No Pará, de 144 municípios, mais de 90 continuam inadimplentes. A alegação é a mesma: estão quebrados. Fica no ar a pergunta: para que servem as “aulas” de técnicos do TCM e TCE que, vira e mexe, viajam para o interior e levam na bagagem cursos de como fazer para gastar recursos sem estourar o orçamento e ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal? Tem alguma coisa errada nos dois lados.

__________________________BASTIDORES_______________

* Os ruralistas do sudoeste do Pará estão em pé de guerra com o Ibama. E foram à Brasília pedir mudança de toda a diretoria.

* Eles se dizem perseguidos e querem suspender as operações que redundam em destruição, pelos fiscais, de máquinas e equipamentos usados na extração de madeira.

* A turma do Ibama contesta e diz que tem agido no combate à extração ilegal e grilagem de terras nas unidades de conservação, tombadas por lei.

* O deputado federal Eder Mauro tem sido o mais procurado pelos fazendeiros em Brasília. Na pauta, eles também querem que o governo Bolsonaro combata as invasões de terras.

* As longas filas de carretas e caminhões que tentam chegar a Belém, por balsas oriundas de Barcarena, virou um tormento.

* Tudo porque uma infeliz balsa derrubou a ponte do Moju.