A medicina nuclear se baseia na administração, ao paciente, de pequeníssimas quantidades de materiais radioativos. Dessa forma, estes materiais são metabolizados e emitem radiação geralmente na forma de raios gama, detectada por equipamentos especiais.
A medicina nuclear é, também, a base para importantes métodos terapêuticos, utilizados há várias décadas em tratamentos para câncer e outras doenças. Além disso, a cada ano novas pesquisas abrem caminhos inovadores para o uso de radioisótopos no tratamento de um rol crescente de problemas de saúde, demonstrando que a medicina nuclear ainda está longe de seu potencial máximo de aplicação médica.
A medicina nuclear pode ser aplicada na detecção de doenças em seus estágios mais iniciais. Como por exemplo, antes que causem alterações estruturais detectáveis por exames anatômicos. A técnica é muito utilizada no diagnóstico e seguimento de diversos tipos de câncer, avaliação de doenças cardíacas, endócrinas, neurológicas e gastrointestinais.
Leia mais:Os tipos de escaneamento mais comuns da medicina nuclear são: coração: possibilidade de avaliar o fluxo arterial sanguíneo em situações de repouso e estresse, função cardíaca, danos ao músculo cardíaco após um infarto, avaliação funcional após procedimentos de revascularização, rejeição de transplantes cardíacos, entre outros.
Renais: função diferencial entre os rins, identificação de possíveis obstruções no sistema coletor, cicatrizes decorrentes de infecções. Tireoide: avaliar a função da glândula e nódulos. Cérebro: focos epileptogênicos em pacientes com convulsão, avaliação de déficit cognitivo, perfusão sanguínea. Mama: auxílio na localização de nódulos malignos. Ossos: avaliação de processos osteodegenerativos articulares, doenças ósseas benignas e malignas (tumores).
Para fins diagnósticos, os radioisótopos mais comumente empregados na medicina nuclear são o tecnécio-99 (marcação de diversas moléculas carreadoras) e o iodo-131 (avaliação de doenças na tireoide e tratamento de câncer na tireoide), e com menor frequência o gálio-67 (atualmente mais utilizado para avaliação de possíveis focos infecciosos) e o tálio-201 (doenças cardíacas).
O exame diagnóstico mais antigo da medicina nuclear é a cintilografia. Cintilografia óssea, do miocárdio, renais e da tireoide são exemplos comuns. O exame PET-CT consiste numa tecnologia diferente e mais atual no Brasil. Ao invés de se ler raios gama, são lidos pósitrons, que são emitidos por radiofármacos diferentes aos que são empregados nas cintilografias.
O mais comum e mais utilizado no Brasil é o 18-FDG, ou fluorodesoxiglicose, que ilustra o metabolismo glicolítico no corpo. É utilizado para a detecção e monitoramento de diversos tipos de câncer, como avaliação de resposta a tratamentos e método de averiguação de possíveis metástases. O 18-FDG consiste em moléculas análogas da glicose, e uma vez que este metabolismo nas células cancerosas é geralmente altíssimo, há aumento da sua captação.
A cada ano, novos radioisótopos são identificados e liberados para uso em tratamentos médicos. Um dos mais recentes, aprovado pela Food and Drug Administration norte-americana em 2013, é o Rádio-223, utilizado em terapias contra câncer nos ossos de origem prostática. Ele é especialmente interessante por emitir partículas alfa (os exemplos acima emitem partículas beta), capazes de liberar uma quantidade maior de energia em um raio menor de atuação, sugerindo uma terapia mais eficiente.
Dada a qualidade dos resultados dos exames, a especificidade dos diagnósticos e as ótimas taxas de eficiência dos tratamentos, a medicina nuclear só tem a crescer, tanto no Brasil quanto no mundo. Com o suporte correto de centros especializados na produção e distribuição dos materiais radioativos, um número crescente de pacientes em todo o país poderá ter acesso a tratamentos de ponta, utilizando tecnologias que, no mundo, já respondem a mais de um terço de todos os tratamentos médicos.
* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.