Correio de Carajás

Massacre previsível

Inquérito que investiga massacre em presídio de Altamira

Há tempos que a coluna vem dizendo isso: o maior desafio na gestão do governador Helder Barbalho é a segurança pública. Ele herdou um sistema falido, podre, de remendos feitos para nada resolver e empurrar o problema com a barriga. Enquanto isso, as facções criminosas, aos poucos, passaram a dominar as cadeias. A carnificina de 58 mortos em Altamira não foi a causa, mas a consequência de anos de descaso. Massacre previsível.

 

Solução demorada

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Não se resolve em meses um problema de superlotação de presos, corrupção de agentes penitenciários e falta de investimentos em inteligência policial que há décadas corrói as entranhas do sistema carcerário. A política equivocada do encarceramento, onde presos que praticaram pequenos delitos convivem diariamente com bandidos cruéis e irrecuperáveis, também cobra seu preço. A solução exige inteligência e coragem.

 

Exemplo de ineficiência

O fato ocorrido dentro do caminhão-cela, onde 4 dos 30 presos que lá dentro estavam foram mortos por integrantes de facção rival, é outro dantesco episódio desse festival de desacertos que acontece no sistema penitenciário. A demissão a pedido do coronel Matos não resolverá o problema, porque o erro não está somente no conteúdo, mas na forma como se pensa a segurança de detentos que estavam sob a tutela do Estado.

 

“Que eles se matem”

Nas redes sociais, após o grotesco massacre de Altamira, há quem uive, babando de contentamento pelas mortes e pedindo que mais presos se matem dentro das cadeias do Pará, como se isso fosse a solução para uma segurança pública abalada e ferida na sua dignidade. Essas vozes do caos defendem uma justiça que não está nas leis. Base de uma sociedade que se pretende civilizada.

 

Juventude perdida

Dos 62 mortos em decorrência do confronto entre facções que disputam poder e controle do tráfico de drogas e outros crimes violentos, vê-se, pelas fotos e imagens de televisão, que a grande maioria é ainda muito jovem. Em resumo: uma juventude perdida. Que cedo abandonou a escola ou sequer estudou para ter uma profissão e dignificá-la. Pior: foi recrutada pelo crime organizado, nas ruas e nas cadeias.

 

Ânsia de fuga

Nas masmorras medievais do sistema carcerário brasileiro – e o Pará, é lógico, não está fora disso -, impera o ócio total entre os presos. Eles passam seus dias a planejar fugas, cavar túneis e buscar a liberdade a qualquer custo, inclusive do pagamento de suborno a quem deveria mantê-los atrás das grades. O sistema não é apenas falido, mas autofágico. Implode devorando a si mesmo. Eis a realidade nua a crua. A sociedade, que anseia pela paz e segurança, torce e cobra mudanças efetivas.

 

____________________BASTIDORES______________________

 

* A carência de agentes prisionais fez com que o Estado chamasse 642 candidatos classificados de forma excedente para o cargo no último concurso da Susipe.

* “Esses novos agentes devem se somar a outros 485 que tomarão posse no próximo sábado, perfazendo 1.127 novos servidores. A urgência da convocação, deferida pela Justiça, se deve ao fato de que no sistema penitenciário do Pará existe apenas um agente para cada 10 presos.

* Isso revela a fragilidade a que esses servidores públicos – muitos deles temporários – estão expostos, precisando de treinamento rigoroso para poder lidar com criminosos perigosos e escolados.

* Na semana passada, na penitenciária de Americano, dez agentes foram afastados, acusados de receber propina para facilitar a fuga de 17 presos de alta periculosidade.

* Todos os acusados, já afastados do sistema penal, foram soltos por determinação da Justiça de Santa Isabel do Pará.

* Os novos 642 candidatos chamados já fizeram as provas objetiva e discursiva, exame de saúde, psicológico e teste de aptidão física, e foram classificados, mas não foram chamados devido ao número de vagas previstas no edital do concurso C-199.

* Eles vão substituir os agentes contratados que atuam, hoje, por meio de contrato de regime temporário, o que garantirá a continuidade de serviço público.