Correio de Carajás

Jornal que mergulhou em outras narrativas

Por aqui, um recorte em meio aos 40 anos de batente do JORNAL CORREIO. Um ensaio sobre uma das possibilidades de se enxergar essa parte da Amazônia na narrativa jornalística.

Precisamente, na produção de reportagens especiais, com duas, quatro, oito ou até mesmo 16 páginas, que começou em 2005 e caminha até hoje. Jornalismo dos ciclos é uma licença meio séria, meio moleque, para fugir, na leveza, dos teoremas da comunicação. Ou relê-los por outras possibilidades, mais avizinhadas de onde se vive. Vou começar assim: para um jornal criado numa região que se fez de ciclos econômicos, seria esquisito não ter a luminosidade, o clima, a temperatura, a chuva, a estiagem, a tipologia, a gramatura dos seres que ali se entrecruzam numa cidade, nos rios e grotas, nos garimpos, transpassando as páginas da história contada pelo viés do Jornalismo.

Imagine, ainda, nascer entre dois rios e dar as costas para o Tocantins e Itacaiunas. Ter parte com a mata e o bioma não estar entranhado no corpo-acervo narrativo deste Jornal, na diversidade dos processos da ocorrência possível da comunicação. Está em vários estágios de tempo e de mentalidades herdadas dos indígenas que até hoje convivem conosco e, também, da chegada dos sírio-libaneses em nosso território.

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Diria que, na jornada de 40 anos do CORREIO, nem sempre nos percebemos no meio ou não conseguimos ler o derredor de onde brotamos e ressurgimos constantemente. Quanto tempo levamos para perceber que o azougue do garimpo de Serra Pelada destruía as formas de vida da Bacia do Itacaiunas? Quanto tempo levamos para descobrir que as fazendas de gado são responsáveis pelas enchentes que nos assolam com mais frequência, embora com pouca chuva?

Quanto tempo levamos para enxergar que a Floresta Amazônica não era algo distante de onde somos? E quanto, quase uma eternidade, levamos para descobrir também que temos miniflorestas dentro da cidade? Muito além da imagem danosa construída na fotografia e textos deterministas do fundo do buraco do garimpo de Serra Pelada à espera de um milagre para retirar mais ouro?

Sim, há também essa fotografia e essa narrativa textual na retina e corpo dos repórteres que foram e vieram das minas de ferro e de cobre. Levou-se tempo para que o jornalismo também ensaiasse outra maneira de se apropriar do glossário, não menos rude, mas reflorestado desta parte da Amazônia.

Comecei fazendo reportagens especiais de duas páginas relacionadas ao meio ambiente, revelando crimes ambientais. Muitas delas geraram ações propostas pelo Ministério Público Estadual e também pelo Federal à Justiça.

Depois, editei por vários anos um caderno especial denominado Repórter Criança, estimulando meninos e meninas a fazerem reflexão sobre os impactos ao meio ambiente e outros temas sociais.

Os cadernos ficaram “pequenos” para a grandiosidade do conteúdo e precisávamos chegar também à plataforma digital. Então, criamos o CorreioDoc, um espaço dentro do Portal Correio de Carajás que exibe reportagens de fôlego, com textos, fotos, vídeos e gráficos, entregando ao leitor produtos de qualidade.

Tanto é assim, que por meio dessa plataforma ganhamos dois prêmios de jornalismo.

Diria que, nos mais de 20 cadernos especiais que editei até aqui, há uma apuração e escrita voltadas para tentar apreender, aprender e compartilhar sobre trechos do cotidiano do ser vivo rebentado nesta floresta de pedras. Humano e não-humano. A conversa é longa e incompleta. Existe no papel e extrapola as fronteiras do jornalismo impresso no JORNAL CORREIO. Ainda bem, se atualizará sempre. É ressurgente!

 

O autor é jornalista e cronista do Jornal e Portal Correio há 26 anos

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.