Correio de Carajás

Fundador do Correio relembra dificuldades dos primeiros anos

Fundador do Correio olha para o passado, presente e futuro e faz uma reflexão sobre a relevância do periódico que exerceu grande influência em vários setores da comunidade local nos últimos 40 anos

“Deixei o comércio para cuidar desse Jornal, que não era só meu, era de Marabá e da região”

As últimas quatro décadas, marcos da história de Marabá, do Pará, do Brasil, do mundo – e além – foram narrados e problematizados aqui. A enchente, por exemplo, é tema que ilustrou as páginas do JORNAL CORREIO desde seus primeiros dias. O flagelo, o impacto do garimpo de Serra Pelada na vida do homem e das cidades da região estão documentados nas páginas deste longevo jornal. Assim como mudanças de gestões e modelos políticos, revoluções do comportamento, guerras e conflitos, uma pandemia, marcos científicos e muitas perdas – incluindo a morte de Pelé, ocorrida há poucos dias.

E foi pelas mãos de um homem que tudo começou.

Mascarenhas Carvalho da Luz era comerciante, mas apaixonado por jornal. Já tivera experiência em outros dois periódicos que circularam na cidade, na condição de colaborador. Quando ambos encerram suas atividades, ele reuniu um grupo de profissionais e decidiram continuar a missão.

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Sim, uma missão: informar e transformar.

Olhando para trás, em uma entrevista na última semana para este caderno comemorativo, Mascarenhas Carvalho reconhece que em 1983 não imaginava a longevidade que o jornal CORREIO DO TOCANTINS teria e a enorme influência que ele exerceria na comunidade marabaense e em outras cidades da região. “A gente só queria levar notícia imparcial, apesar das dificuldades da época”, sintetiza.

Ao preço de 150 cruzeiros, a ousadia do início tinha 16 páginas impressas em maquinário de Belém. Nas folhas, notícias essencialmente de Marabá, notadamente sobre a política, mas também informações do Pará. Esta primeira edição vinha com reportagens e artigos assinadas pelo saudoso Raymundo Rosa, Aziz Mutran Filho, Adalício de Macedo, Ozélia Carvalho de Souza, Pyterson Faleiro, Antônio Carlos Guimarães e com editoria de Carlos Mendes e o próprio Mascarenhas Carvalho.

A história do CORREIO DO TOCANTINS pode ser contada pelo que foi publicado em suas 4.000 edições, mas não é só essa a marca. O negócio se expandiu, assim como as vozes pretendidas pelo fundador. Se naquele 1983, o jornal bastava, hoje a tecnologia impõe novas formas de dizer. Ao longo dos anos, pelo rádio, TV e Internet. O projeto de Mascarenhas Carvalho, iniciado há 40 anos, consolidou-se há cerca de 10 anos, sob outra gestão, agora como um grupo de comunicação cuja marca é a inquietude da inovação.

O QUE RECORDA O FUNDADOR?

Mascarenhas Carvalho relembra que a ideia naquele momento, em 1983, era que a cidade tivesse uma tribuna em defesa do povo. “O maior desafio no começo foi o fato de não termos estrutura local, e o jornal iniciou e passou alguns anos sendo editado aqui e impresso em Belém. Um verdadeiro sacerdócio essa correria de ter que levar esse material a Belém. Às vezes, até esfriava um pouco a notícia. Mas, consegui imprimir, através de Belém, por vários anos”, recorda.

Mascarenhas admite que se dividia entre as três lojas que possuía e a redação do jornal, que instalou na Rua Bartolomeu Igreja, 1381, na Velha Marabá. Pouco tempo depois, o jornal começou a crescer e tomar proporções maiores, foi então que a dedicação aumentou e o empresário decidiu mudar o local de trabalho, transferindo a sede do periódico para a Folha 32, Nova Marabá, que ele acabara de construir.

O fundador conta que um dos momentos mais felizes e marcantes da história do jornal foi quando ele conseguiu instalar a primeira máquina impressora rotativa. A alegria tomou conta não só dele, como de toda a família e dos colaboradores.

“Por anos, o jornal foi impresso na capital do Estado e, ver a impressora instalada na sede do Jornal Correio foi marcante. O Patrick Roberto (filho mais velho) estudava em Brasília. E quando chegou para passar as férias aqui, levei ele lá para ver as máquinas. Ele se deparou com a impressora rotativa do jornal e fomos os dois às lágrimas”, confessa.

“Além do desafio de editar o jornal em uma cidade e imprimir em outra, a maior dificuldade que nós tínhamos era a mão de obra, sempre escassa. Tinha de importar jornalista de outras cidades e isso me preocupava muito”, admite.

BATEU A DEPRESSÃO

Se no início, Mascarenhas Carvalho não pensava na longevidade do jornal, com o passar dos anos a preocupação era de quem o sucederia na gestão veículo de comunicação. Assim que passou o controle do Jornal Correio para a atual gestão, Mascarenhas admite que entrou em depressão.

“Foi uma fossa muito grande. Eu levantava quatro horas da manhã e ia lá no parque gráfico, que era anexo à minha residência. Mesmo eu tendo passado o jornal a outro dono, ele continuou funcionando por uns dois anos lá. Teve um dia que um encadernador chegou a me interpelar e falou: ‘o senhor está pensando que o jornal ainda é seu?’ e eu disse ‘tô pensando, sim. Mas, só vim aqui pegar um exemplar pra ler’”, conta sorrindo, relembrando o período que precisou para se afastar definitivamente do dia a dia da empresa.

Ao longo dos últimos 40 anos, Mascarenhas admite que se pudesse voltar no tempo fundaria o jornal (de novo), com o mesmo nome. “Sou apaixonado pela comunicação. Tanto que deixei o comércio para cuidar desse veículo, que não era só meu, era de Marabá e da região”.

Feliz com a trajetória do impresso, Mascarenhas ressalta sua alegria em ver que a semente que plantou germinou e continua sendo prestigiada pelos leitores. Para ele, o velho CT continua importante e se orgulha de o filho Patrick Roberto continuar à frente do veículo, como diretor de Redação.

(Ulisses Pompeu)