Correio de Carajás

Hipoglicemia

A glicose é um combustível metabólico indispensável ao cérebro. A hipoglicemia deve ser considerada em qualquer paciente com confusão, nível de consciência alterada ou crises convulsivas.

De forma comparativa, a glicose seria a gasolina como energia para manutenção das funções vitais. As respostas contrarreguladoras à hipoglicemia incluem supressão da insulina e liberação de catecolaminas, glucagon, hormônio do crescimento e cortisol.

O diagnóstico laboratorial de hipoglicemia é definido habitualmente como um nível plasmático de glicose < 2,5 a 2,8 mmol/L (< 45 a 50 mg/dL), apesar de o nível absoluto de glicose no qual ocorrem sintomas variar entre os indivíduos.

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Em relação a causas, a hipoglicemia ocorre mais comumente como resultado do tratamento de pacientes com diabetes melito. Outros fatores a serem considerados em todo paciente com hipoglicemia são listados a seguir.

Medicamentos: insulina, secretagogos da insulina (sobretudo clorpropamida, repaglinida, nateglinida), álcool, altas doses de salicilatos, sulfonamidas, pentamidina, quinina, quinolonas. Enfermidades graves: insuficiências hepática, renal ou cardíaca; sepse; inanição prolongada.

Assim como deficiências hormonais: insuficiência suprarrenal, hipopituitarismo (particularmente em crianças pequenas). Insulinoma: tumor de células B pancreáticas, hiperplasia de células B (nesidio-blastose: congênita ou após cirurgia gástrica ou bariátrica).

Outras causas raras: tumores de células não B, anticorpos contra insulina ou receptores de insulina, defeitos enzimáticos hereditários, como intolerância hereditária a frutose e galactosemia.

No que concerne às características clínicas, os sintomas de hipoglicemia podem ser divididos em autonômicos (adrenérgicos: palpitações, tremores e ansiedade; colinérgicos: sudorese, fome e parestesia) e neuroglicopênicos (alterações comportamentais, confusão, fadiga, crises convulsivas, perda da consciência e, se a hipoglicemia for acentuada e prolongada, morte).

Sinais de descarga autonômica, como taquicardia, PA sistólica elevada, palidez e diaforese, estão tipicamente presentes em um paciente com percepção da hipoglicemia, mas podem estar ausentes em paciente com neuroglicopenia pura.

O diagnóstico do mecanismo hipoglicêmico é de primordial importância para que se possa escolher um tratamento capaz de prevenir a hipoglicemia recorrente.

O tratamento urgente é necessário com frequência nos pacientes com suspeita de hipoglicemia. Contudo, o sangue deve ser coletado na vigência dos sintomas, sempre que possível antes da administração de glicose, para tornar possível a documentação da hipoglicemia como causa dos sintomas.

Se o nível de glicose for baixo e a causa da hipoglicemia desconhecida, outros ensaios devem ser feitos com sangue obtido na vigência de glicose plasmática baixa. Tais ensaios devem incluir insulina, proinsulina, peptídeo C, níveis de sulfonilureia, cortisol e etanol.

A terapia aguda da hipoglicemia torna necessária a administração de glicose oral ou, se não estiver disponível, açúcar rapidamente absorvível (p. ex., suco de fruta) ou 25 g de uma solução IV a 50%, seguida por uma infusão constante de dextrose a 5 ou 10% se for necessária a terapia parenteral.

 A hipoglicemia decorrente das sulfonilureias costuma ser prolongada, exigindo tratamento e monitoramento por 24 h ou mais. Nos diabéticos, pode ser usado o glucagon SC ou IM.

A prevenção da hipoglicemia recorrente torna necessário o tratamento da causa subjacente da hipoglicemia, incluindo interrupção ou redução da dose dos medicamentos responsáveis, tratamento das enfermidades críticas, reposição das deficiências hormonais e cirurgia para insulinomas ou outros tumores.

A terapia com diazóxido ou octreotida pode ser usada para controlar a hipoglicemia em caso de nesidioblastose ou insulinoma metastático inoperável. O tratamento das outras formas de hipoglicemia é dietético, consistindo em evitar jejum e fazer refeições frequentes e pequenas.

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.     

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.