Favorito, vírgula
No confuso cenário político que temos – agravado pela profunda descrença dos eleitores -, caminhamos para menos de 70 dias das eleições e nenhum candidato, de presidente a deputado, pode bater no peito e alardear favoritismo. Nesse ambiente, a garimpagem de votos torna-se penosa e cansativa. Quem já fez seu nome, no exercício de cargo administrativo, ou mesmo legislativo, está na vantagem. Mas, convenhamos, nada garante uma cadeira nessa dança pelo poder.
Traiu e foi traído
Leia mais:Ninguém deve abismar-se com traições e adesões nessa reta final de pré-campanha e começo da propaganda no rádio e televisão. Ajustes e coligações partidárias são normais numa democracia, até mesmo “traições” de última hora. Por bem, ou mal, a hora é de buscar abrigo na candidatura majoritária que reúna mais chance de vitória. O ex-governador do Pará, Hélio Gueiros, o “Papudinho”, tinha resposta pronta para quem se queixava de traição política: “ é como traição conjugal, dói muito, mas passa”.
O jogo e o voto (1)
A estratégia do ex-ministro Helder Barbalho é ganhar a eleição no primeiro turno e aposentar de vez a hegemonia tucana, que já dura 20 anos no estado. Ele sabe que isso exige um trabalho de intensas articulações, fissuras nas hostes do adversário Márcio Miranda, além de uma boa base de sustentação dos próprios aliados. É um jogo onde não cabe mais os erros da eleição de 4 anos atrás.
O jogo e o voto (2)
Helder sentiu a eleição escapar pelas urnas, em 2014, ainda no primeiro turno. Garantiu o sul, o sudeste, parte do centro e do oeste, mas sucumbiu na região metropolitana de Belém e no nordeste, onde está a maioria dos votos paraenses e onde sua rejeição era mais forte. No primeiro turno, Helder teve 49,88% dos votos válidos e Jatene, 48,48%. Ganhou por diferença de 50.550 votos. Perdeu no segundo turno por diferença de 137 mil votos. De um turno para outro, esses 50 mil votos migraram para o adversário.
A máquina de Miranda
É evidente que o governador Simão Jatene não tinha um nome de confiança e peso eleitoral para sucedê-lo. E decidiu apostar suas fichas em alguém de fora do PSDB, o deputado Márcio Miranda, do DEM. Isso contrariou tucanos de carteirinha, como o senador Flexa Ribeiro e o supersecretário Adnan Demachki, além do hoje socialista Sidney Rosa. Se a máquina de Jatene posta à disposição de Miranda funcionará, isso são outros quinhentos. Pode dar certo, ou revelar-se grande fracasso. A urna dirá.
Erros e acertos
A pergunta que todos se fazem – de tucanos desgarrados a democratas convertidos – é se Miranda terá discurso próprio e propostas inovadoras, diferentes do disco arranhado do PSDB. E mais: o deputado se dispõe a carregar nas costas os erros e, mais do que isso, defendê-los diante do confronto inevitável com adversários? Ou vai preferir mirar apenas nos acertos do governador? Como Miranda é médico, eis um teste para os eleitores. Inclusive os cardíacos.
__________________BASTIDORES____________________________
* O redator da coluna tem conversado muito com políticos de vários partidos e eleitores. E todos convergem num ponto: precisamos de uma reforma nesse sistema eleitoral caquético e divorciado da realidade que temos.
* Afinal, os altos impostos que pagamos merecem ser bem administrados por gestores competentes e honestos. Não é para demonizar ninguém, mas políticos bons e sérios não surgem do nada.
* Na verdade, para que surjam bons políticos para cuidar do Brasil, especialmente do Pará, todos nós temos a missão de colaborar para que eles possam nascer e terem sucesso.
* É preciso, contudo, que surja um sistema eleitoral moderno para melhorar a qualidade da política e dos políticos. É desanimador observar que velhos caciques, donos de partidos, saem correndo e têm horror à reforma política.
* Eles agem dessa maneira para não encarar as mudanças que se fazem urgentes, porque sempre manipularam os eleitores e nunca são cobrados pelas besteiras que dizem e produzem.