Correio de Carajás

De Itacaiunas a feiura: veja a regra chata de acentuação

Hoje, caro leitor, deixei de lado as histórias de amor, da nossa cidade e da minha vida pessoal. Falaremos de uma regrinha bem chata do famigerado Novo Acordo Ortográfico. Sim, aos poucos, marabaensamente, tentamos dominá-lo, seis anos depois de ter sido oficialmente obrigatório no Brasil. Não é de grão em grão que a galinha enche o papo? Pois então.

Decidi falar sobre esse assunto aqui, depois de tanto enlouquecer na revisão de reportagens de meus pupilos na Redação do CORREIO DE CARAJÁS. Hora e outro tenho de avisar que “Itacaiunas não tem mais acento” porque a regra diz que…tal, e tal, e tal.

E tenho visto outras tantas pessoas escrevendo o nome do nosso segundo maior rio com acento agudo, embora tenha sido abolido.

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Segundo a nova ortografia, as paroxítonas cujo acento recaía sobre o “u” (quando este fazia hiato com o ditongo anterior) perderam o acento. Entendeu? Provavelmente não, né? Pra que facilitar se se pode complicar? Bem, apenas algumas palavras fazem parte desse grupo seleto. Mais fácil, então, memorizá-las. Essa primeira palavra, nosso Itacaiunas, só chamará atenção mesmo dos habitantes da nossa região.

Mas existe, também, Bocaiuva, já que o nome dessa cidade perdeu o acento. Antes, Bocaiúva; agora, Bocaiuva. Ou seja, a regra gramatical aplica-se, também, a nomes próprios, como de cidade e de rio.

A terceira palavra, talvez, interesse aos amantes de tabernas, já que baiúca (taberna) agora é baiuca, sem acento. Por fim, temos a palavra feiúra; essa, Deus nos livre, sempre nos bate à porta, ainda que metaforicamente. Feiúra, leitor, perdeu o acento. Escreva, pois, feiura. Pronto! Simples assim.

A hifenização das palavras, porém, foi uma mudança polêmica e que ainda confunde muita gente. O hífen deixou de aparecer se o segundo elemento de palavras compostas começar com s ou r, caso em que as consoantes devem ser duplicadas. E também desapareceu quando o prefixo termina em vogal e a palavra seguinte começa com uma vogal diferente.

Assim, anti-religioso virou antirreligioso e contra-regra virou contrarregra. Agora, se o prefixo termina com r e a palavra seguinte também começa com r, como em super-realista, o hífen continua exatamente onde está.

Agora, uma mudança que achei bem vinda do novo acordo ortográfico entre os países que falam o português foi a extinção de uma vez por todas do trema, que costumava ser um diferencial em palavras como linguiça e frequente. Elas não levam mais essa acentuação, que foi aposentada.

Algumas pessoas me perguntam por que é importante aprender (decorar) regras de língua portuguesa, se elas não dão aula disso ou mesmo se não escrevem para um portal de notícia como você, Ulisses Pompeu?

Aí, eu tenho de explicar uma coisa muito importante para cada pessoa. A língua é um instrumento de poder. Quem a domina, dominará os demais. E não é só de palavras bonitas, argumentações bem elaboradas, mas também nos detalhes da fala e da escrita, na concordância verbal bem feita.

Ah, mas eu só escrevo para meus amigos no WhatsApp ou mando áudio, que é mais fácil ainda, então, não preciso me preocupar com o que falo ou digito. Eu vou concordar, meu amigo (a), mas preciso lembrar que mesmo em um grupo restrito, a gente, em maior ou menor grau, causa influência. Isso é inevitável, mesmo em grupo de família. Quem se sai melhor com o uso da língua consegue ganhar as “discussões”, mesmo que elas não sejam polêmicas.

Até semana que vem.

* O autor é jornalista há 26 anos e escreve crônica na edição de quinta-feira

 

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.