Ungido, de novo
Caso o governador Simão Jatene mantenha o mesmo critério que adotou na lista tríplice anterior com o resultado da eleição para a Procuradoria Geral do Ministério Público do Pará – “currículo e maior experiência” -, o procurador Gilberto Valente será reconduzido ao cargo. Desta vez, contudo, Valente, que na eleição de março de 2017 ficou em segundo lugar, agora obteve a primeira colocação. Em 2017, o mais votado foi o promotor César Mattar.
Medrado, o último
Leia mais:Valente (274 votos) encabeça a lista tríplice com diferença de apenas 24 votos do segundo mais votado, o promotor José Maria Lima Junior (250), e 44 votos do terceiro, a procuradora Cândida Ribeiro do Nascimento (230). A promotora Fábia de Melo-Fournier ficou em quarto, com 108 votos; e em quinto, o procurador Nelson Pereira Medrado, com 52. A votação teve apenas um voto nulo e um branco. Foi uma das eleições mais disputadas dos últimos tempos no MP estadual. Na base do voto a voto.
Política no parquet
Mais do que isso: houve divergências sobre o entendimento da data do pleito no MP – se em dezembro deste ano ou abril de 2019. Ou seja, a eleição acabou politizada. Recursos pró e contra a data foram parar no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Lá, um conselheiro que viu “contaminação política” no MP paraense, determinou a suspensão do pleito até que nova data fosse marcada. Por fim, um mandado de segurança deferido pelo ministro do STF, Edson Fachin, garantiu a eleição de ontem.
Afilhado tucano
Se a eleição fosse em abril, a caneta do governador que nomeará o eleito seria empunhada por Helder Barbalho (MDB), e não por Simão Jatene (PSDB), que até 31 de dezembro é quem detém essa prerrogativa de escolha. E isto faria enorme diferença política, porque a chance de reeleição de Valente seria mínima, até mesmo pelo fato de ser voz corrente entre os emedebistas que o atual chefe do MP possui estreita ligação com os tucanos. Valente nega essa vinculação.
Ganha, mas não leva
Nesse contexto político, do qual o MP não irá se livrar tão cedo, a menos que no âmbito legislativo surja uma lei capaz de tirar o poder de escolha das mãos do governador, reconhecendo o direito à autonomia do parquet em definir quem ele quer para comandá-lo – de preferência na condição de mais votado -, o medo de ganhar, nos votos dos colegas, mas não levar, no único e fulminante voto do governante de plantão, continuará a prevalecer.
Folclore político
No livro “Barata, Passarinho e outros bichos”, do jornalista paraense Odacil Catete, já falecido, há o seguinte relato: em Cametá, ou mais precisamente na pacata localidade de Curuçambaba, em campanha eleitoral, o deputado Antonio Amaral estava com o empresário Armando Carneiro saboreando uma carne muito gostosa na casa do chefe político da localidade. “É carne de veado”, diz alegre e satisfeito o anfitrião, num sotaque cametaense meio afrancesado. E prossegue, perguntando: “o senhor já havia comido?” E Antonio Amaral, num misto de displicência e bom humor: “no prato, ainda não…”.