Correio de Carajás

A ponte que caiu

A ponte que caiu

É caótica a situação de quem sai de carro do sul e sudeste paraense, pela antiga PA-150 em direção a Belém. A derrubada da ponte da Alça Viária sobre o rio Moju, no sábado passado, transformou a vida das pessoas num inferno. Enquanto o governo providencia rampas para que balsas às margens do Moju façam o transporte de veículos até a parte da ponte que não foi afetada, o único caminho é atravessar para Belém em balsas de uma empresa particular no porto do Arapari, em Barcarena.

Espera

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As oito balsas que se revezam por 24 horas para fazer a travessia dos veículos até Belém, numa viagem que dura mais de 1 hora, não estão dando conta do enorme número de ônibus, carretas, caminhões e automóveis, que chegam a esperar em uma longa fila até sete horas para fazer o embarque. Os caminhoneiros que transportam cargas perecíveis são os que mais reclamam da demora. Sem falar nos doentes que, em ambulâncias, também precisam de atendimento prioritário.

Desleixo tucano

Construída no governo de Almir Gabriel, a Alça Viária sempre precisou de manutenção nas quatro pontes sobre os rios Guamá, Acará e Moju. Isso se tornou ainda mais necessário durante o governo do também tucano Simão Jatene. Nada foi feito, até que no começo de 2014 uma balsa a serviço da Agropalma derrubou a quarta ponte, a de acesso à cidade de Moju. É inacreditável constatar que durante os 17 anos de existência da Alça Viária, nenhuma proteção aos pilares das 4 pontes foi providenciada. Deu no caos que se vê.

Quem pagará por isto?

Nessa segunda ponte derrubada, na semana passada, há um mistério no ar: a Biopalma, empresa da Vale, alega que a balsa que derrubou a ponte não estava a serviço dela, mas de outra empresa para a qual havia vendido cachos vazios de dendê. A lei, aliás, é clara quando trata das relações econômicas entre empresas e a responsabilidade delas, que perdura até a destinação final da carga. A questão principal é: quem vai pagar os prejuízos já sentidos por toda a população do Pará? A ponte não foi derrubada por obra do acaso.

Haja escombros

Desde ontem, a Secretaria de Estado de Transportes (Setran) começou uma inspeção no fundo do Rio Moju com mergulhadores para a retirada dos destroços da balsa e da ponte. Como emergência, será feito o deslocamento, para outra área do rio, de 1.500 mil toneladas de escombros. O objetivo é a liberação do local onde será construída a nova ponte. A retirada total dos escombros, que somam quase 3 mil toneladas, deve durar 4 meses. Um guindaste, montado em cima de uma balsa, vai retirar o resultado do desastre.

Sócios desconfiados

A Vale está na linha de tiro de seus endinheirados associados na Europa, após a tragédia social e ambiental de Brumadinho, que matou 220 pessoas, fora os quase 80 feridos. A Union Investment, terceira maior administradora de investimentos da Alemanha, já pulou do barco e vendeu todas as ações e títulos que detinha na Vale. A alemã concluiu que a Vale tinha “falhas estruturais significativas” e deixou de lado “medidas suficientes” para prevenir catástrofes semelhantes. Outras associadas também avisaram que vão sair.

_______________________BASTIDORES_________________________

* Quem conhece pessoalmente o governador Helder Barbalho diz que ele não consegue esconder a irritação com a derrubada da ponte do Moju.

* Mais que uma surpresa desagradável, foi um choque para Helder. Ele tem dito que os planos do governo terão que se adequar a esta realidade.

* De fato, a economia estadual sofreu um baque pesado. Se os governos tucanos tivessem construído pontes cujos pilares fossem protegidos, como ocorre em qualquer grande obra de engenharia civil, nada disso teria acontecido.

* Por diversas vezes, principalmente à noite, balsas com madeira, dendê e outras grandes cargas, bateram nos pilares das pontes da Alça Viária. Ninguém foi punido.

* O inquérito sobre as causas da tragédia econômica corre sob sigilo policial. Deveria ser aberto ao público, que precisa acompanhar o andamento.