Correio de Carajás

Chuvas e barragens

Chuvas e barragens

As chuvas devem começar a fustigar as regiões do sul e sudeste paraense, trazendo preocupações sobre a segurança das barragens. Esse é um assunto metido em “caixa preta”. Pouco se sabe e se divulga sobre risco de acidentes, principalmente nas barragens que abrigam rejeitos minerais. Na região de Carajás, há colossais depósitos de rejeitos de ferro, cobre e níquel. O monitoramento é diário? As populações de Parauapebas, Canaã dos Carajás e Marabá precisam saber.

O aviso veio do céu

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A propósito, fortes chuvas caíram sobre a região metropolitana de Belém, entre os dias 16 e 17 de fevereiro deste ano. Na cidade de Barcarena, a 25 km em linha reta da capital, ruas ficam alagadas. Até aí, nada demais, porque as chuvas intensas fazem parte do cotidiano do paraense ao longo de todo o verão. Dessa vez, no entanto, os moradores notaram uma cor diferente nos rios e igarapés próximos ao distrito industrial da cidade. Era algo meio avermelhado, diferente do que se via em outras tempestades.

Vazamento e contaminação

Óbvio que pelo histórico de contaminações, imediatamente os moradores de Barcarena desconfiaram de vazamento nos depósitos de rejeito de produtos químicos usados na produção da alumina. A empresa Hydro Alunorte era a principal suspeita. Dirigente da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia, Bosco Oliveira foi um dos primeiros a tirar fotos da nova contaminação.

As comportas, o problema

 

O próprio Bosco Oliveira narra o que ocorreu: “houve o transbordamento porque a própria Hydro tem as comportas das bacias e eles não conseguiram abrir as comportas que dão vazante para o Rio Murucupi e para os canais que atingem Tupanema, Vila Nova e Caripi. Não deu tempo de abrir as comportas e ela teve de transbordar. Fomos nós que fizemos aquelas primeiras imagens: duas, cinco horas da manhã e toda a empresa alagada pela lama vermelha da própria Hydro”.

Elcione viu o estrago

A lama vermelha continuava a se espalhar e o pânico começou a tomar conta dos moradores ribeirinhos. Muitos deles tiravam o sustento por meio da pesca nos igarapés. No dia seguinte, a Câmara dos Deputados criou uma comissão externa para acompanhar o caso. A deputada Elcione Barbalho conta o que viu em Barcarena: “Eu fui lá. Estive lá na hora. Nós entramos no furo e fomos lá na beira. Dava dó de olhar os igarapés com as águas turvas, totalmente contaminadas. Há de se convir que houve infiltração, e muito”.

O cientista comprovou

Além da suspeita de transbordamento do depósito de rejeitos químicos, descobriram-se dutos irregulares da Hydro para o escoamento clandestino. O pesquisador Marcelo Lima, do Instituto Evandro Chagas, deu o veredicto quanto ao vazamento, tanto nos dutos clandestinos quanto no depósito de rejeitos. “Quanto ao transbordo, nós temos evidências por meio de imagens e dados químicos que mostram que o que estava dentro da empresa (Hydro) estava também lá fora da empresa. A gente chama isso de assinatura química”.

 

__________________________BASTIDORES_____________________

* A Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), segundo informações contidas no relatório da Agência Nacional de Águas (ANA), ainda está em fase de planejamento para iniciar as fiscalizações das barragens cadastradas em seu banco de dados.

* É por essas e outras que o órgão governamental é sempre o último a agir em casos de acidentes ambientais que envolvam bacias de rejeitos. É a política de agir depois de a casa ter sido arrombada.

* Quem trabalha no campo precisa ficar alerta para a intoxicação por agrotóxicos. Mais de um milhão de paraenses vivem no campo.

* Estudo da Organização Internacional do Trabalho, feito em 174 países, que mostra que o acesso da população rural aos serviços de saúde é 50 por cento menor do que o dos habitantes das cidades.

* Além de atendimento médico é preciso um programa de educação e treinamento dos trabalhadores agrícolas. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, a intoxicação por agrotóxicos ocorre durante a pulverização ou a diluição do produto.