Correio de Carajás

Complicações das feridas operatórias II

As infecções pós operatórias podem ocorrer na incisão cirúrgica ou em outros locais do corpo, como os pulmões, bexiga ou trato urinário. O tratamento geralmente envolve antibióticos e cuidados locais para prevenir a disseminação da infecção.

As infecções pós-operatórias podem levar a complicações graves, como a formação de abscessos, a disseminação da infecção para outros órgãos, a falência de órgãos vitais, e até mesmo a morte

Clinicamente a infecção evidenciará descarga purulenta, sinais flogísticos, como edema, eritema, calor e dor, além da presença de febre e demais apresentações sindrômicas, dependendo do sítio cirúrgico. Pode estar ou não associada a outras complicações, como a deiscência.

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Identificada a condição infecciosa, a equipe hospitalar deve ser informada para que seja determinada a conduta. Exames gerais e culturas com antibiograma, como hemocultura e cultura da secreção da ferida, podem e devem ser solicitados para determinar o patógeno e a sua sensibilidade e resistência a antimicrobianos.

Em geral, a abordagem inicial é feita por meio de uma antibioticoterapia empírica até que os resultados das culturas com antibiograma estejam disponíveis. O uso empírico e racional de antimicrobianos deve considerar as características da microbiota do local da lesão e os patógenos colonizadores do serviço de saúde, os quais devem ser apontados pelas comissões de infecção hospitalar.

Após resultado das culturas, estabelece-se a antibioticoterapia personalizada, escalonando a classe do antimicrobiano adequado. O paciente deve permanecer internado até que suas características clínicas e laboratoriais sejam favoráveis e a ferida operatória esteja de bom aspecto.

Quanto à prevenção da infecção do sítio cirúrgico, é bem estabelecido que técnica adequada de antissepsia, esterilização do ambiente operatório, paramentação correta, antibiótico profilaxia bem indicada, boa técnica cirúrgica e manutenção do curativo são os principais pontos a serem abordados e observados na prática da equipe médica e também por outros profissionais do meio.

Um controle pré-operatório das condições que predispõe a ocorrência da infecção (como diabetes e o tabagismo) é medida que deve ser realizada e orientada aos pacientes para minimizar o risco infeccioso.

Já o hematoma pode ser definido como coleção de conteúdo hemático sob a pele na ferida cirúrgica e geralmente de evolução mais tardia. Seus principais fatores de risco incluem hemostasia inadequada no ato cirúrgico, uso de drogas (como antiagregantes plaquetários, anticoagulantes e antagonistas de vitamina K) ou doenças de base do paciente que promovam distúrbios da coagulação.

Apresenta-se clinicamente com flutuação da ferida, tumefação macia localizada com descoloração azul-purpúrica da pele sobrejacente. Bem como desconforto por compressão local. A infiltração sanguínea em tecidos adjacentes constitui um risco maior para ocorrência de infecções pela obstrução de linfáticos e capilares, além de promover afastamento das bordas da ferida – o que predispõe a deiscência.

Curativo oclusivo, cessação do tabagismo, interrupção à critério médico do uso de medicamentos moduladores da coagulação antes da cirurgia, boa técnica cirúrgica e rastreamento pré-operatório de condições que prejudiquem a coagulação são fundamentais na profilaxia dessa ocorrência.

Os pacientes que apresentam INR (Razão Normalizada Internacional da coagulação sanguínea) superior a 1,5 podem ainda receber antes de qualquer procedimento vitamina K (1 a 2 mg via oral) para prevenir o sangramento. Esse tema prossegue na próxima edição de terça-feira.

 

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.     

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.