Correio de Carajás

VIOLÊNCIA E MAUS-TRATOS II

Violência é toda ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de outra pessoa da família. Maus tratos consiste em qualquer tipo de agressão ao físico da criança ou adolescente com o sem o uso de objetos.

Algumas situações de risco indicam maior vulnerabilidade da criança ou adolescente a vivenciar uma experiência violenta: crianças não desejadas, não planejadas; prematuros ou crianças hospitalizadas por longos períodos; criança de sexo diferente da expectativa dos pais; crianças e adolescentes com nível intelectual ou estilo de vida diferente dos pais.

Filhos criados por outras pessoas ou com pais distantes física ou emocionalmente; filhos de outros relacionamentos; crianças e adolescentes que não aprenderam a respeitar limites, hiperativos ou com transtornos de conduta; portadores de deficiência ou doenças crônicas; filhos adotivos.

Leia mais:

Os profissionais de saúde devem ficar atentos, também, a algumas situações familiares de risco que sugerem a existência de um adulto agressor: cuidadores imaturos; cuidadores dominadores ou autoritários, que mantêm o domínio de toda a família, limitando o convívio social.

Pessoas oriundas de famílias com histórico de violência e com histórico de violência na sua vida pessoal; pessoas com dificuldades de socialização; mães portadoras ou com histórico de depressão pós-parto; pessoas dependentes de álcool e/ou drogas; pessoas com transtornos do comportamento ou doença mental.

O reconhecimento de que uma criança ou um adolescente esteja sendo vitimizado, pelos pais, familiares ou até mesmo colegas é difícil, já que a violência, na maior parte das vezes, não deixa marcas físicas. Então, na atenção à saúde da criança e do adolescente, é fundamental, além de identificar situações de risco, observar quadros que podem estar associados à violência, que não pode ser dita.

Mas se expressa por um comportamento extremo de apatia, agressividade, isolamento, irritabilidade ou choro frequente, sem causa aparente; sinais de ansiedade ou medo constantes; baixas autoestima e autoconfiança; dificuldade na fala, gagueira, tiques ou manias; depressão; afecções de pele frequentes sem causa aparente; aumento injustificável da incidência de infecções ou doenças alérgicas; enurese noturna, encoprese; recusa alimentar em menores de 1 ano.

Obesidade, anorexia nervosa, bulimia ou outros transtornos alimentares; desnutrição ou má nutrição por falta de ingestão alimentar; má higiene corporal, contrastando com o aspecto dos pais; roupas inadequadas ou desconfortáveis; acompanhamento de saúde inadequado ou precário; atraso vacinal, sem justificativa; despreocupação dos pais ou cuidadores com os locais que as crianças ou adolescentes frequentam.

Atraso no desenvolvimento psicomotor e de linguagem; atraso na escolaridade; dificuldades escolares; acidentes frequentes; problemas de adaptação social; destrutividade ou auto destrutividade – uso de drogas, comportamento delinquente e tentativa de suicídio.

Crianças e adolescentes vítimas de violência física podem chegar ao atendimento de rotina apresentando lesões em várias partes do corpo, em regiões cobertas, não relatadas, mas percebidas ao exame físico como arranhões, marcas de instrumentos, como cintas, fivelas; hematomas em vários estágios de evolução; cicatrizes de queimaduras; lesões puntiformes por queimaduras com pontas de cigarros.

Bem como lesões ou fraturas em estágios diferentes de cicatrização ou cura. Por isso, durante qualquer procedimento ou exame físico (sempre que possível, despindo a criança ou adolescente), é preciso que o profissional esteja atento a essas alterações que podem indicar uma situação de violência.

Nos casos de violência sexual, a presença de alterações ao exame físico é bastante rara. Os sintomas físicos mais comuns são: distúrbios digestivos; inflamações, equimoses, fissuras e hemorragias vulvares ou anais; infecções urinárias e vaginais recorrentes; doenças sexualmente transmissíveis, gravidez, aborto e morte por tentativa de aborto ou suicídio. O tema continua na próxima terça-feira.

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.     

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.