Muita gente esperava que eu fosse escrever, nesta quinta-feira, uma crônica sobre a chegada da minha neta, Maria, que veio ao mundo cabeludinha que só ela nesta terça-feira, dia 31 de maio. Mas ainda estou digerindo o parto de Gabi, a felicidade do pai Breno e as idiossincrasias que alimentem minha caneta Bic escrita fina. Mas resolvi enganar meio mundo de parente e amigos, até mesmo com o título dessa crônica.
Mas por hoje, vou falar de outra ansiedade, que não seja a chegada da neta. Tenho a impressão, desde menino na Velha Marabá, sofrer de uma ansiedade crônica. Esperar, toda semana, por uma mudança às segundas-feiras. E mais aperreante que as manhãs de segunda são os começos de ano. Um atrás do outro e a sensação de ser engolido por propósitos de manada e a idade se indo.
Sempre na expectativa de uma virada no enredo da vidinha real. É muito chato fazer listas ou se obrigar a ter “foco”, tipo planilha de Excel. Essa organizaçãozinha capital, positivista, traduzida em ganhos de dinheiro, sucesso, metas e, agora, a necessidade de um “coach”.
Leia mais:Puxa vida! Não diferente das outras trocentas pessoas, quero arrumar as gavetas; doar as roupas que comprei e pouco usei; mandar trocar o forro da cozinha; organizar os arquivos do computador de casa; chamar o homem para consertar o forno do fogão; limpar o ar condicionado… Coisas que vão virando os anos.
Também resolver, aos 52 anos, se vou voltar para universidade e me decidir por um mestrado (para tentar imitar minha filha Brenda). Mas quero, ainda, fotografar todos os pássaros e bichos do mundo; viajar por aí; dar atenção a minha mãe; encontrar minhas quatro irmãs, meus filhos e alguns amigos. Ser um companheiro mais amoroso…
Engraçado, quando se é mais menino, colocam na cabeça da gente que o futuro só presta se conseguirmos nadar em dinheiro. Daí a jumentice, durante boa parte dos anos, de tentar enriquecer.
Ora, ora, como se isso estivesse condicionado somente a bestice da meritocracia e à ilusão do trabalho de sol a sol. Fosse assim, eu seria um Tio Patinhas, pois fui continuo aos 13 anos no Banco Bandeirantes, no auge do garimpo de Serra Pelada.
Entendam, não sou contra as metas, mas essa palavra poderia ser menos autoritária. Nem sou contra alguém se organizar, obstinadamente, para viver em Dubai. Não. Do contrário, eu já estaria morto. A falta de frivolidade nesse modo de atravessar a vida é que me incomoda.
Sofro de uma inquietação de estar sempre no meio de uma encruzilhada. E gosto das encruzilhadas, mas é humanamente cruel acordar os dias (muitas vezes feito iPhone pra repetir tarefas) e estar insatisfeito com a ordem das coisas. Quero pedalar sem pressa, nadar sem a ditadura de 60 minutos pra sair da piscina.
Tenho grandes prazeres, cara leitora e leitor. Não sou apenas incômodo, mas estou de saco cheio dessas regras para alcançar o prana. Esse impositivo nos degraus do triunfo particular…
Junho chegou e com ele o Festejo Junino. Desejo ser feliz porque preciso acreditar, de verdade, que será melhor.
Juro, queria ser mais cartesiano, mais produtivo, mais senhor dos objetivos, ser mil e uma utilidades, empreendedor; ser o funcionário padrão, dar conta de tudo, ser toda hora potente, performático, criativo, ser o mais curtido no Instagram ou ter uma carrada de “amigos” no Face… Mas, que nada! Posto muito pouco por lá e perco horas vendo o que os outros estão dizendo.
Não dou conta dessas baitinguices. Talvez, devesse ir à terapia ou ir me constelar. Ou não. Pegar o caiaque, descer o Rio Sororó desde a vilinha até a foz, fotografar besteira de ‘passarins’ e encontrar o Itacaiunas já me desengasgam a espinha.
Ah, volto à Maria. Qualquer dia desses escreve para a cabeludinha que acaba de chegar ao mundo e está encantando muita gente por aí…
* O autor é jornalista há 26 anos e escreve crônica na edição de quinta-feira
Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.