Correio de Carajás

100 dias, o espelho

É hábito, no Brasil, o governante determinar algumas medidas em seus primeiros 100 dias de gestão. Primeiro, para sinalizar que fará um governo diferente do antecessor. Segundo, para imprimir um estilo de administração, se mais fechado ou aberto. Tanto podem ser decisões internas, para tomar pé da máquina que herdou, como medidas populistas de impacto junto à população. Qual delas fará parte do cardápio administrativo do governador Helder Barbalho? Resta aguardar.

A herança de Jatene

Ao passar o bastão do Estado para Helder, o tucano Simão Jatene deixa um governo com muitos problemas na área de segurança, entraves na educação, mas na parte do funcionalismo os salários estão em dia. O décimo terceiro foi pago, o que já é um alívio para a folha de Helder. O diabo não é tão feio como se pinta. Na área da saúde, por exemplo, está o maior legado: os hospitais regionais. De resto, Jatene foi ruim na questão social. Nosso índice de desenvolvimento humano continua entre os piores do país. É aí que Helder pode marcar sua gestão.

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Fórmula boa, mas cara

Aliás, na área de segurança, Helder começou com tudo: seu secretário, Uálame Fialho, mandou ocupar ontem, pelas forças policiais, os bairros que, nas estatísticas, figuram como os mais violentos de Belém: Guamá, Terra Firme, Benguí, Cabanagem, e o município de Marituba. O objetivo é prender criminosos e prevenir assaltos. Essas ações, com grandes contingentes militares, ajudam, mas não resolvem o problema da violência. São também episódicas, uma vez que demandariam muitos recursos caso fossem realizadas diariamente, até mesmo a cada semana.

Perfil genético do mal

Por falar nisso, Sérgio Moro, que ontem tomou posse como ministro da Justiça, quer que, em quatro anos, o Banco Nacional de Perfis Genéticos insira os dados “de todos os condenados por crimes dolosos no Brasil ou, se não conseguirmos a alteração pretendida na lei, de todos os condenados por crimes dolosos violentos”. No Pará, onde crimes dessa natureza deixam a população muito assustada, os envolvidos devem fornecer informações valiosas à área de inteligência de Moro. Nas penitenciárias, os perigosos se misturam com condenados por pequenos delitos. É o inferno da generalização criminosa.

Porto seguro, não

No discurso de posse, Sérgio Moro disse que pretende que o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional aprofunde a cooperação jurídica internacional. “Não deve haver portos seguros para criminosos e para o produto de seus crimes. Quando países não cooperam, quem ganha é somente o criminoso. O Brasil não será um porto seguro para criminosos e jamais, novamente, negará cooperação a quem solicitar por motivos político partidários”. Se for nessa e em outras linhas, Moro será osso duro de roer para muitos criminosos.

_________________________BASTIDORES_______________________

* Credores do governo de Jatene já estão com suas contas não pagas engatilhadas para cobrança. Obviamente, são dívidas a serem pagas na gestão de Helder.

* Natural que isso ocorra. Pepinos financeiros sempre são rolados na saída e entrada de governos. Mas a área financeira do novo governador promete estudar cada despesa e liberar o pagamento de forma compassada.

* Antes de pagar, segundo revelou à coluna uma fonte do governo de Helder, será posta sob lupa a origem da despesa. E, principalmente, se o serviço foi efetivamente prestado. Caso não tenha sido, tchau e benção.

* Esse negócio de dívida de um governo para outro faz lembrar o velho e sarcástico Barão de Itararé. Conhecido por não pagar ninguém, ele ensinava: “dívida velha eu não pago; e as novas, deixo envelhecer.

* O Pará tem hoje 16 mil policiais militares, quando deveria ter no mínimo 30 mil para oferecer melhor segurança à população. Em 12 anos de mandato, Jatene aumentou o efetivo com apenas 6 mil PMs.

* O pedido de 500 homens da Força Nacional de Segurança, feito ontem por Helder ao ministro da Justiça, será um reforço à essa defasagem de policiais.