Correio de Carajás

Transtorno por uso de álcool (II)

Delirium tremens: síndrome de abstinência ao álcool muito grave, caracterizada por hiperatividade autonômica profunda, extrema confusão, agitação, delírios vívidos e alucinações (em geral visuais e táteis), que começa 3 a 5 dias após a última ingestão de bebida alcoólica. A mortalidade é de 5 a 15%.

Encefalopatia de Wernicke: uma síndrome relacionada com o álcool, caracterizada por ataxia, oftalmoplegia e confusão, frequentemente com nistagmo, neuropatia periférica, sinais cerebelares e hipotensão associados; ocorrem prejuízo da memória de curto prazo, desatenção e labilidade emocional.

Bem como, posteriormente, a síndrome de Wernicke-Korsakoff, caracterizada por amnésias retrógrada e anterógrada, além de confabulação, sendo causada por deficiência crônica de tiamina, que resulta em lesão dos núcleos talâmicos, corpos mamilares e estruturas do tronco encefálico e cerebelares. Os achados laboratoriais consistem em anemia discreta com macrocitose, deficiência de folato, trombocitopenia, granulocitopenia, testes de função hepática anormais, hiperuricemia e triglicerídeos elevados.

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Dois exames de sangue com sensibilidade e especificidade ≥ 60% são a y-glutamiltransferase (GGT) (> 35 U) e a transferrina deficiente em carboidrato (CDT) (> 20 U/L ou › 2,6%), cuja combinação provavelmente é mais precisa do que cada uma delas em separado. Diversos exames diagnósticos podem evidenciar disfunção de órgãos relacionada com o álcool.

A abstinência alcoólica aguda é tratada com várias vitaminas do complexo B, como a tiamina (50 a 100 mg/dia IV ou VO por 1 semana ou mais) para repor os estoques depletados; utilizar a via IV caso haja suspeita de síndrome de Wernicke-Korsakoff, já que a absorção intestinal não é confiável em alcoolistas.

Os fármacos depressores do SNC devem ser utilizados quando há convulsões ou hiperatividade autonômica, para impedir o estado rápido de abstinência no SNC e possibilitar uma redução mais lenta e controlada da substância. Os benzodiazepínicos de baixa potência com meias-vidas longas constituem a medicação de escolha. (p. ex., diazepam 10 mg VO a cada 4 a 6 h; clordiazepóxido 25 a 50 mg VO a cada 4 a 6 h).

Na abstinência grave ou DT, altas doses de benzodiazepínicos em geral são necessárias. O estado hidroeletrolítico e a glicemia devem ser rigorosamente monitorados. Os monitoramentos cardiovascular e hemodinâmico são cruciais, pois o colapso hemodinâmico e as arritmias cardíacas não são incomuns.

As convulsões generalizadas decorrentes da abstinência raras vezes exigem intervenção farmacológica agressiva além da administrada no paciente comum sofrendo de abstinência, ou seja, doses adequadas de benzodiazepínicos.

Em relação a recuperação e sobriedade, realizar aconselhamento, orientação e abordagem cognitiva. Primeiro, deve-se tentar que o paciente alcance e mantenha um alto nível de motivação em relação à abstinência. Isso inclui orientação sobre o alcoolismo e instrução da família e/ou amigos para que parem de proteger a pessoa dos problemas causados pelo álcool.

Uma segunda meta é ajudar o paciente a reajustar-se à vida sem o álcool e restabelecer um estilo de vida funcional mediante aconselhamento, reabilitação profissional e grupos de autoajuda, como os Alcoólicos Anônimos (AA).

Um terceiro componente, chamado de prevenção de recaída, ajuda a pessoa a identificar situações em que o retorno à ingestão do álcool é provável, formular maneiras de gerenciar essas situações e desenvolver estratégias de enfrentamento que aumentem as chances de um retorno à abstinência caso ocorra um deslize. Não há evidências convincentes de que a reabilitação com internação seja mais eficaz que o atendimento ambulatorial.

Vários medicamentos podem ser úteis na reabilitação dos alcoolistas; em geral, os medicamentos precisam ser mantidos por 6 meses caso se observe uma resposta positiva.

* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.

 

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.