Correio de Carajás

Especial Mães: Tempo de pôr mamãe no colo

A sintonia entre ambas é fina. A mãe tem uma voz doce e suave e a filha se destaca, entre outras coisas, por uma boa argumentação no diálogo. Em meia hora de conversa para essa reportagem, Açúnia Sales Pio de Lacerda e Ana Cristina Lacerda não entraram em contradição em nenhum ponto. Pelo contrário, tratavam de fortalecer ainda mais as ideias uma da outra, demonstrando proteção mútua e, também, cuidado e carinho. Hoje, a mãe mora na casa da filha, no Bairro Novo Horizonte.

A mãe explica que o nome incomum (Açúnia) é fruto de uma fusão que seus pais fizeram com o nome de uma avó e uma tia dela: Açucena e Antônia. “Por onde ando, quando falo meu nome, as pessoas não entendem direito. Preciso soletrar, dizer como é. Explicar a origem do nome”.

Açúnia é natural de Manaus e conheceu o marido José Heimar de Lacerda na capital manauara, já engenheiro civil. Ele trabalhava em uma construtora e o casal mudou-se deixou o Norte rumo ao Sudeste. Tiveram dois filhos. Ana e Maurício, que agora está morando na Alemanha.

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Quando a família deixou Manaus com destino a São Paulo, Ana Cristina tinha dois anos de idade. Depois de cinco anos, eles foram transferidos para o Rio de Janeiro, onde ela viveu a adolescência e fez faculdade. “Quando meu marido se aposentou, voltamos para Belém porque a família dele é de lá. Depois de alguns anos, viemos bater aqui (em Marabá) com a Ana Cristina e o Walmor Costa (genro), porque já estávamos idosos”, conta.

A mãe rasga elogios para a filha, afirmando que ela sempre foi muito comportada, desde pequena. “Graças a Deus os meus filhos nos deram muitas alegrias. Tanto ela quanto ele (Maurício)”.

Açúnia recorda com que a filha praticava esportes na juventude, sempre foi saudável e as visitas aos médicos eram esporádicas. Também fez questão de citar que, como costureira, sempre produziu roupas para Ana Cristina, inclusive no tempo em que a filha era repórter da TV Liberal. “Até hoje costuro para ela”, diz, em tom confessional.

Com um olhar para o repórter e outro para a mãe, mas sentada ao seu lado, Ana Cristina diz que as duas têm muito em comum e ela acabou influenciando a mãe a fazer pilates, como ela. “Minha mãe costurou para fora muito tempo, sempre foi uma excelente costureira. Tudo que fez sempre foi com muito capricho. Uma característica dela é fazer as coisas bem feitas. Eu era privilegiada diante das minhas amigas porque eu sempre tinha roupa nova e do jeito que eu queria (risos). Fui pra muitos aniversários, festinhas, sempre com as roupas que a minha mãe fazia e sempre do meu gosto. Isso é muito legal, a gente ter uma coisa personalizada”.

Questionada se hoje ela escolhe as roupas da mãe, que já tem mais de 70 anos de idade, Ana diz que Açúnia sempre teve muito bom gosto e isso não mudou com a idade. “Ela se veste de uma maneira muito discreta, sempre prezou pela imagem, por andar bem vestida, por estar de acordo com a idade. Hoje ela não costura mais pra fora, mas ainda continua quebrando os meus galhos”, orgulha-se.

Ana Cristina, ainda bebê, no colo da mamãe Açúnia Sales na década de 1970

Comidinha saudável

Mãe e filha afirmam que a comida saudável sempre foi o prato principal nas refeições da família. Açúnia conta que os filhos nunca reclamaram e se habituaram com saladas, frutas e até hoje os alimentos naturais fazem parte da dieta de ambas. “Eu nunca fui de botar muitas frituras na mesa. Ela não tinha muitas preferências. Ela gostava de um bom cozido, um doce, que agora ela come muito pouco. A comida da gente sempre foi caseira, nunca sofisticada. Agora, o meu esposo gostava de uma linguiça frita”, recorda.

Hoje, quando vai ao supermercado sozinha, Ana Cristina diz que sempre lembra de comprar algo que agrada a mãe. Entre as comidas preferidas de Açúnia, ela cita a excêntrica e saudável pitaya. “Sempre foi uma característica dela fazer comidas mais saudáveis. Meu pai não. Ele ensinou a gente a comer as bobagens. Se eu tiver no mercado e ver folhagens, legumes e verduras, lembro da minha mãe porque é o que ela mais gosta. E café. Ela adora café (mais risos)”.

INDEPENDÊNCIA

Ana diz que praticamente não há restrições sobre o ir e vir da mãe, mas reconhece que em algumas situações prefere levar Açúnia para alguns lugares específicos. “Nós andamos muito juntas. A gente se faz muita companhia, dentro ou fora de casa. Vamos ao shopping, supermercado, cinema. Tentamos montar um esquema de sempre deixar alguém em casa. Pra levá-la, buscá-la, não ficar andando sozinha na rua. Precisamos dar esse apoio. Ela vai a todos os lugares, supermercado, açougue, farmácia, pilates, mas é tudo aqui perto. Além disso, ela é responsável, hoje, pela gestão da casa. É ela quem cuida da gente. Minha mãe é muito independente. Viaja sozinha. Nunca foi uma pessoa limitada. Eu acho que isso são características muito positivas, que ajudam com que a vida da gente seja mais fácil”, sintetiza a filha.

Na avaliação de Açúnia, os laços entre elas se fortaleceram mais ainda depois que o esposo faleceu, há ano e dez meses. Mãe e filha passaram a contar ainda mais uma com a outra. “Eu vejo muita gente que mora junto, mas família não tem um lar harmonioso. Até mesmo a conduta do Walmor (esposo) em relação aos meus pais sempre foi elogiável, e ele os tratou muito bem, com amor e dedicação mesmo. Depois que meu pai faleceu, me sinto na obrigação ainda maior de proteger minha mãe”.

Entre as coisas que fazem juntas, está a diversão de montar e desmontar quebra-cabeças, daqueles bem complexos mesmo. Têm uma mesa só pra isso e uma estrutura invejável em casa (mais e mais risos). (Ulisses Pompeu)