Correio de Carajás

Especial Mães: Bete indo por aí com mamis

O sorriso largo (e nada discreto) é o cartão de visita das duas. Izaura Ribeiro Alves, de 83 anos, parece que transferiu com naturalidade para a filha Elizabete Ribeiro uma de suas principais características. Vieram de Imperatriz, no Maranhão, e mesmo depois que a filha casou, ambas continua bem juntinhas, dividindo o terreno ao meio no Bairro Belo Horizonte.

Izaura conta que é natural do Ceará e foi morar em Imperatriz ainda jovem.  Conheceu o primeiro marido, Ezequiel Paiva da Silva, com quem casou-se aos 24 anos, e com ele teve um filho. Na década de 1980, casou-se com o pai de Elizabete (ou Bete), Meceno Ferreira Silva.

Há 17 anos, mãe e filha decidiram mudar-se para Marabá. Bete veio na frente, organizou o caminho para os pais, mas na hora “H”, a família de Meceno, que tinha 89 anos, não deixou ele vir. Em 18 de janeiro de 2004 Isaura chegou aqui e não saiu mais.  Em dezembro daquele ano o marido morreu na ITZ (abreviatura carinhosa de Imperatriz).

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“Eu fiquei cuidando da Bete e ela de mim. Assim a gente foi levando a vida de casa alugada, conseguimos o terreno, construímos uma casa e depois ela se casou também e hoje mora em outro imóvel, ao meu lado. E até hoje cuidamos uma da outra.

Izaura é exímia cozinheira e gosta de agradar a filha, o genro e o neto, claro. E um dos pratos mais atrativos de sua culinária nordestina é a famosa – e põe famosa nisso – cocada (uma delícia!). Mas ela também conquista pelo tempero de uma galinha caipira irrecusável.

“Sou uma aposentada sozinha, de renda baixa. Dou graças a Deus por ela morar perto de mim, por pagar minhas contas, me levar ao médico. Ela ainda não botou uma pessoa dentro de casa para cuidar de mim porque eu não permito”, diz, entre risada e um tom ameaçador.

Além das caminhadas matinais, elas compartilham outros momentos juntas, como os cultos na Igreja Batista do Novo Horizonte, onde congregam há vários anos.

A mãe diz que parece que a filha conhece seus pensamentos, contribui com tarefas que já lhe são impossíveis e isso ajuda a manter a boa qualidade de vida. “Eu não senti falta do primeiro e nem do segundo marido. Isso porque tenho uma filha muito presente”.

Elizabete, por outro lado, pondera que a vitalidade invejável da mãe, às vezes, é um problema, porque ela parece “ligada no 220” o tempo todo. “Devido à idade dela, há algumas atividades que precisam ser controladas. A cabeça dela é muito boa, mas tem horas que precisamos segurar algumas coisas”, diz.

Cita o exemplo do ímpeto da mãe em cozinhar em um congresso anual da Igreja Batista em Marabá, alimentando entre 100 a 200 pessoas. A filha precisou colocar um freio para não forçar demais, mas mesmo assim a mãe reclama e não se contentar em apenas atuar como coordenadora das refeições.

Um problema de catarata que se agravou há dois anos apontou para a necessidade de uma cirurgia que está próxima de ser realizada em uma das vistas de Izaura. “Ela tem muita vitalidade e os olhos são a janela da alma e precisam também ser cuidados. Mesmo com essa deficiência, minha mãe lê a Bíblia todos os dias e se alimenta muito bem também, para manter a qualidade de vida”.

Bete sente orgulho de a mãe ser saudável, de uma forma geral, aos 83 anos de idade e usar apenas remédio para pressão alta. “Sou muito feliz de ter uma mãe dinâmica e alegre. Nunca a vi reclamar de nada, apesar dos apertos da vida. Isso faz com que a gente se sinta bem e queira cada vez mais cuidar para que ela tenha vida plena, que se sinta amada e respeitada. É uma honra eu estar falando isso pra ela hoje”, diz Bete, com lágrimas nos olhos às 6h30 da manhã, durante a entrevista em um banco da Avenida Tocantins, no Bairro Belo Horizonte. (Ulisses Pompeu)