Com as fortes chuvas que castigam Marabá e outras cidades da região sudeste do Pará, o Rio Tocantins atingiu a marca de 9,06 metros na tarde desta quarta-feira (13). Com isso está a apenas um metro da condição de alerta, que é de 10 metros, em Marabá, o que pode ser alcançado nas próximas horas. A Defesa Civil municipal, por seu turno, como plano para o momento parece ter apenas a “preparação de abrigos”, enquanto várias famílias desalojadas pelo Rio Itacaiúnas no Bairro da Paz, Carajás II e Belo Horizonte, reclamam estar por conta própria.
Grupo de 30 desses desalojados foram encontrados ontem pelo Jornal CORREIO tentando se ajeitar como podiam num espaço cedido pela Obra Kolping, no Belo Horizonte, sob a cobertura de um ginásio que nunca foi concluído. As condições são precárias e a queixa geral é de não terem recebido qualquer apoio da Defesa Civil ou Prefeitura.
De acordo com Ronilson Cardoso da Silva, que abandonou barraco no Bairro Carajás II, a situação do abrigo é precária e nenhum contato dos órgãos competentes com os moradores foi feito até o momento. “Até agora a Defesa Civil ainda não veio nos procurar para falar nada. Já pedimos um banheiro químico para o pessoal ao menos fazer as necessidades, mas até agora nada. Eles não providenciaram nada. Estamos aguardando se eles vêm aqui ver a nossa situação, ver o que nós estamos necessitando”, reclamou.
Leia mais:No momento em que a Reportagem esteve no ginásio, as reclamações eram as mesmas: a falta de banheiros, de lonas e de uma equipe para fazer a limpeza do espaço, que está muito sujo e com matos ao redor.
Ajuda coletiva
Sem água, banheiros, energia e praticamente sem alimentos, os desalojados encontram forças para se ajudarem. A limpeza do local é feita de maneira coletiva, enquanto outro pequeno grupo de homens tentava improvisar um fio de energia para ligar as geladeiras e fazer com que assim não estrague o que ainda resta de comida.
Ainda segundo Ronilson, os próprios moradores que se mobilizaram e estão improvisando paredes feitas com lonas, plásticos e lençóis. Da mesma forma, eles também conseguiram implementar um fio de energia para atender às 30 famílias que se encontram alojadas no espaço.
“O fio de energia é meu. Eu mesmo trouxe e fiz a instalação aí para o pessoal. O problema é que já tem muita gente aqui e faltou mais fio. A energia está fraca, não pode nem ligar a geladeira. A gente pede que as autoridades tomem a providência de virem conversar com a gente porque nós estamos largados aqui, estamos aqui esperando por eles para receber esse apoio”, suplicou.
A dona de casa Keila Dalila é outra desabrigada vítima da enchente. Ela já está no abrigo há oito dias e afirmou ter procurado a Defesa Civil na semana passada para pedir um carro de mudanças. Segundo ela, o órgão não conseguiu liberação para que fosse enviado o veículo para levar seus pertences até o ginásio.
“Eu paguei minha mudança porque eles não liberaram. Eles falaram que só quando o rio atingir o estado de emergência que a verba será liberada para a gente. Falaram também que iriam enviar banheiro químico para a gente, mas até agora, nada. Estamos aqui igual cachorro sem dono, parece que não somos gente, estamos precisando improvisar as coisas por aqui. Não veio ninguém, ninguém”, desabafou Keila.
Ainda de acordo com a dona de casa, os moradores continuarão a esperar a visita da Defesa Civil para que ao menos as necessidades básicas deles sejam atendidas. “Não tem carro-pipa, não tem gari para fazer limpeza, absolutamente nada. Tudo que foi feito aqui está sendo feito por nós mesmos”, finalizou.
Ontem à tarde o CORREIO quis saber do assessor de Comunicação da Prefeitura de Marabá, Alessandro Viana, sobre as queixas dessas pessoas atingidas, de que têm ouvido de servidores públicos que terão de se virar enquanto o rio não chega aos 10 metros. Ele disse que isso com certeza não estaria acontecendo e que iria verificar o que está sendo feito pelos já desabrigados. Não deu outro retorno até o final da edição. (Karine Sued)