Correio de Carajás

Protesto popular contra demissão em massa na saúde de São Félix do Xingu

Protesto popular contra demissão em massa na saúde de São Félix do Xingu

Um dos maiores municípios do mundo – e o maior produtor de gado do Brasil – São Félix do Xingu vive uma crise sem precedentes na saúde pública. A prefeita Minervina Barros e seu secretário de Saúde, Ireno Pereira, tomaram uma atitude que paralisou o atendimento no Hospital Municipal e também na Unidade Materno Infantil Nossa Senhora das Mercês, que funcionam lado a lado.

Cerca de 50 funcionários contratados do Hospital Orzeu Jonas Guida, que estavam há dois meses sem receber salários, agora foram demitidos sumariamente e sem uma justificativa plausível. Para piorar, Minervina e Ireno transferiram os funcionários efetivos do hospital e maternidade e os mandaram para postos de saúde.

A demissão ocorreu no início desta semana, mas nesta quinta-feira, 3, depois de muita pressão, o secretário se viu obrigado a dar esclarecimento para os servidores. Ireno alegou que o município não dá conta de pagar a folha de pagamento das duas casas de saúde nos moldes que estava e que foi preciso diminuir o número de profissionais de saúde, garantindo que os que restaram dariam conta de atender a grande demanda.

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Mas não foi o que aconteceu. Na manhã desta sexta-feira, segundo alguns vídeos e depoimentos recebidos pela Reportagem do CORREIO, em Marabá, a maternidade estava praticamente paralisada e o atendimento no hospital ficou “capenga”, conforme denunciou José Elias Cruz, morador da cidade, que enviou áudios e vídeos mostrando o caos no serviço do Hospital Orzeu Jonas Guida. “O que a gente vê aqui é que é má gestão dos recursos públicos. Há cargos comissionados dados como presentes para parentes do secretário municipal de saúde e muitos cargos com altos salários. Estão reduzindo os investimentos com quem realmente trabalha e aumentam para regalias para o staff do secretário”.

Depois da reunião ocorrida ontem, os servidores demitidos pretendiam trancar o secretário Ireno Pereira no laboratório municipal, mas ele acabou conseguindo sair. Depois disso, os servidores e vários moradores de São Félix do Xingu percorreram várias ruas da cidade pedindo a renúncia do secretário de Saúde e da prefeita Minervina Barros. “Seis vereadores já pediram a renúncia desse secretário de Saúde para a gestora municipal, mas ela não conseguiu exonerá-lo. Esse desgaste se arrasta há cerca de um ano”, disse José Elias.

REPÚDIO DO SINDSAÚDE

Ontem mesmo, quinta-feira, o Sindicato dos Trabalhadores da Saúde de São Félix do Xingu emitiu uma Nota de Repúdio com o seguinte teor: Por anos, a classe trabalhadora da saúde de São Félix do Xingu vem sendo massacrada pelos gestores do município. Servidores que se doam, entre salários atrasados, falta de medicamentos, insumos entre outras dificuldades, para manter o atendimento aos populares e cumprirem com seu juramento de salvar vidas sofrem hoje com uma atitude retrógrada da atual administração, que jurava no palanque que mudaria a cara da saúde e dos trabalhadores.

Com a intenção de realizar readequações no quadro efetivo da secretaria, vários servidores foram desligados da Maternidade e do Hospital; contratados foram demitidos sem ao menos uma justificativa e com salários atrasados e isso pode implicar diretamente no atendimento da população e na jornada excessiva de trabalho para os servidores que restaram. A sociedade não pode aceitar um retrocesso tão grande na saúde, que já é tão precária”.

Também na quinta-feira, os vereadores e o Sindicato dos Trabalhadores de Saúde recorreram ao Ministério Público Estadual solicitando a anulação da nova escala de serviços, que precariza os trabalhadores que restaram.

DESABAFO DO VEREADOR

Também procurador pela Reportagem do CORREIO, o vereador Batista Abreu lamenta que a Câmara Municipal não tenha conseguido se unir contra os desmandos da gestão municipal.  Disse que apenas 5 dos 11 vereadores se posicionaram de forma firme contra a demissão em massa de servidores. “A situação aqui está complicada. O secretário de Saúde trouxe uma equipe de fora, que fez um estudo na maternidade e hospital e disseram que a única solução era demitir 40% dos prestadores de serviços e ainda realizaram um remanejamento geral. Isso causa uma repercussão negativa para essa gestão, mas principalmente uma má prestação de serviço para a população, porque ¼ dos funcionários que ficaram não dão conta de atender a demanda de nosso município, que é de 120 mil habitantes”, disse Batista.

O vereador também declarou à Reportagem que há reclamação geral por causa da falta de médicos em várias especialidades, como cardiologia, ortopedia e pediatria. Há médicos que, desde 2007 têm dinheiro para receber do município e mesmo assim foram exonerados, como o Dr. Itamar, que tem cerca de R$ 160.000,00 para receber da Prefeitura de São Félix. Médicos que trabalham aqui ficam um certo tempo e depois vão embora, porque não conseguem se manter sem pagamento”, desabafa Batista Abreu. (Ulisses Pompeu)