Correio de Carajás

Empreendedoras criam Quintal Coletivo para expor produtos e apoiar outras mulheres

Empreendedoras criam Quintal Coletivo para expor produtos e apoiar outras mulheres

A partir de algumas conversas despretensiosas entre um grupo de mulheres, há quatro meses, surgiu um interessante e produtivo movimento que gira em torno de fortalecer a relação das mulheres de Parauapebas com o empreendedorismo. Neste sábado, dia 5, entre 17 e 22 horas, acontece a edição mensal do Quintal Criativo, com exposição de produtos, comida, bebida e roda de conversa.

O espaço funciona na casa de Samia Nunes, na Avenida Airton Senna, no Bairro Primavera. Ela idealizou o projeto e convidou algumas conhecidas para que fosse montado o coletivo que deu início à feira. “Agora está evoluindo para um projeto de fomentar o empreendedorismo feminino”, diz. Conforme ela, sempre que viajava conhecia e acompanhava movimentos semelhantes, além de ter ideias a partir de exemplos que encontrava na internet.

Dona de duas lojas online, a Alfaia e a KaKi Saboaria Natural , Samia começou a imaginar maneiras de dar maior visibilidade aos produtos. “Comecei a minha loja online e senti dificuldade de ter um espaço físico para as pessoas conhecerem o produto, mas ao mesmo tempo eu não tenho vontade de ter loja física”.

Leia mais:

Em um curso do Sebrae conheceu Lany Damasceno, que é proprietária da Lany Biscoiteria e ambas participaram de um evento coletivo em outro espaço de Parauapebas, que acontece esporadicamente e em menores proporções. Lá, as duas encontraram a Karina Martins de Carvalho, responsável pela Karina Saboaria Natural e juntas começaram a desenhar uma forma de atuar em empreendedorismo feminino. “Foi muito rápido, a gente conversou e em duas semanas a gente organizou o primeiro”, conta Samia.

Lany conta que amou a proposta desde o início, principalmente por ir além de apenas apresentar os produtos que fabricam e comercializam. “Passa por ajudar outras mulheres a empreender. A gente sabe que sempre foi muito corrida a vida da mulher, tem filhos, marido, trabalho, estudo e ela, coitada, tem que ser 1.001 utilidades. A gente acha que é até uma maneira de ajudá-las a empreender porque a gente sabe que há uma crise e o mercado de trabalho está difícil, sendo que há muitas mulheres dentro de casa com um potencial imenso, sendo que nem elas sabem o potencial que têm”, considera.

Neste sentido, ela diz que o foco não é apenas atrair as empreendedoras que já estão atuando, mas também atrair aquela amiga, colega ou alguém da família que não sabe por onde começar o próprio negócio. “Vamos poder dar um suporte nessas áreas”, diz ela, que deve em breve ofertar uma oficina sobre finanças. Samia destaca que já acontecem as rodas de conversa no espaço e neste sábado, por exemplo, o tema será “despertando o autocuidado: caminhos para (re)conexão consigo mesmo”, com a psicóloga Raíssa Orlof.

“(A roda) é uma proposta de debater assuntos importantes, muitos polêmicos, e a gente acha importante realmente estar trazendo para a gente debater, para estar falando, já falamos de empoderamento feminino, sustentabilidade, papel da mulher na literatura…”, explica Samia, acrescentando que o objetivo é realizar rodas em todas as edições. “Com as mídias sociais e a tecnologia temos perdido muito a questão do contato físico, de conversar, olhar no olho, e a vida parece que se resume à internet, é uma ferramenta importante, mas não pode substituir o contato”.

Karina ressalta que embora a ideia inicial seja o protagonizada das mulheres, o evento é aberto a todos, o que inclui os homens. “Eles se aproximaram e há uma iniciativa para que também abram grupos de discussão sobre assuntos como masculinidade tóxica, comportamento masculino, machismo e demais assuntos. É importante falar sobre o que pode ser mudado nessa junção homem/mulher porque parece que agora está uma guerra, a gente está num momento em que as mulheres estão odiando os homens e eles não estão conseguindo compreender nossa liberdade e nossa maneira atual de ver o mundo”, observa.

Expositores encontram espaço pra ampliar rede e apresentar produtos

Amanda Gil é ilustradora e uma das pessoas que aproveitam o Quintal Criativo para expor as ilustrações que faz, grande parte utilizando o feminino como referência e inspiração. “Eu trago minhas ilustrações e penso também de um dia a gente fazer oficina, de aquarela, por exemplo”. Ela acredita que o empreendedorismo feminino não passa apenas pela questão de querer fazer algo, mas é uma necessidade para muita gente. “Há mulheres que se tornam mães e não têm o marido do lado, precisam empreender ou não vão ter o que comer”, lembra.

Nos eventos, ela conseguiu conhecer gente nova e trocar experiências. “Acho muito legal a rede que a gente construiu aqui. Conheci pessoas incríveis no Quintal, há uma troca muito grande e é legal que o pessoal que organiza escuta muito a gente, que é consumidor e frequentador. Da primeira vez que viemos não tinha opção vegetariana, aí comentei e no mês seguinte já tinha uma opção e é legal essa troca porque a gente vai criando uma rede de apoio”, destaca.

Para ela, outro fator importante é a valorização do produtor local. “A gente não tem essa cultura em Parauapebas, não vemos as pessoas falando do produto daqui, talvez nem saibam o que existe”. Neste contexto, Samia destaca, ainda, a importância de se debater e praticar a economia criativa.

“A maioria das pessoas, até os artesãos, faz a mesma coisa. Tem uma técnica e todo mundo faz tudo igual, não buscam identidade no trabalho manual que estão fazendo. Percebo isso nas feirinhas, por exemplo. São poucos artesãos que têm essa identidade e boa qualidade”.  Para Amanda, isso prejudica, inclusive, a forma como o público consome essa produção e é importante haver reeducação neste sentido.

Ela cita a última exposição a qual participou e onde foi abordada por diversas pessoas solicitando que fizesse ilustrações iguais às que traziam como modelo. “‘Você faz igual a essa?’. Não, não faço, eu faço ilustrações minhas, se quiser me dar uma ideia tudo bem, como referência, inspiração, mas não faço igual. É uma questão do público se educar porque não temos muito a educação de valorizar o que é autoral”, sustenta.

Após sucesso do Quintal Cultural, coletivo já imagina voos mais altos

Com o passar dos meses e o sucesso do projeto foi aumentando o número de visitantes e de expositores nos eventos. Samia Nunes diz que a ideia tomou tamanhas proporções que o grupo já pensa em mudar o local onde a feira acontece, uma vez que o espaço tem ficado cada vez menor.

“Estamos pensando se, de repente, no ano que vem já vale a pena ter um espaço só pra isso, pra feira, pra desenvolver o curso, uma lojinha, um espaço coletivo e colaborativo… estamos entrando em contato com outras pessoas para firmarmos parcerias e tentando desenvolver essa ideia porque realmente está começando a ficar um pouco inviável e apertado”, reconhece.

Karina, Amanda, Samia e Lany falam da experiência que estão desenvolvendo em Parauapebas

Ela diz que a abordagem de quem acompanha as edições é cada vez mais frequente. “Por enquanto é só uma vez ao mês, então tem gente que pergunta se vai ter todo sábado, mas não tem como porque eu moro aqui e fica bem cansativo. Pro ano que vem a gente ainda tem que pensar como evoluir isso”.

Além da programação deste sábado, o coletivo está planejando iniciar cursos neste mês. “Já há um encaminhado sobre excelência no atendimento ao público, um ponto importante e muito a melhorar em Parauapebas, e um curso voltado para mídias sociais, sobre produção de conteúdo e edição de imagens. A gente percebe que muitos expositores que já passaram conosco têm dificuldades com o conteúdo e até de postar uma foto no Instagram porque, pra mim mesmo, é uma coisa muito nova. As tecnologias mudam muito rápido”, afirma. 

Além disso, nas sextas, às 18 horas, acontecem aulas de Yoga com uma professora que cobra taxa de R$ 80 pelas quatro aulas mensais. Para participar da feira, a entrada é gratuita, sendo que as organizadoras pedem apenas que haja conscientização ambiental por parte dos frequentadores. “Tragam as próprias sacolas, coloquem talher dentro da bolsa e tragam o próprio copo para evitar o de plástico. A gente pede porque, infelizmente, não temos tido muita adesão neste sentido”, diz Karina.

Já para quem está interessado em expor, basta acessar o formulário , preenchê-lo e submetê-lo. Há uma taxa que é convertida na manutenção do espaço. Para acompanhar detalhes sobre os eventos, como datas e horários, é só seguir o perfil do Quintal Criativo no Instagram .

(Luciana Marschall)