Correio de Carajás

Profissionais de saúde de Parauapebas continuam sem vacinas

Em fevereiro deste ano, a Associação Médica de Carajás (AMC) protocolou representação administrativa junto ao Ministério Público do Estado do Pará, em face do Município de Parauapebas e do prefeito Darci José Lermen, solicitando que fosse apurada a legalidade, legitimidade e economicidade da oferta de vacinas contra a covid-19 na cidade.

A principal reclamação, conforme publicou o Correio de Carajás há exatos três meses, era de haver preterição dos profissionais de saúde do setor privado que eram atuantes na linha de frente contra a pandemia, já que antes de ser finalizada a imunização deles, a gestão deu início à vacinação de outros grupos prioritários, o dos idosos.

De lá para cá pouco ou nada mudou e os profissionais voltaram a se manifestar de maneira mais incisiva ao longo da última semana. Conforme o presidente da Associação Médica de Carajás, Maryel Mendes, a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) não providenciou a vacinação dos profissionais de saúde da rede particular e o Ministério Público nunca respondeu à representação protocolada.

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“O secretário de saúde (Gilberto Laranjeiras) solicitou uma lista com os nomes dos sócios da AMC que não foram vacinados e ela foi enviada, mas ainda hoje os sócios cobram a vacinação. O problema é que a diretora da Vigilância em Saúde (Michele Ferreira) quer vacinar conforme as sobras das vacinas dos idosos e elas simplesmente não sobram. Ao meu ver, estão ignorando um grupo prioritário em detrimento de outro, que entrou na programação depois”, afirma.

Ele acrescenta que os profissionais têm solicitado que autorizem os vacinadores a efetuarem a vacinação do profissional de saúde que for à unidade, mediante a apresentação de documento que comprove ser da área. “Isso é simples de fazer, mas insistem em querer nos chamar por telefone, se sobrar vacina…”, resume.

Ele reconhece que a lentidão na vacinação geral não é culpa do governo local, havendo pouca disponibilidade de vacina, que é encaminhada pelo Ministério da Saúde aos governos estaduais e então redistribuída aos municípios.

“O problema aqui é a não priorização de quem já deveria estar vacinado. O governo municipal pode adotar sua estratégia de vacinação, mas segue as recomendações da Sespa (Secretaria de Saúde do Estado do Pará) como se leis fossem. A Sespa teria orientado a aplicar as novas vacinas nos novos grupos do cronograma, mas há inúmeras pessoas que receberam a primeira dose e não conseguem a segunda, bem como as que não se vacinaram nem com a primeira dose e eram de grupos contemplados anteriormente”, afirma.

A associação acredita que nem 10% dos profissionais da rede particular foi imunizado. “Agora iniciou a vacinação de deficientes visuais e auditivos e isso nos faz refletir sobre o que, afinal, é prioridade. É lógico que é fundamental que se vacine a todos, mas não adianta avançar ao próximo grupo deixando grupos mais vulneráveis e que se expõem mais sem vacinar”, defende.

De acordo com o vacinômetro do município, atualizado nesta segunda-feira (24), Parauapebas recebeu 31.550 doses e aplicou 18.386, tendo uma sobra de 13 mil doses. “A desculpa atual é que não se vacina os profissionais por não ter vacina, mas se não tem, como vão vacinar os novos grupos da campanha atual?”, questiona.

A Associação dos Dentistas de Parauapebas (ADEP) também encabeça a briga por vacinar os profissionais da rede privada. Conforme o diretor da entidade, Marcos Soares, trata-se do grupo que tem contato direto com vias aéreas de pacientes, por onde ocorre a contaminação pelo coronavírus, mas que também está desprotegido.

“Na maioria dos demais municípios do Pará já foram vacinados todos (profissionais de saúde). Em Belém está bem avançado, em Santarém e Marabá também. Nossa situação é de extrema vulnerabilidade, pois trabalhamos a cerca de 20 centímetros da boca”, alerta.

Conforme Marcos Soares, Parauapebas tem 280 dentistas, além dos profissionais que atuam como técnicos de saúde bucal, auxiliares e técnicos em prótese, somando 500 associados à entidade. O grupo solicitou reunião, anteriormente, com o secretário de Saúde, mas foi atendido pelo adjunto da Secretaria, a Diretoria de Vigilância em Saúde e as coordenadorias de imunização e de saúde bucal.

“Percebemos claramente que eles não estão obedecendo o Plano Paraense de Vacinação. Propusemos que, diante da escassez de vacina, solicitassem mais doses ao Estado, para nosso grupo. Se ainda assim não fosse suficiente, que escalonassem a vacinação para todos os profissionais da saúde. Eles solicitaram a relação de profissionais e nos disseram que iam encaminhar para o Estado (Secretaria Estadual de Saúde), mas vimos outros grupos que estão após o nosso serem vacinados”, desabafa.

O Correio de Carajás conversou com a diretora de Vigilância em Saúde, Michele Ferreira, que confirmou haver pendências entre os profissionais de saúde e também entre idosos acima dos 60 anos. “É uma preocupação da Secretaria de Saúde e estamos informando à Sespa e ao Ministério da Saúde. Chegaram vacinas, mas não conseguimos atender a todos”, justificou. (Luciana Marschall)