Correio de Carajás

Médicos acusam Prefeitura de Parauapebas de ‘atropelar’ fases da vacinação

A Associação Médica de Carajás (AMC) protocolou representação administrativa junto ao Ministério Público do Estado do Pará, em face do Município de Parauapebas e do prefeito Darci José Lermen, solicitando que seja apurada a legalidade, legitimidade e economicidade da oferta de vacinas contra Covid-19 na cidade.

Conforme a entidade, está havendo preterição dos profissionais de saúde do setor privado que são atuantes na linha de frente contra a pandemia, já que antes de ser finalizada a imunização de todos os profissionais de saúde a gestão deu início à vacinação do segundo grupo prioritário: idosos acima de 90 anos.

A AMC relembra que o município iniciou a 1° fase da vacinação em 19 de janeiro, quando recebeu 2.296 doses do Ministério da Saúde. Destas, 1.051 foram aplicadas em indígenas aldeados e o restante em 40% dos profissionais de saúde que atuam em ala de Covid, UTIs, UPA e Pronto Socorro Municipal.

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Em 10 de fevereiro, destaca a entidade, o Município recebeu a segunda remessa da vacina CoronaVac, um total de 2.652 ampolas destinadas à segunda dose da vacina para quem já havia recebido a primeira e cujo restante teria sido utilizado no início da vacinação dos idosos acima de 90 anos, que já estão recebendo a primeira dose.

Neste cenário, a entidade questiona a autonomia municipal em traçar estratégias de vacinação, consoante o Plano de Vacinação do Ministério da Saúde, que estruturou a imunização em quatro fases.

A primeira delas contempla os trabalhadores de Saúde, indígenas aldeados e as pessoas com mais de 60 anos, mas apenas as que vivem em instituições de longa permanência. Pela visão da entidade, os idosos com mais de 90 anos estariam inclusos na segunda fase, quando todos aqueles com mais de 60 anos deverão ser vacinados.

A AMC oficiou à Secretária de Saúde Municipal e ao Departamento de Vigilância em Saúde solicitando cronograma da vacinação e pedindo prioridade aos médicos de rede particular, mas não recebeu resposta satisfatória. Decidiu insistir na questão e, diante disso, a representante da Vigilância Sanitária, Michele Oliveira, enviou áudios de whatsapp ao presidente da associação, o médico Maryel Vieira Mendes, informando não haver cronograma definido para as vacinações e alegando que o público alvo e a quantidade de doses são definidos pela Regional de Saúde do Estado do Pará.

 “Há vários médicos sem vacinar. Falo dos médicos porque são os representados pela AMC, mas muitos profissionais de saúde não foram contemplados. A gestão municipal não tem o mínimo planejamento e age sob demanda o tempo todo, esperando as demandas surgirem para tentar solucionar”, declarou o presidente da entidade, doutor Maryel Mendes, ouvido nesta quarta (24) pelo Correio de Carajás.

Ele acrescenta que, no caso em questão, ao saber que iria receber vacinas, mesmo desconhecendo a quantidade, o município deveria tentar levantar o tamanho do público alvo, buscando nos serviços de saúde, inclusive privado, quantos profissionais deveriam ser contemplados. “Se faltar vacina, a questão é outra”, afirma.

POSICIONAMENTO

A Reportagem procurou a Secretaria Municipal de Saúde para ouvir a gestão sobre o assunto e, conforme o secretário-adjunto, Paulo Vilarejo, na última remessa recebida foram entregues 180 doses direcionadas pelo Ministério da Saúde para os idosos com mais de 90 anos, que estão sendo aplicadas. A quantidade, acrescenta, foi encaminhada baseada em estimativa do Governo Federal de quantas pessoas nessa faixa etária haveria na cidade.

Ele reconhece que a primeira etapa contempla todos os profissionais de saúde, mas que a quantidade de vacinas foi insuficiente, sendo necessária a separação destas pessoas em grupos prioritários.

“Só no município a gente tem mais de 2 mil funcionários trabalhando na Secretaria de Saúde. De acordo com a norma técnica do Estado e a norma técnica do Município, a gente estabeleceu grupos prioritários dentro do grupo da saúde: pessoas que trabalham diretamente atendendo pacientes com quadros sugestivos da Covid-19”, afirma.

Dentro desse recorte, acrescenta, estão incluídos médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, serviços gerais, entre outros profissionais. Garantiu, ainda, que as equipes de instituições privadas atuando em linha de frente foram imunizadas. “É óbvio que, ao olhar a quantidade de vacina que recebemos, deixamos algumas partes descobertas, a parte da Saúde que não está na linha de frente”, justifica.

Com a próxima remessa, diz, a Secretaria de Saúde pretende vacinar o restante dos profissionais de Saúde e iniciar a segunda fase, atendendo pessoas com mais de 60 anos e profissionais da Segurança. Os prazos, entretanto, são indefinidos. “Ainda não tem data da chegada, a gente está aguardando essa chegada e o quantitativo pra gente ver o público que a gente tem pra atender”. (Luciana Marschall e Rayane Pontes)