Correio de Carajás

Por que Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, é negra?

Imagem foi encontrada no fundo do Rio Paraíba há mais de 300 anos e existem versões distintas sobre processo de enegrecimento da Santa, que originalmente era branca.

Nossa Senhora Aparecida é celebrada em 12 de outubro por fiéis — Foto: Thiago Leon/ Santuário Nacional de Aparecida

Encontrada no fundo do rio por três pescadores há mais de 300 anos, Nossa Senhora Aparecida se tornou símbolo de fé e carrega o título de Padroeira do Brasil.

Por não haver registros em documentos oficiais da época, existem muitas dúvidas sobre o episódio de encontro da imagem. Uma das principais delas é: por que a padroeira do Brasil é negra?

Apesar de não haver comprovação oficial, historiadores têm duas principais hipóteses para isso. O único consenso é de que se tratava originalmente de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, que é branca e passou por um processo de enegrecimento.

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Velas

 

A historiadora Tereza Pasin, autora do livro ‘História de Nossa Senhora Aparecida’, afirma que uma das principais hipóteses para a Santa ter o tom escurecido – mais precisamente cor de canela ou castanho escuro, segundo ela – são as velas que sempre cercaram a imagem.

Ela conta que a imagem original se tratava de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal. Por isso, no Brasil Colônia foram produzidas muitas imagens de Conceição.

Imagem de Nossa Senhora da Conceição — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press
Imagem de Nossa Senhora da Conceição — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Pasin afirma que a confecção da imagem encontrada aconteceu em um mosteiro de Santana de Paranaíba, no interior de São Paulo, com barro paulista, por volta de 1.650, cerca de 70 anos antes de ter sido encontrada por pescadores no Rio Paraíba do Sul, em 1.717.

“Ela ficava nos altares de fazendas e oratórios, cercada por velas, que foram escurecendo-a. A fuligem das velas é uma das principais hipóteses para ter deixado a cor negra”, explica a historiadora.

 

Ainda de acordo com ela, a energia elétrica só foi chegar ao país perto de 1.880, ou seja, até mesmo depois de ter sido encontrada, a imagem passou muito tempo em contato com velas.

“Ficava o tempo inteiro sem proteção, cercada por velas, que eram primitivas e tinham uma fumaça muito escura. Isso com certeza escureceu o tom.”

Romeira reza com imagem de Nossa Senhora Aparecida — Foto: Carlos Santos/G1
Romeira reza com imagem de Nossa Senhora Aparecida — Foto: Carlos Santos/G1

Tempo embaixo d’água

 

Não se sabe quanto tempo exatamente a imagem de Nossa Senhora ficou submersa no Rio Paraíba do Sul e nem como ela foi parar lá – a principal hipótese, nesse caso, é que tenha sido descartada por alguém por estar quebrada.

Apesar disso, o fato do encontro ter acontecido no rio sustenta um outro motivo atribuído ao escurecimento da imagem. Segundo a historiadora e devota Rachel Abdala, o contato com a água fez a confecção perder boa parte da tinta.

“Não sabemos quanto tempo a imagem ficou no rio, mas é certo que foram anos. E todo esse tempo fez com que o contato direto com a água apagasse parte da tinta e a imagem voltasse à cor original do barro”, conta.

 

Imagem da santa foi encontrada no rio Paraíba do Sul em 1717 — Foto: Divulgação/Arquidiocese de Aparecida
Imagem da santa foi encontrada no rio Paraíba do Sul em 1717 — Foto: Divulgação/Arquidiocese de Aparecida

Apesar de não ter sido algo intencional, a imagem negra foi aceita pelo país, formado por muitas pessoas negras, que se sentiram identificadas. Com isso, Nossa Senhora Aparecida acabou se tornando também o símbolo de acolhimento.

“A cor mais propriamente de canela foi muito aceita principalmente pelos povos negros, como os quilombos. Então ela nunca foi pintada e acabou mantida dessa maneira”, diz Abdala.

“Desde sempre se soube que a imagem de Nossa Senhora Aparecida era negra. Não foi algo descoberto. Não há dúvidas de que ela é negra. A imagem está ali, no nicho do Santuário Nacional, e fala por si só,” completa Tereza Pasin.

 

12 de outubro na Basílica de Aparecida — Foto: Thiago Leon/Santuário Nacional
12 de outubro na Basílica de Aparecida — Foto: Thiago Leon/Santuário Nacional

(Fonte:G1)