Dando continuidade ao tema avaliação de paciente cirúrgico. Os detalhes da história pregressa do paciente cirúrgico poderão iluminar áreas obscuras da doença atual. Diz-se que indivíduos que estão bem quase nunca ficam doentes e que indivíduos que estão doentes quase nunca estão bem.
E verdade também que um paciente que apresenta uma história longa e complicada de doenças e lesões, provavelmente, apresentará pior risco inclusive do que um paciente muito idoso que esteja passando por um procedimento cirúrgico importante pela primeira vez.
Uma alteração no hábito intestinal é uma queixa comum que, em geral, não possui significado. Entretanto, quando um indivíduo que sempre apresentou evacuações regulares informa uma alteração distinta, particularmente para alternâncias intermitentes de constipação e diarreia, deve-se suspeitar de câncer de colo do intestino.
Leia mais:É dada ênfase excessiva ao tamanho e ao formato das fezes como por exemplo, muitos pacientes que normalmente apresentam tezes bem-formadas podem se queixar de fezes pequenas irregulares quando sua rotina é alterada por viagem ou por uma variação na dieta.
O sangramento a partir de qualquer orifício exige uma análise mais crítica e nunca deve ser julgado como devido a alguma causa imediatamente óbvia. O erro mais comum é assumir que a hemorragia vinda do reto é atribuída às hemorroidas. A característica do sangue poderá ser bem significativa.
O sangue coagula? É vermelho-brilhante ou vermelho-escuro? Alterou-se de alguma forma, como no vômito com aspecto de café moído da hemorragia gástrica lenta ou de fezes escuras como alcatrão da hemorragia gastrintestinal superior?
A ocorrência do trauma é tão comum que, frequentemente, é difícil estabelecer uma relação entre a queixa principal e um episódio de trauma. As crianças, em particular, estão sujeitas a todos os tipos de traumas menores e a família poderá atribuir o aparecimento de uma doença a uma lesão específica recente. Por outro lado, as crianças poderão estar sujeitas a traumas graves sem que seus pais estejam cientes desse fato.
A possibilidade de trauma infligido por um pai não deverá ser negligenciada. Quando existe uma história de trauma, os detalhes deverão ser estabelecidos o mais precisamente possível. Em que posição estava o paciente quando ocorreu o acidente? Ele perdeu a consciência?
A amnésia retrógrada (incapacidade de lembrar eventos ocorridos imediatamente antes do acidente) sempre indica algum grau de comprometimento cerebral. Se um paciente puder se lembrar de cada detalhe de um acidente, não tiver perdido a consciência e não apresentar evidência de lesão externa na cabeça, a lesão cerebral poderá ser excluída.
No caso de ferimentos por tiros e facadas, o conhecimento da natureza da arma, do seu tamanho e formato, da possível trajetória e da posição do paciente quando foi atingido poderá ser de grande ajuda na avaliação da natureza da lesão resultante.
A possibilidade de que um acidente possa ter sido causado por uma doença preexistente como epilepsia, diabetes, doença arterial coronariana ou hipoglicemia deverá ser explorada. Quando todos os fatos e pistas essenciais tiverem sido reunidos, o examinador estará em posição de completar seu estudo da doença atual. Nesse momento, poderá ser possível descartar (por raciocínio indutivo) alguns diagnósticos.
A história familiar é de grande significado em várias condições cirúrgicas. A polipose do colo é um exemplo clássico, porém, o diabetes, a síndrome de Peutz-Jeghers, a pancreatite crônica, as síndromes multiglandulares, outras anormalidades endócrinas e o câncer são geralmente mais bem compreendidos e mais bem avaliados à luz de uma história familiar cuidadosa.
A fim de ter certeza de que detalhes importantes não sejam negligenciados, a revisão sistemática deverá ser formal e minuciosa. Procedendo a revisão da história pregressa sempre da mesma forma, o examinador experiente nunca omitirá detalhes significativos.
Muitos examinadores hábeis acham mais fácil rever a história pregressa perguntando sobre cada sistema conforme realizam o exame físico naquela parte do corpo. O tema prossegue na próxima edição de terça-feira.
* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.
Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.