Correio de Carajás

Os rabiscos que viraram vídeo de amor a Marabá

Na pandemia, enquanto estava enclausurado, resolvi escrever um texto na forma que mais gosto, mas que pouco uso: a primeira pessoa. Assim, fiquei imaginando uma senhora idosa narrando a trajetória de Marabá para os marabaenses cheirando a leite.

Curiosamente, o texto, depois de pronto, caiu nas mãos de meu filho, Breno, que fez algumas observações. Vieram mudanças, adaptações. Cerca de dois anos depois, Mariuza Giacomin, uma amiga do Grupo Correio, fez outras observações e uma versão mais curta foi criada para virar o vídeo do Grupo Correio para o aniversário de Marabá.

Quando o vídeo começou a ser divulgado, muitas pessoas me mandavam mensagens argumentando que o texto era meu e que havia nele elementos que denunciavam isso.

Leia mais:

A pedido de alguns desses amigos, resolvi publicar na coluna de hoje o texto integral, já com modificações. Ele está bem maior do que a versão que balizou o vídeo e foi parar na TV e nas redes sociais:

 

Gente, mas está quente, né?

Me desculpe, eu nem me apresentei e já fui falando sobre o clima.

Que mania que a gente tem, não é mesmo?

Mas hoje, eu vim aqui para falar sobre outra coisa…

Talvez você não lembre, mas chegou o meu aniversário.

E não sou dessas que têm vergonha de revelar a idade.

Tenho orgulho de dizer que tenho 109 anos.

Tudo bem, eu sou do tempo que aqui era tudo mato!

E, graças a você, ainda tenho muitas árvores.

 

Eu nasci ali, onde você conhece como Cabelo Seco.

E não é que os cabelos cresceram e se espalharam para todos os lados?

Eu posso dizer que fico bem de qualquer jeito…

Seja com um verdinho básico que uso no dia a dia,

Seja com o amarelo do pôr do sol da Orla.

 

E quando eu era jovem, tudo era diferente de como você me vê hoje.

Mas tem uma coisa que continua igual: a alegria no sorriso das pessoas.

Fui batizada como Capital do Ouro e da Castanha.

De fato, até hoje a riqueza continua por aqui.

Ofereço minério em abundância e meus filhos ainda têm a rica amêndoa.

 

Eu sempre procurei evoluir e me tornar moderna.

Sem perder as qualidades da minha juventude.

E se você perguntar como eu me sinto hoje,

Eu posso garantir que me sinto muito bem.

Assim como a minha visão.

Prova disso é que eu tenho um olhar sensível para a arte.

Não que eu queira me gabar, mas tenho muitos filhos artistas:

pintores, cantores, escritores e tantos outros que só me dão orgulho.

Falando em filhos, eu tive muitos e adotei outros tantos.

Nem na Feira da 28, nem em um grande show na Orla

Você conseguiria imaginar tanta gente assim.

São todos diferentes, das mais variadas crenças, tradições e jeitos.

Eu te vi nascer, te vi crescer,

Eu vi seus primeiros passos e até o seu primeiro beijo. (E eu sou coruja, sabe!)

Eu chorei com sua partida, mas explodi de alegria com sua chegada.

Tanto que sou conhecida por sempre estar de braços abertos para todos.

Você acredita que agrado quem gosta de calor e também quem gosta de tomar um banho no rio?

E de rio eu entendo bem. Tenho dois, que dão orgulho e renovam a energia de toda minha gente!

Podem até me achar temperamental por esquentar tanto durante o dia, mas quem me conhece de verdade sabe que esse é o meu maior charme!

 

Dizem até que eu tenho um sol pra cada um, mas eu acho que isso é pura inveja…

 

Eu sei, também, não sou perfeita.

Têm dias que você quer pegar um solzinho na Orla,

mas eu insisto em mandar aquela chuva.

Mas você já parou para pensar que é exatamente essa chuvinha

Que deixa tudo mais colorido para você aproveitar?

E olha, depois de tantos anos vividos, se eu pudesse te dar um conselho,

Com certeza seria: beba bastante água e use protetor solar:

O dia pode ser quente…

 

* O autor é jornalista há 25 anos e escreve crônica na edição de quinta-feira