Correio de Carajás

O racismo nosso de cada dia!

Imagem: JOSE JORDAN/AFP

Como era de se esperar, o crime do qual foi vítima o ser humano chamado Vinícius Júnior suscitou vários debates nas redes sociais.

Também como era de se esperar – lamentavelmente –, surgiram dedos apontando para a vítima, com um discurso de que Vini Jr. não deveria fazer tanto “estardalhaço”, mas continuar jogando sua bola e “depois” procurasse as autoridades.

Ora! como se ele não tivesse feito isso antes; como se esse não fosse o décimo caso de racismo explícito sofrido por esse jovem preto; como se ele não tivesse um coração, não tivesse sentimentos, como se ele fosse uma máquina inabalável. Ninguém é!

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Não faltaram também vozes erguidas para dizer que tudo não passa de “mi mi mi”.

O que mais espanta é que esse tipo de discurso ecoa, também, a partir do interior do interior da Amazônia, onde a maior parte da população é miscigenada.

O que eu vi em grupos de WhatsApp de Marabá me fez pedir que um meteoro caísse sobre a Terra e acabasse com tudo, assim como aconteceu com os dinossauros, porque somos piores.

Para quem ainda pensa que denunciar um ato racista é “mi mi mi” ou “estardalhaço”, proporei o seguinte cenário: Imagine que você vai pegar seu filho pequeno na escola e ele lhe diz chorando que não quer mais ir para sala da aula por que três ou quatro coleguinhas o chamaram de “macaco”.

Duvido qual pai ou mãe que não se revoltaria. Duvido!

O recado é esse: não dá pra se importar apenas quando a dor é comigo; é preciso ter empatia pela dor do outro.

Digo mais: Vinícius Júnior é um milionário e estrela mundial, mesmo assim ele chora de dor por causa de toda essa ignomínia que vem passando, todo o vilipêndio que é exposto apenas por ser quem ele é. Agora imagine o que passam todos os dias jovens pretos e pobres, mulheres pretas e pobres; “pessoas cinzas normais”.

O racismo tem que acabar é na marra, no embate, na luta; é pelo enfrentamento contra os canalhas; não é ficando calado e fazendo de conta que só existe racismo quando ele bate na minha porta.

Se importe com o outro!

Respeite a dor do outro!

(Chagas Filho)