Correio de Carajás

No São Félix, as galinhas “de ouro” sustentam dona de casa

A principal renda de Erileuda são os ovos e as galinhas: venda e troca com vizinhos

Desempregada de sua função como empregada doméstica, Erileuda Vasconcelos, de 67 anos, colocou o currículo embaixo do braço e ligou a TV da sala para ver onde poderia encontrar vagas. Naquele dia de março de 2020, o telejornal só tinha um tema: a pandemia. Todos os estabelecimentos estavam fechando as portas.

Sem uma forma fixa de renda e com medo de ela e seu filho passarem dificuldades, a mulher olhou o quintal da própria casa, em São Félix, com outros olhos. Hoje, é daquele espaço de 30 m² que ela tira grande parte do alimento que faz fartura na mesa.

“Nós que não temos muita terra, o quintal é suficiente para toda a renda de uma casa familiar. Se em um pequeno quintal com 30 metros tem condições, com 100 metros daria para tirar a morada, a fruta para venda, compra e alimentação. Acho que agora sou rica”, compara.

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O engenheiro agrônomo Carlos Lima avalia que muitas famílias entraram na pequena produção de alimentos após a pandemia por questões financeiras, mas que permanecem também por encontrarem no próprio quintal um espaço afetivo.

“Esse processo produtivo no quintal é muito mais do que só alimentar o físico, tem algo a mais que alimenta o espírito. Não é algo religioso não, é sentimental. Satisfaz a pessoa em outro campo”, defende.

Qual o preço no supermercado?

Quase tudo o que chega à mesa da cozinha de Erileuda sai do quintal da casa. Lá, ela possui um tanque de peixes, criadouro de galinhas e até colmeias de abelhas, além das plantações de verduras, frutas e temperos.

Filha de pais agricultores de Bacabal, no Maranhão, ela voltou para a agricultura por necessidade, mas também por paixão.

“Como ficou só o meu filho empregado, as coisas ficaram mais difíceis, antes eram dois e aí ficou só um, pesou mais ainda. Mas não pode baixar a cabeça para as dificuldades, tem que encontrar caminhos para sair”, sustenta.

O trabalho no quintal toma todo o tempo de Erileuda, que não tem planos de voltar ao mercado de trabalho formal. Para ela, o alimento cultivado é um alívio para o bolso e para a própria saúde, já que ela não utiliza agrotóxicos.

A partilha, inclusive, é ponto central para a atividade. É por meio da troca de alimento com famílias parceiras que se consegue variedade no cardápio, mesmo com um espaço pequeno para a produção.

E a troca acontece com Antônia Márcia da Silva, de 53 anos, que mora também no São Félix III, a duas ruas de Erileuda.

“Eu produzo milho, feijão, jerimum, fava. A gente vai produzindo de acordo com a chuva. No mercado o que eu compro é cebola porque não tenho condições de produzir, gengibre eu tenho, açafrão eu tenho. E aí vou levando. Macaxeira eu tenho, mas macaxeira tem um período que você pode arrancar e outro não, se tiver dos meus vizinhos eu troco, senão eu compro de fora porque tenho a minha demanda”, cita.

O que sobra na produção nos dois quintais é vendido em feiras de agricultura familiar. Dessa forma, as agricultoras conseguem uma maior qualidade de vida.

(Ulisses Pompeu)