Correio de Carajás

“Nasci para a obstetrícia”, conta médica referência em Marabá

O termo obstetra vem da palavra em latim obstare, que significa “ficar ao lado”. E é exatamente isso que um médico obstetra faz, acompanhando a mulher antes da gravidez, durante a gestação, no parto e no pós-parto.

Nesta terça-feira, 12 de abril, é comemorado o Dia do Obstetra, médico responsável por acompanhar a mulher desde os primeiros dias da gestação. Além disso, é ele quem repassa recomendações sobre todos os aspectos que envolvem a concepção e as providências para que o bebê se desenvolva com a melhor qualidade de vida possível.

Para a médica, parto humanizado é aquele com respeito/ Foto: Núbia Suriane

O Correio de Carajás conversou com a médica ginecologista e obstétrica, Luma Carolynne Oriente, sobre a profissão. Formada pela Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, e com residência em Ginecologia e Obstetrícia pelo Hospital Santa Terezinha de Erexim, do Rio Grande do Sul, Luma trabalhou por alguns anos em Unidades Básicas de Saúde como clínica geral até se apaixonar pela obstetrícia.

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Luma bateu o martelo na escolha da profissão após o parto do filho/Foto: Núbia Suriane

“Fazia o pré-natal das gestantes e eu adorava a sensação de cuidar e ver elas voltando com o bebê no colo. Da minha especialidade, ginecologia e obstetrícia, a obstetrícia é o ramo que mais gosto por causa do parto, do nascimento, da família renascendo por causa daquele bebê”, diz emocionada.

Quando Luma engravidou do filho, já atuando como médica, procurou diversos profissionais para fazer o acompanhamento gestacional com o intuito de ter parto vaginal – ou normal, como é popularmente conhecido- e não encontrou.

“Aquilo me deixou muito triste. Eu era paciente particular, colega de profissão, e não consegui essa assistência. Eu estava morando no Rio de Janeiro e no final da gestação me mudei para Goiânia para ter o bebê lá. Cheguei a passar por oito obstetras e quando eu dizia que queria parto normal ninguém assistia”, relembra.

Neste contexto, Luma foi orientada a conhecer a Maternidade Dona Íris, em Goiânia. “Fiquei encantada com a estrutura e com o que eles ofereciam. Decidi que iria ganhar meu filho no SUS (Serviço Único de Saúde). Contudo, acabei indo para uma cesárea após algumas horas de trabalho de parto”, recorda Luma, afirmando que foi depois do nascimento do filho Arthur que decidiu fazer diferente com as pacientes que atende.

Foto: Núbia Suriane

Parto humanizado

A obstetra explica que o parto humanizado não é um tipo de parto, e sim uma maneira de assistência ao parto, respeitando o processo natural do momento e as escolhas da mulher.

Questionada se uma cesariana pode ser humanizada, Luma explica que sim. “Parto humanizado é o respeito. Por exemplo, tirar o bebê devagar, deixá-lo se acostumar com a luz, oferecer ele para a mãe e tentar colocar para amamentar, isso é respeitar o processo, independente se foi parto vaginal ou não”.

Outro fator muito comentado é sobre a utilização da ocitocina. A especialista responde que quando a gestante recebe informações suficientes para entender que naquele momento aquilo foi necessário, o parto não deixa de ser humanizado. “Você explica o que vai ser feito e espera o consentimento dela. Eu costumo dizer que respeito todas as vontades dentro do limiar de segurança”, ressalta Luma.

Para a médica, um dos fatores primordiais para um bom parto é o conhecimento da parturiente. Luma explica que o processo começa no pré-natal, desde as primeiras consultas. “A grávida precisa se preparar, e aí está um grande erro. Elas chegam e não sabem o processo do nascimento, acham que é igual as imagens na televisão, e não é. Isso acontece pela falta de acompanhamento na gestação. Eu tento sempre explicar tudo, essa é uma característica minha”.

Os dois lados da profissão

Luma Carolynne observa que todas as profissões possuem um lado bom e um lado ruim. No caso da obstetrícia o lado ruim são as perdas. “A gente trabalha com a vida. Nunca trabalhamos para perder, mas elas existem, assim como em todas as áreas médicas. É muito difícil escutar críticas em relação à violência obstétrica. É ruim escutar isso de um lugar que a gente trabalha”, lamenta.

Ela explica que ouve muitos comentários negativos em relação ao Hospital Materno Infantil de Marabá, onde atua. Luma é enfática “não é o Materno, é a equipe que assistiu aquela mulher naquele momento. Você pode ir lá hoje e ser assistida por um profissional completamente diferente”, diz.

A profissional lamenta a falta de sensibilidade e amor por parte de alguns colegas, em especial do sexo masculino. “Um exame ginecológico, por exemplo, um toque. A gente sabe como é desconfortável, já passamos por isso em algum momento da vida, então a gente tenta trazer um pouco mais de conforto, pedir pra paciente ficar mais relaxada, respeitar o momento, perguntar se pode continuar. E o homem não tem essa experiência. Mas existem dois perfis. Só que nós mulheres pensamos ‘como queria que fizessem comigo’”.

Paixão pela obstetrícia

“Um colega uma vez me disse que eu nasci para a obstetrícia, assim como a obstetrícia nasceu pra mim. Acho que é isso. Ela me completa. Tem dias que estou exausta. Mas penso que vou cuidar de outras pessoas, auxiliar a trazer novas vidas para o mundo. E isso é muito bom. Com certeza foi a melhor escolha que fiz na minha vida”, finaliza.

(Ana Mangas)