Correio de Carajás

Lesões cáusticas do esôfago

A ingestão de soluções ácidas ou básicas fortes ou de substâncias sólidas de natureza semelhante é capaz de produzir extensas queimaduras químicas nos órgãos digestórios e até respiratórios. A lesão geralmente representa uma tentativa de suicídio em adultos e ingestão acidental em crianças.

As substâncias básicas fortes produzem uma necrose de liquefação, que envolve a dissolução de proteínas e colágeno, saponificação de gorduras, desidratação de tecidos, trombose dos vasos sanguíneos e lesões penetrantes profundas. Os ácidos produzem uma necrose de coagulação envolvendo a formação de cicatrizes, que tendem a proteger os tecidos mais profundos da lesão.

Dependendo da concentração e do período de tempo que a substância irritante permanece em contato com a mucosa, a descamação da mucosa, edema e inflamação da submucosa, infecção e perfuração poderão levar ao desenvolvimento de uma mediastinite.

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A soda cáustica ingerida na forma sólida tende a aderir à mucosa da faringe e do esôfago proximal. A necrose esofágica aguda grave é rara, e os principais problemas clínicos são edema precoce e formação de estenose tardia, principalmente do esôfago proximal.

Os cáusticos líquidos comumente produzem uma necrose esofágica muito mais extensa e, às vezes, até mesmo fístulas traqueoesofágicas e aortaesofágicas. Quando o paciente sobrevive à fase aguda, muitas vezes se desenvolve uma longa estenose, que não pode ser dilatada.

A ingestão de ácido forte caracteristicamente produz maior prejuízo para o estômago, com o esôfago permanecendo intacto em mais de 80% dos casos. O resultado pode ser a necrose gástrica imediata ou estenose distal do estômago tardia. Quase todas as lesões graves resultam da ingestão de álcalis fortes. As substâncias ácidas e básicas fracas estão associadas a lesões menos extensas.

O achado mais comum é o edema inflamatório de lábios, boca, língua e orofaringe; na ausência de lesões visíveis nessas áreas, danos esofágicos graves são raros. Os pacientes com queimaduras esofágicas graves muitas vezes apresentam dor torácica e disfagia, além de sialorreia. A dor na deglutição pode ser intensa. Quando o dano é grave, o paciente frequentemente parece toxêmico, com febre alta, prostração e choque.

A traqueobronquite, acompanhada por tosse e aumento da secreção brônquica, é frequentemente observada. O estridor pode estar presente e, em alguns pacientes, a obstrução respiratória pode progredir rapidamente, exigindo uma traqueostomia para alívio. A obstrução esofágica completa resultante do edema, inflamação e descamação da mucosa pode se desenvolver nos primeiros dias

A endoscopia é o principal exame para avaliação do trauma cáustico do esôfago. A determinação da extensão da lesão por meio da esofagoscopia contribui substancialmente para as decisões terapêuticas. A endoscopia deve ser realizada após a reanimação inicial, geralmente dentro de 24 horas de internação.

A radiografia de tórax pode mostrar sinais de perfuração do esôfago (enfisema subcutâneo, pneumomediastino, pneumotórax) ou aspiração (infiltrados pulmonares). Uma esofagografia é indicada na avaliação inicial de uma suspeita de perfuração e em fases posteriores para detectar a presença de uma estenose.

Os pacientes devem ser hospitalizados e hidratação intravenosa e antimicrobianos devem ser administrados. Uma sonda nasogástrica colocada sob orientação fluoroscópica ou endoscópica, para permitir o implante de stent do esôfago, impedindo a obstrução completa da luz.

As lesões de segundo grau e lesões menores de terceiro grau são tratadas por meio da inserção de uma sonda nasogástrica. A nutrição pode ser administrada por meio da sonda nasogástrica ou por via parenteral.

Esofagografias periódicas devem ser obtidas no acompanhamento de formação de estenose, que deve ser tratada no início de seu desenvolvimento por dilatações e, por fim, ressecção. As queimaduras de terceiro grau, envolvendo extensa necrose gastresofágica, exigem esofagogastrectomia de emergência, esofagectomia e jejunostomia para alimentação.

* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.