Correio de Carajás

Lei Áurea não resolveu os problemas, afirma conselheiro

A Lei Áurea, que aboliu oficialmente a escravidão no Brasil, completou nesta segunda-feira, dia 13, 131 anos. A data, no entanto, é simbólica, e não resolveu os grandes problemas da sociedade, segundo o conselheiro de Políticas Culturais de Marabá, Éric de Belém. Para ele, a abolição foi uma política gradual e lenta, que sofreu a pressão externa, encabeçada pela Inglaterra. Segundo ele, a influência internacional também se deu em função de interesses econômicos.

De acordo com o conselheiro, a data é colocada de uma forma simbólica dentro de um apagamento das lutas da população negra. “O 13 de maio é colocado como se não houvesse um conflito do negro buscando a sua libertação. A liberdade do negro se dá de uma forma de boa vontade por parte até então da família real e dentro de um histórico da Princesa Isabel”, afirma.

Segundo Éric, o movimento nunca compreendeu a data como um acontecimento representativo das lutas da população negra e, principalmente, não representar realmente a liberdade dos escravos, uma vez que o 13 de maio muito embora tenha ocorrido em 1888 e tenha possibilitado essa suposta liberdade para os negros, infelizmente não se inseriu essa população à sociedade brasileira.

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Eric esclarece que “O 13 de maio entrou para o calendário da história do país, então não tem como negar o fato. Agora, para o movimento negro, essa data é algo a ser reelaborado, porque houve uma abolição formal, mas os negros continuaram excluídos do processo social”.

O coordenador conta que pela falta de conhecimento, antigamente alguns negros costumavam celebrar a data. “Eles celebravam como uma data histórica, justamente como uma representação da liberdade dos escravos e o movimento negro reverteu isso para o dia 20 de novembro, que é o dia da morte de Zumbi dos Palmares, que representa muito mais a luta e a resistência negra”, explica.

Desafios

Questionado pela Reportagem do CORREIO, o coordenador afirma ser integrante do grupo Consciência Negra em Movimento e que um dos objetivos do coletivo é se contrapor a história oficial. “Você percebe um conjunto de medidas de políticas públicas que foram adotadas no Brasil que impossibilitaram uma ascensão da população negra nesses espaços. E as escolas e as universidades são fundamentais nesse processo. “A universidade deve se contrapor justamente porque ela é um espaço de debate, reflexões e críticas”, conta.

Cenário em Marabá

Para o conselheiro, Marabá tem uma historicidade muito enraigada na população negra, e principalmente nas mulheres. “Se formos analisar quem criou a situação da necessidade de Francisco Coelho vir para essa ponta de terra, inicialmente chamada de pontal, e agora sendo considerada a partir da história de seu barracão de Marabá se deu justamente fruto das mulheres negras do Cabelo Seco, oriundas do Maranhão, que não foi aceita a presença delas no burgo, e fizeram com que ele migrasse e tornasse atrativo esse pontal, mas se você pegar a história original, isso é negado”, esclarece. (Karine Sued, com informações de Sandro Campos)