Os três irmãos da pequena Tatiana de Araújo Almeida, de 2 anos e 8 meses, que morreu na terça-feira (10), ao dar entrada no Hospital Municipal de Marabá (HMM), foram levados para o Espaço de Acolhimento Provisório (EAP), o popular “abrigo”, onde devem receber assistência psicológica, social e médica. As crianças passaram pela terrível experiência de carregar a irmãzinha, dentro de um carrinho de bebê, até o HMM, na esperança de que ela pudesse ser atendida. Mas a pobre criança já estava morta. O caso ganhou ampla repercussão nas redes sociais, gerando comoção e revolta.
O relato feito pelos atendentes do hospital é de que a mãe da vítima, Alexsandra de Araújo Almeida, chegou logo em seguida. E quando os servidores da casa de saúde viram a situação, comunicaram o fato à Polícia Militar, que conduziu a mãe e os outros três filhos para a Delegacia de Atendimento à Criança e ao Adolescente (DEACA).
Ainda segundo o que disseram funcionários do HMM, os três irmãozinhos da vítima teriam alertado a avó deles sobre a situação da pequena Tatiana, mas a avó não imaginou que o caso seria tão grave.
Leia mais:Diante disso, os três meninos (o mais velho com aproximadamente 12 anos) colocaram a criança dentro de um carrinho e rumaram da Folha 7, onde moram, até o Hospital Municipal, uma via crucis de 2,5 quilômetros, na esperança de salvar sua irmã. Mas foi tudo em vão.
Tatiana estava toda evacuada, exalando mau cheiro, apresentava ferimentos na cabeça. Ela foi encaminhada ao Instituto Médico Legal (IML), com solicitação para realização de perícia cadavérica e sexológica.
A informação que este CORREIO obteve no IML foi de que não havia vestígios de violência sexual na criança, porém foram detectados possíveis sinais de maus tratos. Porém, somente com a conclusão do laudo de necropsia será possível saber o que causou a morte da inocente criança.
Família fala
Mas antes que alguém aponte o dedo para a mãe da vítima, é preciso compreender a situação de forma mais ampla. Foi isso que fez a reportagem do Grupo CORREIO. Depois de descobrir o endereço da família, nossas equipes foram lá para entender o que está por trás de toda essa tragédia e o que se viu é que há mais vítimas nessa história.
A família mora em uma rua bem localizada na Folha 7. Alexsandra mora em um cômodo dos fundos da casa mãe, Luíza Almeida (avó das crianças). Alexsandra não estava lá naquele momento, mas a informação repassada pela família é de que ela tem problemas mentais e as autoridades locais já tinham sido informadas sobre os riscos que as crianças sofriam.
A avó da vítima diz que sua filha precisa ser internada e as crianças precisam ser amparadas pelas autoridades. “Eu quero que internem ela (Alexsandra), pra cuidar dela, pra tomar medicamento, o Conselho (Tutelar) tomar de conta dos filhos dela enquanto ela fica boa”, suplicou dona Luíza.
Ela relata que quando sua filha chegou do HMM, já sabendo que Tatiana estava morta, ela se bateu nas paredes da casa. Segundo Luíza Almeida, algumas pessoas da vizinhança a ajudavam com cesta básica, porque não tinha renda e também o pai da criança (cujo nome não aparece na Certidão de Nascimento) nunca deu atenção.
A avó relata que sempre orientava a filha a levar a neta para o médico, mas ela não tinha condições de cuidar nem de si mesma, devido aos problemas mentais, quanto mais de cuidar de outra pessoa. (Chagas Filho colaboraram Zeus Bandeira e Evangelista Rocha)
SEASPAC fala que vinha auxiliando a família
Quem repassou a informação de que os três irmãos da vítima foram encaminhados ao EAP foi a titular da Secretaria de Assistência Social da Prefeitura e Assuntos Comunitários (Seaspac), Nadjalúcia Oliveira, cuja secretaria vinha realmente acompanhando o caso.
Nadjalúcia explicou que o município já tinha disponibilizado cesta básica para Alexsandra, assim como tinha incluído o nome dela no programa Bolsa Família e também no auxílio emergencial. Além disso, a secretária assegurou que a família foi orientada a levar Alexsandra para atendimento no Centro de Apoio Psicossocial (CAPS).
Outra informação repassada por Nadjalúcia Oliveira é que existe um processo para garantir medida protetiva das crianças, que já está tramitando no Poder Judiciário, mas a audiência foi adiada em razão da pandemia.
Nadjalúcia orientou a reportagem a conversar com a assistente social Ana Lídia, do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), da Folha 13, que estava acompanhando a família.
Em contato com Ana Lídia, ela informou, por telefone, que naquele momento não poderia conversar com a reportagem justamente porque estava compondo um relatório situacional para subsidiar a autoridade policial sobre o caso, conforme ofício encaminhado pela Delegacia de Atendimento à Criança e ao Adolescente (DEACA). A reportagem voltou a fazer contato mais tarde, mas a assistente social não mais atendeu às mensagens e, até por volta das 21h, não deu retorno.
Delegado diz que o caso exige cautela
Como a delegada titular da DEACA, Eliene Carla de Lima, não conversa com a Imprensa, a reportagem procurou o delegado Vinícius Cardoso das Neves, diretor da 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil. Ele explicou que ainda é muito prematuro para fazer qualquer julgamento sobre o caso, até porque existem diligências em andamento.
“Nós estamos aguardando a conclusão desses laudos, pessoas envolvidas já foram ouvidas, sobretudo familiares e profissionais de saúde envolvidos no atendimento; é muito prematuro pra se cogitar qualquer hipótese; a Polícia Civil aguarda os laudos periciais, aguarda a finalização dessas oitivas e outras diligências pra se apresentar os resultados dessa investigação”, explicou o delegado.
Por outro lado, o delegado ponderou que se, a final, ficar comprovada a ocorrência de maus tratos ou negligência por parte da mãe da vítima, ela certamente será responsabilizada criminalmente. (Chagas Filho)