Correio de Carajás

Gota

A gota é uma doença metabólica que afeta mais frequentemente homens de meia-idade a idosos e mulheres na pós-menopausa. A hiperuricemia é a característica biológica da gota.

Quando presente, o plasma e os líquidos extracelulares ficam supersaturados com ácido úrico, que, em condições apropriadas, pode sofrer cristalização, resultando em amplo espectro de manifestações clínicas que podem ocorrer isoladamente ou em combinação.

O ácido úrico é o produto final da degradação dos nucleotídeos derivados das purinas. Sua produção está intimamente ligada às vias do metabolismo das purinas, sendo a concentração intracelular de 5-fosforribosil-1-pirofosfato (PRPP) a principal determinante do ritmo de biossíntese do ácido úrico.

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O ácido úrico é excretado sobretudo pelo rim por mecanismos de filtração glomerular, secreção tubular e reabsorção. A hiperuricemia pode, dessa forma, surgir em ampla gama de condições que causam produção excessiva ou excreção reduzida de ácido úrico ou em combinação das duas.

Artrite aguda é a manifestação clínica mais precoce da gota. No início, comumente afeta uma única articulação, mas pode ser poliarticular nos episódios subsequentes. A primeira articulação metatarsofalângica é acometida com frequência. A gota aguda costuma começar à noite com dor intensa, tumefação, calor e sensibilidade. Em geral, a crise regride espontaneamente após 3 a 10 dias.

A gota aguda pode ser desencadeada por excesso alimentar, traumatismo, cirurgia, ingestão excessiva de álcool, terapia hipouricêmica e enfermidades clínicas graves, como infarto agudo do miocárdio (IAM) e acidente vascular encefálico (AVE). Na artrite crônica alguns pacientes com gota podem apresentar sinovite crônica assimétrica.

Este quadro pode, raramente, ser a única manifestação. Artrite gotosa pode também se apresentar com tofos periarticulares, que são agregados de cristais de MSU circundados por reação inflamatória de células gigantes. Ocorre nos casos de gota de longa duração. Tofos extra-articulares verificam-se frequentemente na bolsa do olécrano, hélice e anti-hélice das orelhas, superfície ulnar do antebraço e tendão de Aquiles.

Nefropatia induzida por uratos pode induzir a deposição de cristais de MSU no interstício e nas pirâmides renais. Pode causar insuficiência renal crônica. Na nefropatia aguda induzida por ácido úrico como causa reversível de insuficiência renal aguda decorrente da precipitação de urato nos túbulos. Já na nefrolitiase induzida por ácido úrico é responsável por 10% dos cálculos renais nos EUA.

Em relação ao diagnóstico várias situações são analisadas. Análise do líquido sinovial: deve ser feita para confirmar o diagnóstico de gota mesmo quando o quadro clínico é fortemente sugestivo. Aspiração articular e demonstração de cristais de MSU tanto intracelulares quanto extracelulares, tendo formato de agulha com birrefringência negativa à microscopia de polarização.

Os cristais de MSU podem ser demonstrados também nas articulações acometidas cronicamente ou nos depósitos tofáceos. Ácido úrico sérico: níveis normais não excluem gota.

Ácido úrico urinário: excreção de > 800 mg/dia com uma dieta regular na ausência de medicamentos sugere síntese excessiva. Triagem para os fatores de risco ou sequelas: urina tipo I, creatinina sérica, provas de função hepática, glicose e lipídeos; hemograma completo.

Em caso de suspeita de síntese excessiva, pode-se indicar análise dos níveis de hipoxantina guanina fosforribosiltransferase eritrocitária (HGPRT) e de fosforibosil pirofosfato (PRPP). Radiografias das articulações: podem demonstrar alterações císticas e erosões com margens escleróticas na artrite crônica avançada.

Se houver suspeita de cálculos renais, radiografia simples de abdome, os cálculos em geral são radiotransparentes e, possivelmente, pielografia venosa. Análise química dos cálculos renais.

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.