Correio de Carajás

Helicobácter pylori II

O modo de contágio do Helicobácter pylori ainda não é plenamente conhecido. Sabemos que a transmissão pode ocorrer de uma pessoa contaminada para uma pessoa sadia através do contato com saliva, vômitos ou fezes, este último geralmente sob a forma de água ou alimentos contaminados.

Quando um membro da família se infecta com o Helicobacter pylori, o risco de transmissão para os filhos e conjunge é altíssimo. Esta transmissão é comum mesmo em casas com boas condições de higiene, o que coloca em dúvida se a transmissão ocorre sempre pela via fecal/oral.

A presença da bactéria determina inflamação crônica, mais especificamente antrite crônica, que facilita a lesão ulcerosa no duodeno. A infecção pelo HP é o maior determinante da ocorrência dessa lesão, presente em até 95% daqueles com úlcera duodenal.

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A gastrite por HP pode aumentar ou diminuir a secreção de ácido, e o tratamento pode reverter total ou parcialmente esses efeitos. Aqueles com gastrite predominante do antro não atrófica têm alta produção de ácido estimulada pela diminuição da somatostatina no antro e consequente aumento dos níveis de gastrina, em comparação com controles não infectados.

Clinicamente, úlcera duodenal e dispepsia não ulcerosa são comuns nesse grupo. Em contraste, aqueles com gastrite atrófica (envolvendo tanto o antro quanto a mucosa do corpo) têm a produção de ácido reduzida.

Esse fenótipo está associado a úlceras proximais gástricas, lesões pré-cancerosas mais avançadas e com risco aumentado de câncer gástrico. Em ambos os padrões de gastrite, o tratamento de HP resolve a gastrite e leva à correção parcial do estado ácido alto ou baixo.

Essa reversão não é observada em casos com extensas mudanças atróficas. Apesar de estar longe de um consenso mundial, atualmente a tendência está na indicação da erradicação do HP, nos casos de infecção com dispepsia funcional, como recomenda o Consenso Brasileiro sobre a infecção por H. pylori.

A estratégia de “testar e tratar” é recomendada a pacientes com menos de 40 anos e dispepsia ainda não diagnosticada, com infecção pelo HP e sem sinais de alarme. O teste de escolha para diagnóstico e controle do tratamento do HP é o teste respiratório (Consenso Brasileiro sobre a infecção por Helicobacter pylori).

No Brasil, os fatores de risco para adquirir infecção por HP são condições de vida, status sanitário e status socioeconômico inadequados. Em pacientes com predisposição genética ao desenvolvimento de úlcera gástrica, a infecção da mucosa do estômago pelo HP leva a pangastrite crônica, o que facilita a ulceração da mucosa. A bactéria está presente em 60 a 80% desses indivíduos.

A presença da bactéria determina inflamação crônica, mais especificamente antrite crônica, que facilita a lesão ulcerosa no duodeno. A infecção pelo HP é o maior determinante da ocorrência de úlcera duodenal, presente em até 95% dos casos. Também está relacionada à etiologia da úlcera gástrica e do linfoma tipo MALT (Tecido Linfoide Associado a Mucosa). Outras doenças, como o adenocarcinoma gástrico e diversas outras gastrites, parecem ter sua incidência aumentada. Entretanto, a erradicação do HP está associada a uma diminuição na taxa de câncer gástrico.

Há associação comprovada da infecção por HP a anemia por deficiência de ferro, anemia de etiologia desconhecida, trombocitopenia imune, púrpura trombocitopênica idiopática e deficiência de vitamina B12. Em outras condições não gastroduodenais, pode haver resultados negativos e positivos, e as associações não têm causalidade comprovada.

Os sintomas são muito variáveis. Habitualmente, a pesquisa da infecção pelo HP é indicada numa vasta lista de doenças e sintomas gastrintestinais e em pacientes com risco para câncer de estômago, hemorragia digestiva e doença ulcerosa péptica.

Os métodos diagnósticos podem ser divididos em invasivos e não invasivos. Os primeiros ficam reservados aos pacientes com indicação de EDA ou na suspeita de cepas resistentes. Esse tema continua na próxima edição de terça-feira.

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.     

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.