Em longa entrevista concedida ontem, quarta-feira (11), ao apresentador do Programa Fala Cidade, Alex Tavares, o vice-prefeito de Parauapebas, Sérgio Balduino, respondeu aos questionamentos da população sobre a verdadeira odisseia que é para alguns setores serem abastecidos por água potável. Além de exercer o cargo na administração municipal, ele acumula o posto de gestor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Parauapebas (Saaep), autarquia responsável pelo abastecimento.
Acompanhado de dois técnicos do Saaep, no estúdio da TV Correio Parauapebas, Balduino assistiu a vídeos enviados por expectadores do programa. “Acabou a água no domingo. A semana todinha desse jeito, sem água, enquanto colocam água no carro pipa pra usarem em outro lugar, não é justo os outros usarem a água e a gente pagar. Tô com as roupas sujas e tá desse jeito. Não é justo, não, o que prefeito tá fazendo? Nada!”, reclama moradora do Bairro Tropical.
No Parque dos Carajás, mais revolta: “Gente, cadê a água? Dá 10, 11 horas da manhã e a água já foi embora. A gente chega pra tomar um banho e não tem água, a roupa suja só acumulando. Quem tem caixa de água enche e quem não tem enche três ou quatro baldes e acabou”. No Bairro Liberdade II uma moradora declara que não vê água há dois meses. “Eu queria saber da falta de água aqui na nossa rua, na Santa Catarina, esquina com Fernando Dias”.
Leia mais:No Nova Vitória, outro dilema: “Por que só tem água de 4 em 4 dias ou de 5 em 5 dias? Em 2016 ficaram de fazer mais um poço aqui para minimizar nosso sofrimento. Já estamos em 2019 e vão deixar pra fazer até o final desse ano ou pras próximas eleições? No ano que vem?”, questiona o usuário.
JUSTIFICATIVAS
Ao longo da entrevista fica claro, conforme vários pontos expostos pelo gestor, que o problema de Parauapebas se concentra no crescimento desenfreado do município perante o pouco investimento feito na rede de abastecimento no mesmo prazo. O Saaep foi criada em 2009, quando a cidade tinha 75 mil habitantes. De lá para cá, 10 anos depois, viu o número de bairros passar de 22 para 123, onde habitam quase 300 mil habitantes.
“Não tinha essa quantidade de habitantes, não tinha Cidade Jardim, Parque dos Carajás, Amazon, Alto Bonito, Vila Nova. O prefeito vai entregar mais 2 mil lotes e as construtoras continuam construindo, não tem como parar. A gente vê as empresas grandes chegando e a cidade vai crescendo mesmo”, comentou.
Ele destaca que estão previstas melhorias, como extensão da rede, e destaca o Programa de Saneamento Ambiental, Macrodrenagem e Recuperação de Igarapés e Margens do Rio Parauapebas (Prosap), que será desenvolvido com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). “Temos agora o projeto, há falta de dinheiro? Não. E não apenas na questão do BID porque essas obras estão sendo iniciadas com recursos próprios e estamos entregando projeto para o final do ano e o ano de 2020”.
POÇOS SERÃO SUBSTITUÍDOS PELA REDE
Balduino relembra que há loteamentos em Parauapebas – como Amazon, Parque dos Carajás I e II, Cidade Jardim e Nova Carajás – abastecidos por poços artesianos e que esta época de estiagem colabora para haver falta de água. A Prefeitura Municipal, diz, está atuando para eliminar essa forma de captação.
“No Parque dos Carajás colocamos a rede agora, eliminando os poços. O Cidade Jardim tem 11 etapas e mais de 30 poços artesianos e nessa época não é só o rio que baixa o nível das águas, mas os lençóis freáticos da mesma forma. Os poços baixam, as bombas começam a queimar porque ficam no seco e nós temos que ir detectar a falha e dar manutenção. O trabalho triplica, mas temos projeto e iniciamos a solução para o Cidade Jardim, inclusive soltamos edital para licitação para fazermos igual no Parque dos Carajás. Vamos fazer 11 km de rede ali”, garante.
Em outros pontos, neste final de semana, explica, houve falta de água por serviço de correção da rede e também fechamento de válvulas para obras que estão ocorrendo no município. De acordo com os técnicos que acompanharam o vice-prefeito, diariamente o fornecimento é interrompido para realização de corte nas ruas, por duas ou três horas. Eles citam, ainda, o problema das ligações clandestinas que estão sendo verificadas.
SABOTAGENS SÃO IDENTIFICADAS CONTRA A SAAEP
Questionado sobre as finanças da autarquia, Balduino diz que a situação já esteve mais difícil para a pasta, até porque esta depende muito da arrecadação própria. “Mas claro que precisa de investimento para chegar na arrecadação e claro que o usuário tem as dificuldades dele, cada um para pagar suas contas. Em 2017 quando iniciamos nossa gestão foi um ano difícil para o município todo, foi uma busca para melhorar a CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais), para a arrecadação melhorar. Passamos a fase mais difícil e hoje tem mais investimentos, os projetos estão sendo executados. A Secretária de Obras e o Saaep vão estar trabalhando em grande serviço de macrodrenagem, água e esgoto”, garante.
Como se não fossem suficientes os problemas vividos pela população, o gestor diz que o Saaep é alvo frequente de sabotagens e ainda não descobriu de onde partem os ataques. “Tivemos casos no Amazon, Cidade Jardim, na 9ª etapa. Cortam cabos dos transformadores nas beiras dos poços, jogam as peças embaixo e fica faltando água até a gente detectar o problema, depois do morador reclamar. Teve sabotagem também em registro, um registro de ponta de quadra fechado. É pessoal com conhecimento, que sabe o que está fazendo, não é leigo. Querem denegrir a imagem da autarquia”, defende.
Sem citar nomes, Balduino diz acreditar que os atos partem de pessoas que têm interesse em cargos na autarquia. “Acho que é gente que tá pedindo para entrar e começa a criar problemas porque conhece e talvez até já esteve na pasta anteriormente. Isso tem prejudicado a população. Até descobrirmos que o registro está fechado aqueles moradores estão sem água por três ou quatro dias”, diz.
ARRECADAÇÃO DEVE AUMENTAR COM MUDANÇAS NAS COBRANÇAS
Para tentar aumentar a arrecadação e, consequentemente, os recursos da autarquia, está sendo remodelado o serviço de cobrança da taxa de água. É possível, por exemplo, renegociar as dívidas e agora o talão é impresso no momento da leitura, evitando que o usuário receba a cobrança após a data de vencimento.
“Estamos com equipe pra mudarmos toda a sistemática. Hoje tira-se a conta mais facilmente e os talões serão entregues no mesmo esquema da Celpa, com equipe grande pra entregar talão antes do vencimento. O sistema era arcaico, de 1980. A pessoa tinha que fazer a leitura, voltar no Saaep, jogar no sistema, tirar e voltar para entregar o boleto. Agora, com celular e impressora, será feira a leitura no local, imprimir e já entregar”, detalha.
Ele solicita à população que não tente fazer a ligação da água por conta própria, o que pode, muitas vezes, danificar o sistema. “Ele mesmo faz a ligação, sem comunicar ao Saeep, sem nada. A água suja o encanamento da residência toda, da quadra toda. Tivemos reclamação sobre a cor da água e quando fomos olhar descobrimos que uma construção pra cima sujou toda a rede, porque cortaram cano e a terra sujou tudo”, finalizou. (Luciana Marschall)