A fissura anal é uma laceração da margem anal, geralmente causada pela passagem de fezes endurecidas. A fissura está localizada perto da linha média posterior do ânus em 98% dos homens e 90% das mulheres.
Caracterizada por solução linear de continuidade do seu epitélio, com orientação longitudinal, associada frequentemente com hipertonia do músculo do esfíncter interno do ânus. Os sintomas são dor anal e sangramento, associados com a defecação. A fissura anal costuma ser causa de muito sofrimento para os pacientes, que acabam procurando precocemente o atendimento.
O diagnóstico clínico é feito pela presença da dor anal persistente por algumas horas após as evacuações, dificuldade de evacuação referida pelo paciente e também pelo relato de sensação de ferida no canal anal, que sangra esporadicamente com o esforço evacuatório. Na fase crônica, ela é acompanhada do plicoma sentinela e da papilite hipertrófica.
Leia mais:Ao exame físico podemos notar: queixa de dor intensa local; aparecimento de fissura ou úlcera distal à linha denteada; plicoma sentinela cutâneo na borda anal adjacente à borda distal da fissura; papilite anal hipertrofiada na borda proximal da fissura; espasmo do esfíncter interno (nos casos crônicos); sangramento às evacuações e repetidas alterações inflamatórias locais.
A inspeção cuidadosa do canal anal demonstra laceração linear, longitudinal, com bordos sobrelevados e cuja base é formada pelo músculo esfíncter interno do ânus, nos casos crônicos. Deve-se evitar o exame digital e a instrumentação do canal anorretal quando houver espasmo esfincteriano.
A hipertonia esfincteriana pode ser observada pela inspeção da fenda anal, com acentuado grau de fechamento, e pela contratura da musculatura circular subcutânea. Quando não for possível a realização do diagnóstico da afecção do canal anal pela presença de dor intensa e espasmo esfincteriano associado, a conduta mais adequada é o exame local sob anestesia com procedi mento operatório definitivo. Na ocasião, deve-se complementar o exame propedêutico do canal anorretal.
É necessário realizar diagnóstico diferencial entre fissura anal crônica e aguda. São sinais de fissuras específicas: o caráter superficial da lesão; a localização não habitual; a multiplicidade e a presença de secreção inflamatória local. As fissuras agudas são quase sempre de natureza traumática, com comportamento clínico diferente da fissura crônica, respondendo bem às medidas conservadoras.
O tratamento pode ser dividido em Clinico e em algumas situações até o Cirúrgico. A maior parte das fissuras cicatrizará com o tratamento clínico. Podem ser benéficos os medicamentos para diminuir a consistência das fezes, o aumento da ingesta de fibras e banhos de assento com água morna. Geralmente os supositórios não têm bons resultados.
Admite-se que até 70% dos pacientes com fissura anal tenham a lesão cicatrizada com o emprego de medidas conservadoras. Diversas substâncias têm sido testadas com objetivo de obter relaxamento medicamentoso do esfíncter anal medicamentoso. Vários produtos de aplicação local têm sido investigados para induzir a cicatrização da fissura.
Os baixos índices de cicatrização obtidos, a falta de acompanhamento a longo prazo e o aparecimento de efeitos colaterais têm limitado seu emprego. Por isso o tratamento Cirúrgico dependerá dos sintomas que persistem mesmo com o tratamento clinico. A indicação mais aceita para a maioria dos casos é representada pela cirurgia.
A esfincterotomia lateral subcutânea é a melhor opção cirúrgica, podendo ser realizada ambulatorialmente. O procedimento leva à interrupção do ciclo vicioso da dor, hipertonia esfincteriana e não cicatrização. A secção do músculo esfíncter interno do ânus deve ser feita ao longo de toda a extensão da fissura, preservando seu componente acima da linha pectínea.
* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.