“Ele tirou tudo, arrancou nossa alma de dentro do corpo, o coração, tirou tudo que um pai de família possa imaginar”. O lamento é do mecânico Raimundo Filho, tio de Walyson Leite da Silva, de 14 anos, responsável por socorrer o adolescente baleado na cabeça no sábado (23), durante comemoração do título do flamengo na final da Libertadores, em Parauapebas. O menino morreu na manhã de domingo (24) e o guarda municipal Genialdo Araújo Teixeira foi preso como principal suspeito do crime.
Conforme Raimundo, a família passou o dia em casa, onde assistiu ao jogo, e saiu para comemorar após o resultado. “Estava um dia muito alegre pra gente, estávamos em ritmo de comemoração na final da Libertadores, a criança estava super animada, estava super ansiosa, passamos o dia lá em casa brincando, assistindo jogo. Após a final do jogo, por volta das 20 horas, nos dirigimos para o centro da cidade e ficamos na ponta da calçada, ficamos na nossa turma, com as crianças, comemorando, eles vendo o movimento”, relata.
A família permaneceu próxima a um bar que havia transmitido a partida, na esquina da Rua E com a 10, no Bairro Cidade Nova. “Fazia umas duas horas que estávamos ali, o fato aconteceu pouco depois das 22 horas, então esse período que estávamos ali tava tudo tranquilo, todo mundo brincando, era só alegria. Fizemos a volta no meio do pessoal e todo mundo festejando, tranquilo”, relembra.
Leia mais:De acordo com ele, em determinado momento o filho dele, primo da vítima, viu uma pessoa armada e informou ao pai. “Meu filho falou: ‘pai, o homem passou com uma arma ali’. Olhei pro lado, chamei meu filho e perguntei o que ele viu, logo em seguida ele disse: ‘pai, tiro’!. Agarrei meus dois filhos no intuito de sair do local, tudo muito rápido, foi quando meu sobrinho veio a cair nos meus pés”, conta.
A partir disso, diz, houve confusão e muita gente se amontou próximo à vítima. “Pessoal por cima, a multidão querendo olhar, botei a mão no peitinho dele e senti o coração bater, pessoal caindo por cima, peguei ele com todo cuidado, coloquei nos braços, corri pro carro, botei no carro e levei pra emergência. Ele chegou com vida, foi atendido, aguardamos um tempo lá, mas o médico pediu pra gente ir pra casa, descansar, que não teria necessidade de a gente permanecer ali e que qualquer coisa ele avisaria, mas sabendo nós que pelo que vimos do projétil da arma, que entrou na cabeça, que não voltava mais o nosso Walyson”, lastima.
Em seguida, Raimundo diz que ele, o pai da vítima e uma pessoa que se envolveu em uma confusão com o guarda procuraram a 20º Seccional Urbana de Polícia Civil, onde prestaram depoimento. “Prestamos depoimento e fomos dispensados, aí viemos para casa e até o momento ninguém divulgou nada pra gente, ninguém veio aqui dizer o que está acontecendo. Estamos sabendo pelas redes sociais que ele foi preso e está sob custódia”.
Na tarde deste domingo, os advogados Raphael Pereira Maciel e Rayssa Chaves Mota, que representam o guarda municipal, emitiram nota na qual afirmam que o agente alega que estava em casa quando ocorreu o crime e sequer sabia do caso quando foi encaminhado para a delegacia. Sobre isso, o tio destaca que o caso ocorreu em local de grande movimentação, portanto há dezenas de testemunhas.
“O cara vai lá, mata meu sobrinho, destrói meu irmão, destrói a mim, destrói toda a nossa família e vai pra casa descansar? Dizer que tá tudo bem? Que não aconteceu nada? Todo mundo viu, tem fotos dele no local, tem as imagens das câmeras de monitoramento no local e eles dão esse esclarecimento para desumanizar mais ainda a nossa família? Dizer que esse rapaz estava em casa no conforto do lazer dele, descansando na folga? Justiça, queremos justiça e peço apoio da imprensa e de todos, da população, porque era só uma criança. Não estávamos lá para bagunçar, estávamos para brincar, estávamos sendo felizes”, declara.
Por fim, Raimundo desaba sobre o momento difícil pelo qual a família está passando. “A gente tava ali para festejar, não tava pra bagunçar, e até aquele momento não havia acontecido bagunça nenhuma, tudo tranquilo, tudo normal. Aí vem esse rapaz fardado, não que ele estivesse fardado no momento, falo assim por ele usar a farda, que era uma pessoa para ser treinada, capacitada antes de possuir arma, e do nada estraga nossa família. Estou tirando palavras aqui sem nem saber dizer, é difícil, são tantos por quês sem resposta, a gente não consegue entender, meu irmão tá acabado, a minha cunhada também”. (Luciana Marschall e Ronaldo Modesto)