“Quanto mais nós falamos sobre ansiedade, depressão e suicídio, melhor e mais eficaz é o tratamento. Tem cura. É preciso procurar ajuda. Não é falha de caráter ou fraqueza”. Para o médico psiquiatra Hermes Mariano de Almeida Prado, prevenir e tratar a depressão e outros distúrbios psíquicos o quanto antes é o melhor caminho. Ele, que é um dos profissionais da área mais conhecidos e respeitados em Marabá, atende no Caps III Castanheira, na Folha 31, mas também tem consultório próprio na cidade, onde recebe pacientes encaminhados principalmente por cardiologistas (que trata as doenças do coração), reumatologistas (articulações) e até neurologistas (cérebro).
Em conversa com a reportagem, Hermes Mariano expõe que ainda há forte estigma relacionado às doenças mentais no âmago da sociedade, inclusive essa abordagem foi tema de redação do recém-aplicado Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Antes de nós falarmos sobre estigma, é importante sabermos o que a palavra representa. No sentido concreto, significa uma marca, uma cicatriz. Já no sentido figurado, no sentido abstrato, é uma coisa indigna, desonrosa, tem um sentido negativo. Então, transferindo isso para a saúde mental, o paciente é muito estigmatizado, isto é, visto negativamente”, explica ele.
Na avaliação do psiquiatra, o tema precisa estar como pauta de discussão para que se torne comum entre as pessoas. Ele aproveitou o ensejo para destacar o papel do Enem em trazer a lume o debate sobre doença mental e preconceito. “Eu acho que isso [o tema das doenças mentais] tem de ser bastante trabalhado, pois quanto mais falamos sobre o assunto, mais normal fica e mais pessoas buscam tratamento. Os elaboradores deste Enem foram brilhantes na escolha do tema de redação”, elogia Hermes Mariano.
Leia mais:De acordo com Hermes, a depressão é uma doença sistêmica, complexa e multifatorial, ou seja: disseminada na coletividade, difícil de lidar e movida por uma gama de agentes. “Uma coisa que a gente tem que fazer é evitar o julgamento, porque não sabemos o que se passa na cabeça do outro. Eu acho que começa por aí. Precisamos romper o tabu em torno do tema. O estigma da depressão vem por conta de um preconceito arraigado nas pessoas. O preconceito, por sua vez, é um fenômeno cultural e antropológico”.
Hermes Mariano também esclarece que a depressão é uma doença do corpo inteiro e pode acompanhar o paciente ao longo da vida e acometer crianças, jovens e adultos. Ela é mais comum em pessoas com idades entre 24 e 44 anos. As causas da depressão são inúmeras e controversas. Genética, alimentação, estresse, drogas, entre outros fatores estão relacionados ao surgimento da doença. “É preciso falar sobre saúde mental, é preciso debater. O diagnóstico preciso é fundamental, por isso é importante procurar o profissional especializado e experiente”.
A família também possui papel fundamental no combate à doença. O entendimento da depressão também pode ajudar nas relações de trabalho e influenciar na melhoria da qualidade de vida dos profissionais no ambiente de trabalho. “A família certamente tem um papel fundamental na identificação do problema, mas eu vou além. A depressão, segundo estudos, é a segunda maior causa de afastamento do trabalho, só perdendo para as doenças que causam dores físicas. As empresas têm que investir na saúde mental do trabalhador para diminuir o número de afastamentos por incapacidade”, alerta o médico.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) relatam que o Brasil é o segundo país das Américas com maior número de pessoas depressivas, equivalente a 5,8% da população, atrás apenas dos Estados Unidos, com 5,9%. A depressão é uma doença que afeta 4,4% da população mundial. O Brasil também é o país com maior prevalência de ansiedade no mundo (9,3%). “Isso tende a aumentar se não abordarmos o tema. Outra coisa que eu acho que precisa acontecer é investimento maior no sistema de saúde para tratamento de pacientes com transtornos psiquiátricos”. Questionado sobre as recorrentes tentativas de suicídio na ponte sobre o Rio Itacaiúnas (foram três nas últimas semanas), Hermes Mariano ressalta que há um mito de que esse fenômeno está diretamente relacionado à depressão ou a algum transtorno mental. “Existem outros fatores, mais comuns, que levam a pessoa a tirar a própria vida. Histórico de falência ou doença estigmatizante, por exemplo. No Centro de Atendimento Psicossocial (Caps) temos um índice pequeno de pacientes que tentaram suicídio”, finaliza ele. (Da Redação, com Josseli Carvalho)