Correio de Carajás

E as nossas crianças?

E as nossas crianças?

Um número assustadoramente alto de crianças com menos de cinco anos está sofrendo as consequências físicas da má alimentação e de um sistema alimentar que está falhando com elas. O alerta é do Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a Infância. O novo relatório sobre a situação das crianças e adolescentes, sobretudo no Brasil – e particularmente no Pará – não é nada animador. Ele aponta que pelo menos, uma em cada três crianças com menos de 5 anos, cerca de 250 milhões no mundo, está desnutrida ou com sobrepeso.

Risco de morte

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Quase duas em cada três crianças entre 6 meses e 2 anos de idade não recebem alimentos capazes de sustentar o crescimento rápido de seu corpo e de seu cérebro. Isso coloca em risco o desenvolvimento cerebral delas, deixando-as sujeitas a dificuldades de aprendizagem, baixa imunidade, aumento de infecções e, em muitos casos, a morte. As tendências globais se confirmam no Brasil. O País passou por uma rápida transição demográfica, epidemiológica e nutricional que afetou o padrão de consumo alimentar e a saúde da população.

As mais vulneráveis

Nas últimas décadas, o Brasil reduziu significativamente a taxa de desnutrição crônica entre menores de 5 anos – de 19,6% em 1990 para 7% em 2006 -, atingindo, antes do prazo, a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Entretanto, a desnutrição crônica ainda é um problema em grupos mais vulneráveis, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2018, a prevalência de desnutrição crônica entre crianças indígenas menores de 5 anos era de 28,6%.

Obesas na escola

Os números variam entre etnias, alcançando 79,3% das crianças ianomâmi. Não existem dados nacionais mais atualizados sobre a taxa de desnutrição crônica entre menores de 5 anos para todas as crianças no Brasil. Ao mesmo tempo, aumenta progressivamente o consumo de alimentos ultraprocessados e a prevalência de sobrepeso e obesidade no Brasil. Uma em cada três crianças de 5 a 9 anos possui excesso de peso. Apesar da Política Nacional de Alimentação Escolar, a escola ainda é considerada um ambiente obesogênico, com lanches de baixo teor de nutrientes e alto teor de açúcar, gordura e sódio.

Comida pouco saudável

“No Brasil, como na maioria dos países da América Latina e do Caribe, crianças e adolescentes estão comendo muito pouca comida saudável e muita comida pouco saudável” afirma Florence Bauer, Representante do Unicef no Brasil. “Por causa disse, hoje há uma tripla carga de doenças, em que desnutrição, anemia e falta de vitamina A coexistem com o sobrepeso e a obesidade, associados a doenças crônicas não transmissíveis”, diz ela.

Rotulagem de produtos

Florence enfatiza que é preciso capacitar crianças, adolescentes e suas famílias para que exijam alimentos saudáveis e, por outro lado, exigir a regulamentação da informação nutricional dos alimentos. “O Unicef defende uma rotulagem frontal dos produtos, que esteja facilmente compreensível a todos”, salienta. Embora a amamentação possa salvar vidas, por exemplo, apenas 42% das crianças com menos de 6 meses de idade são amamentadas.

_____________________BASTIDORES____________________

* Um número crescente de bebês é alimentado com fórmula infantil, em vez da saudável amamentação. As vendas de fórmula à base de leite cresceram 72% entre 2008 e 2013 em países de renda média-alta.

* Em países como Brasil, China e Turquia, as fórmulas à base de leite cresceram em grande parte devido ao marketing inadequado e políticas e programas fracos para proteger, promover e apoiar a amamentação.

* Quando as crianças começam a fazer a transição para alimentos macios ou sólidos por volta dos 6 meses de idade, muitas são introduzidas no tipo errado de alimentação, de acordo com o relatório do Unicef.

* Em todo o mundo, quase 45% das crianças entre 6 meses e 2 anos de idade não são alimentadas com frutas ou vegetais. Quase 60% não comem ovos, laticínios, peixe ou carne.

* À medida que as crianças crescem, sua exposição a alimentos não saudáveis se torna alarmante.